segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Opinião: "X-Men: Primeira Classe"

Avaliação:




Título original: X-Men: First Class
Gênero: Aventura, ficção científica
Ano de lançamento: 2011
Direção: Matthew Waughn
Elenco: James McAvoy
            Michael Fassbender
            Jennifer Lawrence
            Kevin Bacon
 
      Existe uma sociedade onde minorias são perseguidas, atacadas e oprimidas pelos humanos que se julgam normais, humanos que consideram os "diferentes" como sendo inferiores, ou por agirem de forma "errada", como se tivessem escolhido viver dessa maneira, sem pensar que essa minoria perseguida também é normal, humana. A classe dominante, em maior número, age com ódio e racismo, excluindo os "diferentes" de seus grupos sociais. Não, eu não estou falando dos negros, gays, ateus, ou qualquer outra minoria, por mais que possam claramente ser identificadas com as frases acima. Estou falando dos mutantes, brilhantes criações de Stan Lee e Jack Kirby na década de 1960, auge da luta pelos direitos dos negros nos EUA. A criação desses heróis dos quadrinhos refletia a época de insegurança vivida pelos negros, relegados à margem da sociedade americana, e ecoa até hoje, com qualquer minoria que se possa considerar.
      O que nos leva a "X-Men: Primeira Classe", quinto filme da franquia dos mutantes nas telonas.Os três primeiros longas retrataram bem o racismo e a busca pela aceitação dos mutantes na sociedade, algo que fora deixado de lado no quarto, "X-Men Origens: Wolverine", mas que retorna com força total no longa de 2011. Logo de início, já podemos traçar um paralelo com a perseguição às minorias, quando vemos nazistas subjugando judeus nos campos de concentração. A cena, idêntica à do primeiro longa, mostra Eric Lensherr sendo separado de seus pais e dando as primeiras demonstrações de seus poderes magnéticos. Já crescido, Lensherr (Michael Fassbender) segue uma vida de ódio, perseguindo os nazistas e buscando a todo custo o responsável pela morte de seus pais.
      Paralelamente a isso, temos Charles Xavier (James McAvoy) na sua tenra juventude, como um jovem galanteador, inteligente, com longos cabelos e ainda andando com suas próprias pernas. É aí que se encontram os dois antagonistas:  Eric entende que os diferentes como ele não são aceitos na sociedade, e tem como objetivo o rompimento total com a raça humana, enquanto Xavier busca o entendimento entre as duas "raças", querendo usar o embate ideológico em vez do embate físico. Os dois buscam a mesma coisa, a aceitação da espécie mutante, mas idealizam meios diferentes para alcançarem tal ideal.
       Xavier e Eric tem um inimigo em comum: Sebastian Shaw (Kevin Bacon), um mutante ganancioso, capaz de absorver qualquer tipo de energia, e que pretende deflagrar uma guerra entre EUA e União Soviética para dominar o que sobrar do mundo depois do combate. Foi inserido aqui um acontecimento real, a crise dos mísseis de Cuba, nos anos 1960, misturando mais ainda ficção e realidade.
      Além do ótimo roteiro, escrito por seis pessoas (algo que raramente dá certo), o filme é repleto de aventura da melhor qualidade. O diretor Matthew Waughn, responsável pelo também ótimo "Kick Ass - Quebrando Tudo", comanda otimamente as cenas de ação, sem cair no lugar-comum, e os efeitos visuais impecáveis são de encher os olhos. O humor também tem seu espaço, como quando Hank McCoy pergunta se Xavier não quer raspar o cabelo, ou quando os mutantes mais jovens fazem brincadeiras com seus poderes na base militar. Interessante, também, é a cena na qual Raven sugere os nomes dos mutantes, mas a cena mais impagável de todas é a breve aparição de Wolverine (Hugh Jackman), que, com uma frase, é capaz de arrancar gargalhadas.
      Mas o carro-chefe de "X-Men: Primeira Classe" é a riqueza de seus personagens. Jennifer Lawrence, por exemplo, nos traz uma jovem Raven/Mística sincera, brincalhona, mas temerosa com a falta de aceitação da sociedade. Por ter o poder de se tornar qualquer pessoa, ela prefere mostrar sua aparência humana a aceitar o fato de que é, na verdade, uma mulher azul e escamosa, o que, ao seu ver, assusta os humanos. Xavier está em paz com seus poderes, e seu dom de professor fica evidente ao treinar seus colegas para enfrentar os inimigos. E, acima de tudo, é empolgante ver que um homem tão responsável, talvez o mais sensato dos X-Men, tenha tido uma juventude normal, com eventuais bebedeiras e paqueras.
      Os outros mutantes também são personagens ricos, com seus medos e inseguranças, exceto Azazel, mutante em forma de demônio que tem duas ou três falas, no máximo, servindo apenas como o capanga do vilão. Mas o mais admirável é, sem dúvida, Eric Lensherr, o Magneto. Michael Fassbender, assim como Ian McKellen, consegue retratar todas as nuances do personagem, que por mais que seja cruel e explosivo, pode ter todas as suas atitudes justificadas de acordo com o sofrimento ao qual já fora sujeitado. É por isso que Magneto, ao meu ver, não é um vilão, mas sim um mutante sofrido, que busca a vingança como modo de aplacar a perseguição sofrida por toda a vida.
      Para finalizar, "X-Men: Primeira Classe" pode ser considerado o melhor filme dos mutantes até aqui, já que une de maneira excepcional a aventura característica dos filmes de super-heróis com o debate pelo respeito às minorias. Com certeza, um entretenimento de altíssimo nível.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Opinião: "Os Croods"

Avaliação:

Título original: The Croods
Gênero: Animação
Ano de lançamento: 2013
Direção: Kirk DeMicco
             Chris Sanders
Elenco: Nicolas Cage
            Ryan Reynolds
            Emma Stone
            Catherine Keener


      Se há algo comum a todos os filmes produzidos pela DreamWorks Animations é o carisma de seus personagens. O estúdio responsável pelas franquias de sucesso "Shrek", "Madagascar" e "Kung Fu Panda" tem, assim como sua concorrente Pixar, a capacidade de entreter a todos os públicos, sem mirar num alvo específico. Seus longas agradam tanto aos baixinhos quanto aos altinhos, e com "Os Croods" não poderia ser diferente.
      O longa se passa em plena Idade da Pedra, onde o pai de família Grug (dublado por Nicolas Cage no original) defende sua família o quanto pode, incutindo na mente de seus protegidos que a caverna é segura, o mundo é perigoso e o "novo é ruim". (Pode-se aí fazer uma ligação com a superproteção a qual alguns pais submetem seus filhos, onde mesmo querendo sempre o melhor para eles, acabam privando-os da diversão e das descobertas. Não que o liberalismo seja bom, já que conhecemos muitos casos em que pais mantiveram "rédeas soltas" com seus filhos na infância e acabaram perdendo o controle em seguida, mas avalia-se que deve haver um equilíbrio natural entre o "proteger" e o "liberar"). É quando a filha mais velha, Eep (Emma Stone), começa a se perguntar sobre o que há lá fora à noite, e acaba descobrindo Guy (Ryan Reynolds), um jovem que a alerta sobre o "fim do mundo".
      O filme tem belas sacadas sobre a evolução humana, como a diferença entre o pensamento primitivo dos neandertais (Grug e sua família) e a criatividade do homo sapiens Guy), lembrando ainda do controle do fogo e dos primeiros animais de estimação. Nesse quesito, também, há o fim do mundo ao qual Guy se refere, que nada mais é do que a separação da Pangeia e a formação dos continentes como conhecemos hoje. Além disso, a produção cria cenários deslumbrantes e muito diferentes entre si, como a "selva de pedra" onde os protagonistas residiam inicialmente e a floresta colorida descoberta no segundo ato, que traz uma vasta gama de animais selvagens um pouco (mas não muito) diferentes dos que hoje existem.
      Mas se há algo que não falta em "Os Croods" é a aventura. A jornada dos personagens em busca de um novo lar é empolgante, movimentada, não deixando a desejar nem na ação e nem na animação em si, completamente fluida e de encher os olhos. Aqui, incluem-se as caçadas comandadas por Grug, estratégicas, usando até princípios do futebol americano, e as várias cenas de perseguição protagonizadas por felinos gigantes. O humor, como não devia deixar de ser, está presente em abundância, seja na implicância do genro com a sogra, ou no vício das mulheres por sapatos (desde a Idade da Pedra, como sugere o filme), não esquecendo, é claro, de Braço, uma preguiça carismática e hilária, que por vezes serve de cinto a Guy.
      Em suma, "Os Croods" é, como quase todos os filmes da DreamWorks Animations, uma animação muito bem feita, que diverte e agrada na medida certa, sem deixar a peteca cair e sem deixar a chama do humor se apagar. Espero que o estúdio continue sendo responsável por longas divertidíssimos como esse, e como "Megamente", "Como Treinar seu Dragão", "Bee Movie", Por Água Abaixo"... E por aí vai.