segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Opinião: "Passe Livre"

Avaliação:

Título original: Hall Pass
Gênero: Comédia
Ano de lançamento: 2011
Direção: Peter Farrelly, Bobby Farrelly
Elenco: Owen Wilson
             Jason Sudeikis
             Jenna Fischer
             Christina Applegate
             Richard Jenkins
      Os irmãos Peter e Bobby Farrelly alcançaram o sucesso dirigindo filmes como "Débi & Lóide" e "Quem Vai Ficar Com Mary". Após um tempo fazendo filmes medianos, os dois voltam à sua melhor forma com a ótima comédia "Passe Livre".
      No filme, Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis) são dois homens de meia-idade, casados, mas que não conseguem conter seus instintos adolescentes de olhar para belas mulheres. Os dois imaginam que se fossem solteiros fariam de tudo, e conseguiriam a mulher que quisessem. Indignadas com as atitudes adolescentes de seus maridos, Maggie (Jenna Fischer) e Grace (Christina Applegate) decidem dar a eles um passe livre, que consiste em uma semana de folga do casamento, sem compromisso algum, para que ambos façam o que quiserem sem nenhum tipo de remorso.
       Assim como em "Débi & Lóide", os diretores apostam no constrangimento de seus protagonistas para fazer rir, como na cena da masturbação de Fred no carro, ou naquela que considero a melhor cena do filme, quando Rick e Fred zombam dos donos da casa que visitavam e de seus convidados sem ao menos imaginar que estavam sendo vistos e ouvidos. Mas se no filme estrelado por Jim Carrey os personagens principais divertiam por serem absolutamente retardados, aqui temos uma dupla mais experiente, com trabalhos fixos e um lar para sustentar, mas igualmente estúpida e hilariante.
       O longa é absurdamente engraçado, provocando gargalhadas do início ao fim. Fred mostra-se completamente sem noção (no bom sentido) ao chegar de carro a um bar e carregar consigo um capacete de motociclista, dizendo que "as gatas adoram motos". Os dois quarentões saem na noite em busca de mulheres, mas o esforço deles é frustrado pela sua total incapacidade de chegar em uma garota, usando de cantadas enferrujadas que parecem ter sido retiradas do programa do Rodrigo Faro, "O Melhor do Brasil", gerando mais momentos hilários.
      Talvez a maior força do filme esteja em usar algumas piadas várias vezes sem parecer forçado, fazendo com que elas tornem-se mais engraçadas a cada vez que são usadas, como as "fotos mentais" tiradas por Fred no início e por Rick perto do fim do filme. Ou quando Fred revela o "truque do sexo oral" em uma mulher para usá-lo mais tarde e causar uma briga na última cena. Outras cenas também merecem destaque, como por exemplo quando os protagonistas, acompanhados de alguns amigos, experimentam brownies preparados com maconha. Mas realmente inesquecíveis são as piadas escatológicas, como quando um personagem diz que tem que ir ao banheiro de casa porque sabe que depois tem que tomar banho, ou quando uma coadjuvante senta-se na banheira fazendo força para vomitar e acaba sujando toda a parede do banheiro após alguns "gases não controlados".
      O que torna os protagonistas tão frustrados e engraçados é o fato de não conseguirem ficar com mulher nenhuma mas mesmo assim sentirem remorso, ao passo que suas esposas curtem a semana de folga sem qualquer arrependimento, o que era a verdadeira premissa do "Passe Livre". Com um elenco inspirado e diretores mais inspirados ainda, o filme é a prova de que Peter e Bobby Farrelly não perderam o jeito das suas melhores comédias.


domingo, 16 de setembro de 2012

Opinião: "Cidadão Kane"

Avaliação:

Título original: Citizen Kane
Gênero: Drama, suspense
Ano de lançamento: 1941
Direção: Orson Welles
Elenco: Orson Welles
             Joseph Cotten
             Dorothy Comingore
             Agnes Moorehead

     É inegável a influência de "Cidadão Kane" no modo como se faz cinema atualmente. Pioneiro em vários aspectos, o longa de 1941 é uma marco na história cinematográfica, sendo considerado pelo American Film Institute como o melhor filme de todos os tempos. Mas o que torna esse filme tão aclamado? Quais os motivos para considerá-lo o melhor de todos?
      O filme começa com o já decrépito Charles Foster Kane (Orson Welles, impecável), dizendo sua última palavra antes de morrer: Rosebud. Em seguida, somos apresentados à vida de Kane em uma reportagem que falava de sua morte e de suas conquistas em vida, como a compra de vários jornais, sua entrada na política, seus dois casamentos frustrados e sua mansão megalomaníaca Xanadu, onde ele tinha um zoológico particular e uma coleção infindável de itens raros de todas as partes do mundo.
      Após essa introdução, tem início uma investigação minuciosa para tentar desvendar o que significava a última palavra proferida por Kane. Personagens importantes na vida de Kane são entrevistados, relatando sua vida, suas vitórias e seus fracassos. Rosebud acaba tornando-se apenas um pretexto para descrever com riqueza de detalhes a vida do magnata precursor da imprensa sensacionalista.
      A grandiosidade de "Cidadão Kane" está em seu principal personagem. Não é Charles Foster Kane, mas sim o ator que o interpreta: Orson Welles, então com 26 anos, que aqui acumula também as funções de roteirista e diretor, executando com maestria todas as três funções. Seu roteiro primoroso foi agraciado com o Oscar de Melhor Roteiro Original. Sua atuação é grandiosa, conferindo veracidade e peso a um personagem tão marcante. É interessante notar as mudanças na personalidade de Kane,que no início é um jovem cheio de energia e planos, mas com o passar do tempo torna-se amargo e distante, algo retratado com maestria por Welles.
      Mas Orson Welles consegue ser mais brilhante ainda na direção do longa. Mostrou estar à frente de seu tempo, influenciando os filmes até hoje. Para se ter uma ideia, "Cidadão Kane" foi o primeiro filme a usar flashbacks para contar sua história. E se comentei que em "A Conquista da Honra" os flashbacks enfraqueciam a narrativa, aqui eles são parte da história, sendo essenciais para o desenvolvimento da trama. Foi também o primeiro filme a ter uma narrativa não-linear, quando o filme começa do final e vai se desenvolvendo com saltos no tempo. Tecnicamente, Orson Welles também foi pioneiro. Seu filme usou planos de filmagem e movimentos de câmera inéditos para a época, influenciando produções até os dias atuais. A maquiagem de Welles é impressionante para a época, retratando com fidelidade cada fase de sua vida e tornando-o irreconhecível com o passar do tempo.
      É uma pena, portanto, que após esse filme tão maravilhoso, Welles não tenha conseguido emplacar nenhum outro sucesso. Tudo isso graças à influência negativa de William Randolph Hearst, magnata das comunicações da época que teria inspirado a história de "Cidadão Kane" e a composição do personagem principal. Vários pontos da vida de Hearst foram trazidos para a tela, como sua mansão megalomaníaca, seu modo sensacionalista de vender notícias, sua influência na política americana e outros detalhes que fazem do filme uma verdadeira biografia não-autorizada do empresário.
      Hearst fez com que várias portas se fechassem a Welles, obrigando o jovem diretor a se ocupar de produções menores. "Cidadão Kane" foi esquecido por muito tempo, até que foi redescoberto há algumas décadas e estudado com cuidado. Suas críticas à imprensa marrom e à influência dos poderosos são temas atemporais, fazendo com que o filme não envelheça. Hearst pode até ter feito com que Welles não tivesse tanto sucesso, mas certamente seu nome só é lembrado por sua associação com o gênio que foi Orson Welles. Se "Cidadão Kane" é o melhor filme de todos os tempos não cabe a mim decidir, graças a Deus, mas é inegavelmente um clássico que deve ser assistido por todos aqueles que amam a Sétima Arte.