terça-feira, 19 de março de 2013

Opinião: "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei"

Avaliação:

Título original: The Lord of The Rings: The Return of The King
Gênero: Aventura
Ano de lançamento: 2003
Direção: Peter Jackson
Elenco: Elijah Wood
             Ian McKellen
             Viggo Mortensen
             Sean Astin
             Liv Tyler
             Orlando Bloom

    Poucas são as trilogias que conseguem manter um nível de excelência em todos os seus filmes. Geralmente algo se perde no último capítulo, como na trilogia "Homem-Aranha", ou o início é insatisfatório, como na segunda trilogia de "Star Wars". Mas "O Senhor dos Anéis" é uma bela exceção. Foram três filmes, de três horas cada, absolutamente perfeitos de todos os pontos de vista.
       O terceiro longa começa mostrando a trágica história de Smeagle (Andy Serkis), ainda humano, encontrando o Um Anel e roubando-o de seu amigo. Passados alguns anos, vivenciamos a transformação dele de um humano comum na criatura que conhecemos nos longas anteriores. Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin) continuam em sua tenebrosa jornada para a destruição do anel. Gollum os leva por um caminho tortuoso, que serve para cansar ainda mais os viajantes e aumentar a tensão entre eles. A criatura consegue afastar de vez os dois hobbits, chegando a fazer com que Frodo expulse Sam de sua presença após um incidente com os alimentos do grupo. À medida que o tempo passa, Frodo fica mais irritadiço e estressado, devido à presença do Um Anel. Seu pescoço chega a ficar ferido pela corrente que segura o artefato, evidenciando assim o peso desse fardo. Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd) são encontrados por Gandalf (Ian McKellen), e levados à Rohan.
      Traído por Gollum, Frodo é levado à toca da Laracna, aranha gigante que vive na fronteira de Mordor. É uma das cenas mais apavorantes de toda a trilogia, principalmente para mim, que tenho certa aversão a esses aracnídeos. Longe dali, a espada pertencente a Isildur, antigo rei dos humanos, é restaurada e entregue a Aragorn, para que ele lidere um exército de fantasmas amaldiçoados na luta contra as forças de Sauron.
      Mesmo com todo esse enredo, "O Retorno do Rei" não é em momento algum chato ou arrastado. Muito pelo contrário. A sensação é de que faltou tempo para tanta história, devido à velocidade que sentimos tudo passar. A direção de Peter Jackson é mais uma vez magnífica, dando atenção aos mínimos detalhes. Apesar de ter várias narrativas diferentes ocorrendo ao mesmo tempo, Jackson confere personalidade e importância a cada uma delas, sem jamais deixar uma de lado para favorecer a outra. Todos os lados da história são mostrados com a mesma intensidade. Os planos filmados pelo diretor tornam tudo ainda mais épico, desde a linda tomada aérea da cidade de Minas Tirith até o planos abertos da impressionante batalha de Pellenor, uma das melhores batalhas de todos os tempos. A montagem é magnífica, o que permite que acompanhemos o desenrolar de tudo sem perder nenhum detalhe.
     O elenco formidável dá alma à história. Elijah Wood compõe Frodo com ainda mais emoção e carga dramática, fazendo-nos sentir junto com ele o peso do Um Anel. Sean Astin interpreta Sam de forma emocionante, mostrando preocupação real com o destino que assola seu companheiro hobbit. Ian McKellen nos mostra Gandalf ainda mais imponente e senhor da situação, chegando até mesmo a burlar as regras de um líder para que a Terra-Média seja salva. E se o trio composto por Aragorn, Legolas e Gimli convence muito como os braços fortes por trás da batalha, é de um boneco digital que vem a "atuação" mais impressionante: novamente com a voz do ótimo Andy Serkis, Gollum/Smeagle é o melhor personagem de toda a série, usando de artifícios como a falsa amizade para se aproximar de Frodo e roubar-lhe o anel. É uma criatura perturbada, dependente do artefato, e brilhantemente construída durante esses três longas.
      Tudo isso sem esquecer o importante elenco secundário, que confere ainda mais riqueza à narrativa. Temos Denethor (John Noble), o regente de Gondor, como um líder louco que não pretende entregar o trono a Aragorn enquanto estiver vivo. Éowyn (Miranda Otto), sobrinha do rei Théoden, demonstra sua força de vontade desde o início, mas principalmente na batalha, onde se disfarça de homem e derrota "aquele que nenhum homem poderia derrotar". Faramir, interpretado por David Wenham, sofre por não ser amado por seu pai, e obedece sua loucura apenas para conquistar seu respeito. Não posso deixar de citar o lindo trabalho de Liv Tyler como Arwen, que toma uma dolorosa e importante escolha.
      Mais uma vez, a parte técnica de "O Senhor dos Anéis" é magnífica. Gollum está ainda mais real. Os efeitos especiais da batalha são de deixar qualquer um boquiaberto, principalmente a composição dos olifantes e do exército dos mortos. Sem deixar de comentar, claro, a terrível Laracna, apavorantemente real e assustadora. A maquiagem premiada está outra vez primorosa, compondo personagens perfeitos do ponto de vista técnico, incluindo aí hobbits, orcs, elfos, guerreiros, etc.
      A fotografia, também premiada, é mais uma vez épica. Desde o tom branco de Minas Tirith, passando pelo cinza de Osgiliath e chegando à escuridão que aumenta à medida que chegamos mais perto da Montanha da Perdição, a equipe de Jackson nos entrega um trabalho fabuloso. A mesma fotografia capaz de nos deixar tensos à caminho da destruição do Anel também nos alivia ao chegarmos ao Condado, quando avistamos as cores vibrantes, a linda grama impecavelmente verde e o céu claríssimo. Ao chegar ali, imaginamos que os habitantes do Condado nem chegaram a imaginar o que houve longe dali, dada a paz vivida por eles após todos os acontecimentos.
      Vencedor de 11 Oscars, "O Retorno do Rei" encerra a trilogia de "O Senhor dos Anéis" de forma perfeita. Impossível não viver a aventura junto com os pequeninos hobbits, ou as batalhas enfrentadas por Gandalf, Aragorn, Legolas e Gimli. Impossível não se apaixonar pelos personagens criados por J. R. R. Tolkien e trazidos fielmente à tela grande por Peter Jackson, que conseguiu transformar o antes infilmável em uma obra digna de figurar entre as melhores da História do Cinema. Como eu disse na crítica de "A Sociedade do Anel", como é bom voltar à Terra-Média. Sempre que possível, faça o mesmo. É algo revigorante, que compensa e muito nosso amor ao Cinema.


domingo, 3 de março de 2013

Opinião: "As Aventuras de Agamenon, o Repórter"

Avaliação:

Título original: As Aventuras de Agamenon, o Repórter
Gênero: Comédia
Ano de lançamento:2012
Direção:  Victor Lopes
Elenco: Hubert
            Luana Piovani
            Marcelo Adnet
            Marcelo Madureira

      "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" é, com toda a certeza, o pior filme brasileiro que já assisti. Sei que não começo meus comentários assim, direto ao ponto, mas não tive ainda a honra de assistir algo pior feito em nosso país. O filme conta a história de Agamenon Mendes Pedreira, repórter do jornal "O Globo" que... Bem... Qual é o roteiro? Deixa eu ver se consigo extrair alguma coisa daqui... Agamenon, inicialmente interpretado por Marcelo Adnet é repórter, vai à guerra e sofre graves deformações, passando a ser interpretado por Hubert, do Casseta & Planeta. Depois disso, e antes também, é uma sucessão de piadas infames e situações vergonhosas. E é isso. Sem início convincente, sem rumo, sem um caminho a seguir.
      O filme utiliza de uma narrativa em forma de falso documentário para dar um ar de realismo. Algumas cenas são gravadas como em "Forrest Gump", onde o protagonista participa de importantes momentos na História. O documentário é apresentado por Pedro Bial em uma de suas participações mais vergonhosas em frente às câmeras (sim, superou Big Brother). A "história" do protagonista é narrada por uma das maiores atrizes nacionais de todos os tempos: Fernanda Montenegro, emprestando sua importante voz a esse projeto infame.
      No desenrolar da "história", há personagens importantes da história brasileira fazendo declarações sobre Agamenon. Mais inacreditáveis do que os dois artistas citados acima são as participações especiais de, acreditem, Fernando Henrique Cardoso e Paulo Coelho. Difícil acreditar que tais pessoas tenham lido o "roteiro" e aceitado participar desse desastre. Por mais que o cachê fosse bom, não valeria à pena manchar a sua reputação com um projeto tão infame.
      Há um sem-número de piadas sem graça, tiradas escatológicas ridículas, nomes de personagens com duplo sentido e trocadilhos vindos da década de 1990, quando o Casseta & Planeta era uma novidade. O público consumidor de humor no Brasil mudou, ficou mais exigente, e o programa de Marcelo Madureira e cia. não acompanhou essa evolução. Deveriam se espelhar na ótima turma do "Porta Dos Fundos", que faz vídeos realmente engraçados sem utilizar piadas batidas do século passado ou nomes de pessoas como Jacinto Leite Aquino Rego...
      Além das piadas sem graça, há ainda a falta de bom senso. O filme é capaz de fazer piada com a morte da princesa Diana, com os atentados de 11 de setembro de 2001 e com o terrível tsunami que assolou a Indonésia no final de 2004. Tudo isso sem um pingo de remorso ou consideração com quem sofreu tais tragédias. Sei que há o humor negro, mas esse humor utilizado no filme passa muito longe disso. Isso sem citar as importantes figuras históricas já falecidas que têm suas imagens vinculadas ao filme de maneira vergonhosa, como Albert Einstein, Sigmund Freud, Mahatma Gandhi e Orson Welles. Demonstram tanto conhecimento de cinema que mostram esse último personagem dizendo apenas uma palavra várias vezes: Rosebud, a palavra-chave de "Cidadão Kane", como se fosse a única coisa memorável dessa obra magnífica.
      Por fim, "Agamenon" é uma terrível perda de tempo. Sua curtíssima duração passa como se fossem quatro horas de filme, tamanha sua ridicularia. É extremamente cansativo. Se você está procurando uma comédia engraçada, não é aqui que vai encontrar. Não faço uso de bebidas alcoólicas, mas tenho ressaca, sim, no dia seguinte à assistir uma temeridade dessas.