segunda-feira, 30 de julho de 2012

Opinião: "Conan, o Bárbaro"

Avaliação:

Título original: Conan the Barbarian
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2011
Direção: Marcus Nispel
Elenco: Jason Momoa
            Rose McGowan
            Rachel Nichols
            Stephen Lang
            Ron Perlman

      Baseado na obra literária de Robert E. Howard, o personagem Conan foi adaptado ao cinema em 1982, com um filme estrelado por um até então desconhecido Arnold Schwarzenegger. O longa teve um relativo sucesso, arrecadando o triplo de seus custos de produção e gerando uma continuação no ano seguinte. Depois disso, nunca mais se ouviu falar no bárbaro cimério sem camisa que destruía meio mundo com uma espada. Até 2011, quando foi lançado o remake "Conan, o Bárbaro", estrelado por Jason Momoa.
      O longa já começa em uma batalha. Ali nasce Conan, com o parto sendo feito por seu pai Corin (Ron Perlman), e sua mãe morrendo logo em seguida. O garoto é criado pelo pai, líder da aldeia e mentor de seus treinamentos para se tornar um guerreiro. É aí que aparece Khalar Zym (Stephen Lang), que quer juntar peças de uma máscara que pode lhe dar poder absoluto para que ele possa ressuscitar sua esposa. Corin, que detém uma das peças, resiste a entregá-la a Khalar Zym, sendo assassinado após uma terrível tortura. Conan foge e passa a viver como um guerreiro solitário, em busca de vingança contra o assassino de seu pai.
      Marcus Nispel é "especialista" em refilmagens. São dele os remakes de "O Massacre da Serra Elétrica" (2003) e "Sexta-Feira 13" (2009). Em "Conan", Nispel entrega uma obra irregular, com violência gratuita e uma roteiro nulo, quase inexistente. O fiapo de história é um pretexto para batalhas intermináveis que permeiam toda a duração do filme, o que torna a experiência cansativa. Os diálogos fraquíssimos entregam a fragilidade da película, anulando qualquer possibilidade de conflito psicológico ou o mínimo que seja de tridimensionalidade dos personagens. Tudo é muito estereotipado: temos o guerreiro incansável, a mocinha indefesa, o vilão que quer dominar o mundo.
      A direção de Marcus Nispel é confusa. Tenta criar uma atmosfera épica, nunca convencendo como tal. O começo é até promissor, quando somos apresentados ao jovem Conan em seu treinamento na neve, mas em seguida se perde ao adotar um tom genérico de ação. As cenas são mal filmadas, variando do absurdo ao bizarro. Desde o parto no meio da guerra até as intermináveis lutas do imbatível personagem-título, tudo é muito exagerado, tornando-se cansativo do meio do filme em diante. É absurdo como Conan consegue fazer jorrar sangue de praticamente todos seus inimigos, até mesmo daqueles que usam pesadas armaduras ou que caem de costas em uma pedra.
      A condução da história também é decepcionante. A falta de ritmo é gritante, comprometendo a condução da história. "Conan" não consegue se salvar nem mesmo no básico, suas cenas de ação, que são fracas e confusas. Dificilmente o herói é realmente ameaçado por seus adversários, por mais que estejam em maioria ou utilizem mais armas que ele. O romance entre Conan e Tamara é completamente descartável, podendo ser excluído da trama sem comprometê-la mais ainda. Mas o que mais decepciona é a condução dos personagens. Nunca tememos pelo destino deles, já que não conseguem nos passar emoção, surgindo completamente unidimensionais.
      Tecnicamente falando, pouco se salva do novo Conan. Adotando uma estética suja, a fotografia cria um tom com poucas cores. Alguns cenários são bem compostos, exceto os que denunciam o uso de tela verde, soando completamente artificiais. Os efeitos especiais são ruins, assim como a direção de arte. Tudo parece ter sido tirado das séries de Hércules e Xena. A trilha sonora é chata, tornando-se esquecível momentos após a projeção.
      As atuações são outro ponto negativo do longa. Jason Momoa não convence como o guerreiro cimério, criando trejeitos difíceis de engolir, como o olhar de baixo para cima e a voz forçadamente rouca. Stephen Lang pouco faz como Khalar Zym, praticamente repetindo suas várias atuações como vilão, sem conseguir soar no mínimo ameaçador ao herói. Rachel Nichols surge praticamente dispensável como o interesse romântico de Conan, entregando uma atuação razoável, praticamente no piloto automático. Já Rose McGowan cria Marique, a filha bruxa de Khalar Zym, como uma personagem exagerada, com maneirismos absurdos e inverossímeis.
      Aliando (d)efeitos especiais fracos e direção confusa, "Conan, o Bárbaro" não convence como filme de ação, muito menos como filme épico. Poderia muito bem ter sido lançado diretamente em dvd, poupando os espectadores de pagarem mais caro perderem seu tempo assistindo no cinema. Mais um pro hall dos esquecíveis.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Opinião: "Busca Implacável"

Avaliação:

Título original: Taken
Gênero: Ação, policial
Ano de lançamento: 2008
Direção: Pierre Morel
Elenco: Liam Neeson
            Maggie Grace
            Famke Janssen
            Xander Berkeley

      "Busca Implacável" é o típico filme surpreendente. À primeira vista pode parecer um simples filme de ação descerebrada, o que de certa forma é. Mas o que o diferencia da grande maioria de filmes do gênero é seu ritmo intenso. Durante a projeção, o espectador mal tem tempo para respirar entre uma cena e outra, elevando a adrenalina a níveis surpreendentes. O roteiro escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen não é dos mais surpreendentes ou complexos, mas é a direção enérgica de Pierre Morel, responsável por "13º Distrito", que dá o tom à narrativa.
      Partindo do princípio quase genérico do pai que quer conquistar o amor da filha, o longa começa em uma festa de aniversário onde somos apresentados ao agente aposentado do governo Brian Mills (Liam Neeson). Sua filha Kim (Maggie Grace), a aniversariante, nutre um certo apreço pelo pai, mas parece gostar mais do padrasto ao dizer que o ama após um presente, deixando Brian entristecido. Após uma certa relutância dos pais, Kim parte com uma amiga para Paris, onde é sequestrada por um grupo responsável por tráfico de mulheres. Enfurecido, Brian decide partir em busca da filha, usando de todas as suas habilidades como ex-agente para chegar até os criminosos.
      Usando a ação ininterrupta para compensar o escasso roteiro, o longa se sai bem se desculpadas algumas falhas e coincidências convenientes, como o personagem de Neeson identificar um suspeito apenas pelo reflexo em uma foto de qualidade mediana. As coincidências plantadas no roteiro são até passíveis de perdão, se o espectador tiver boa vontade e quiser aceitar o filme como diversão passageira. Mas o que incomoda um pouco no longa é a caracterização de Maggie Grace como Kim, uma adolescente de 17 anos. Sua personagem é inverossímil, visto que sua aparência em nada remete a uma garota que ainda não atingiu a maioridade. Sua atuação também não é das mais empolgantes, resumindo-se em feições fragilizadas e gestos incondizentes com sua idade.
      Os aspectos técnicos são medianos. A montagem é por vezes confusa, principalmente na perseguição em uma obra. Ficamos sem entender o que está acontecendo, não sabendo quem está levando a melhor e quem está correndo algum risco. A fotografia acerta em conferir tons escuros e sujos aos subúrbios das capitais européias por onde Brian passa, remetendo ao caráter dos personagens que ali se escondem. Mas o que realmente confere personalidade ao filme é a direção de Pierre Morel. Mostrando intensidade do início ao fim, o longa nos concede poucos momentos de sossego, não economizando nas cenas de ação bem coreografadas. Realmente acreditamos em tudo que Liam Neeson é capaz de fazer, graças a seu preparo e aos ângulos certos do diretor.
      Mas são a vontade e a entrega do protagonista que fazem de "Busca Implacável" uma surpresa do gênero. Sem parecer cansado ou preguiçoso, Neeson se dedica completamente ao filme, com uma energia de dar inveja a qualquer garotão. Apesar de seus muitos anos de idade, convence bastante como o ex-agente. Seu personagem é praticamente um Bourne com mais idade. Sua atuação como o herói improvável no alto de seus cinquenta e poucos anos surpreende bastante, principalmente nas cenas de luta e nas perseguições. Ele interpreta bem o homem que quer derrubar meio mundo para salvar a filha das mãos de traficantes de mulheres.
      Graças à sua duração relativamente curta (93 minutos), o longa nunca se torna cansativo, mantendo o ritmo e a energia do início ao fim. Ao final da projeção, sente-se um certo vazio pela falta de uma história mais consistente, mas a ação e a adrenalina fazem valer o tempo gasto. Ponto para o diretor, que conseguiu criar uma ação descerebrada de forma competente e enérgica.


domingo, 22 de julho de 2012

Opinião: "Um Parto de Viagem"

Avaliação:

Título original: Due Date
Gênero: Comédia
Ano de lançamento: 2010
Direção: Todd Philips
Elenco: Zack Galifianakis
            Robert Downey Jr.
            Jamie Foxx
            Michelle Monaghan
      "Se Beber Não Case", ótima comédia de 2009, foi um grande sucesso de bilheteria, que alçou o diretor Todd Philips e o ator Zack Galifianakis ao estrelato. Os dois voltam a trabalhar juntos nesse "Um Parto de Viagem", acompanhados da presença ilustre de Robert Downey Jr. vivendo o auge de sua carreira como o Homem-de-Ferro e Sherlock Holmes. Tudo para dar certo, não? Não. O resultado é um filme mediano, que se torna até decepcionante se considerarmos a equipe citada acima.
      Sabe aquela história de que duas cabeças pensam melhor do que uma? Não considere isso em roteiros de cinema. Quanto mais roteiristas envolvidos, maior a chance de a história se tornar uma colcha de retalhos. Cada um quer dar a sua ideia, por mais estapafúrdia que seja, e os outros se vêem na obrigação de aceitá-la, para ter argumentos de acrescentar sua ideia estapafúrdia logo em seguida. Provavelmente isso aconteceu nesse longa, que cria uma situação absurda em cima da outra para criar humor, conseguindo por poucas vezes.
      É um típico road movie vazio, onde a viagem que permeia toda a história é utilizada como ponto de fuga para esconder os furos da trama. Peter Higman (Robert Downey Jr.)é um arquiteto bem-sucedido que precisa pegar um voo para acompanhar o nascimento de seu primeiro filho. Mas tudo começa a desandar quando ele conhece Ethan Tremblay (Zack Galifianakis), um aspirante a ator viciado em maconha que quer ir atrás de seus sonhos em Hollywood. Após uma série de confusões, Peter é expulso do avião e se vê obrigado a pegar carona com Ethan para voltar para casa, uma vez que fica proibido de entrar em qualquer avião e ainda por cima perde sua carteira.
      O longa começa cumprindo bem seu papel como comédia. As piadas e situações do primeiro ato são hilárias, aumentando a expectativa para que com o decorrer do tempo a qualidade aumente. Mas "Um Parto de Viagem" não cumpre o que promete, e é a partir do segundo ato que a colcha de retalhos citada anteriormente é jogada na tela. Os personagens passam por situações embaraçosas, de vergonha alheia, uma após a outra. O ritmo, antes maravilhoso e empolgante, cai vertiginosamente, causando sono em algumas cenas. Por vezes as gags (situações cômicas) soam forçadas, tentando extrair risos de onde não há a mínima possibilidade de isso acontecer.
      Robert Downey Jr. interpreta bem o papel do arquiteto forçado a pegar carona com um maluco desconhecido. E o menosprezo pela pessoa de Ethan é cada vez mais visível em seu rosto a cada burrada que esse comete. Zack Galifianakis não consegue soar no mínimo razoável na criação de seu personagem, uma vez que parece estar repetindo o sujeito que interpretou em "Se Beber Não Case", mantendo até a mesma barba cheia e cerrada.
      Mas o maior erro é do diretor Todd Philips. Conduzindo uma história com pouca originalidade, Philips acaba por tornar a experiência maçante, por vezes monótona. Tenta repetir clichês do gênero como um capotamento após um cochilo ao volante ou a "dupla que não se suporta mas que começa a nutrir afeto um pelo outro sem qualquer motivo aparente". Apostando no politicamente incorreto por diversas vezes, como uma luta com um cadeirante ou o consumo de drogas, o diretor tenta causar impacto, mas acaba por gerar repulsa pelos absurdos consecutivos. Tendo um terceiro ato que visa amarrar o relacionamento entre Peter e Ethan, forçado apenas para terminar a história, o filme acaba se salvando um pouco graças à corrida dos dois para chegar a tempo do parto, após uma fuga da polícia mexicana.
      O longa não é completamente descartável. Tem momentos realmente inspirados, principalmente no início. Mas ao tentar repetir o sucesso de seu primeiro filme grande, o diretor acaba por se perder justamente na tentativa daquilo que define um filme de comédia: fazer rir. Algo que voltaria a acontecer em "Se Beber Não Case 2".


sábado, 21 de julho de 2012

Opinião: "O Espetacular Homem-Aranha"

Avaliação:

Título original: The Amazing Spider-Man
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2012
Direção: Marc Webb
Elenco: Andrew Garfield
            Emma Stone
            Rhys Ifans
            Sally Field
            Martin Sheen

      Já se passaram dez anos desde que o primeiro filme do herói aracnídeo foi lançado. Desde então, foram feitas mais duas continuações dirigidas por Sam Raimi: o ótimo "Homem-Aranha 2" e o mediano "Homem-Aranha 3". Por causa de divergências criativas com a produtora, o diretor decidiu abandonar o projeto de uma nova continuação, mas a Sony não desistiu do filme e escalou Marc Webb para dar um recomeço na saga do herói dez anos após o lançamento do original. O diretor, que só havia dirigido um longa, "(500) Dias com Ela", aceitou a proposta e nos apresentou uma nova origem do Homem-Aranha nos cinemas.
      Antes de assistir a "O Espetacular Homem-Aranha" deixe de lado os filmes anteriores, pois só assim será possível ter uma experiência satisfatória, livre de comparações ou preferências. Na trama, Peter Parker, com quatro anos, passa a morar com seus tios May (Sally Field) e Ben Parker (Martin Sheen) após seus pais o deixarem por motivos obscuros. Anos mais tarde, Peter (Andrew Garfield) vê sua vida mudar após ser picado por uma aranha geneticamente modificada. Ele desenvolve habilidades como escalar paredes, força descomunal, agilidade fora do comum e um sexto sentido aguçado, chamado nos quadrinhos de "sentido-aranha". Após ver a morte de um ente querido, ele passa a combater o crime em Nova York disfarçado como o Homem-Aranha.
      Peter descobre uma ligação entre o doutor Curt Connors (o ótimo Rhys Ifans) e seu pai. Sabendo disso, ele decide se aproximar do cientista para tentar descobrir mais sobre os projetos de seu pai, e acaba resolvendo a equação de uma fórmula que poderia curar pessoas amputadas. Tendo como principal lema a visão de que os seres humanos com deficiência acabam de certa forma excluídos da sociedade, Connors quer ajudá-los a recuperar membros perdidos a fim de criar um mundo mais justo e humano. Mas o soro não sai como o esperado, e Connors, obrigado a testá-lo em si mesmo antes de ver o resultado em cobaias, acaba desenvolvendo uma aparência monstruosa, tornando-se o Lagarto.
      "O Espetacular Homem-Aranha" é, de certa forma, mais fiel aos quadrinhos. Aqui o Homem-Aranha está mais tagarela, usando de piadas e sarcasmo para desconcertar seus oponentes. Também usa teias sintéticas, embora as teias orgânicas dos filmes de Raimi soem mais interessantes e verossímeis. O romance com Gwen Stacy (Emma Stone), a primeira namorada de Peter nas hqs, também foi mantida aqui, esquecendo por completo Mary Jane, o par romântico do herói nos filmes anteriores.
      O desenvolvimento de seus poderes é bastante interessante. Peter sofre muito no começo, principalmente com a aderência descontrolada de suas mãos aos objetos, criando momentos engraçados. Controlando esse poder, Peter decide se vingar de Flash Thompson, desafiando-o no basquete e criando uma vingança sonhada por muitos garotos vítimas de bullying para com seus agressores. Mas a cena mais interessante nesse quesito acontece em um galpão abandonado, onde ele treina skate e salta por correntes, simulando o uso de teias que viria a seguir. É uma cena empolgante, que cria um ar de liberdade e descoberta.
      O filme retrata satisfatoriamente a criação do uniforme, sendo competamente plausível a ideia da máscara e a escolha e o preparo do material do disfarce. Por outro lado, sentimos a dificuldade do herói de lidar com suas habilidades recém-adquiridas. Por várias vezes o vemos atrapalhado, seja ao cair no meio da rua ou bater com a cabeça ao saltar entre espaços pequenos entre os prédios. Peter sai bem machucado de suas aventuras, o que humaniza o herói, mostrando sua vulnerabilidade.
      A química entre Peter Parker e Gwen Stacy é impressionante. O romance dos dois é completamente admissível, não se tornando forçado em momento algum. Durante algumas cenas sentimos total empatia pelo casal, como quando Peter convida Gwen para sair pela primeira vez, completamente sem jeito. Típica paixão adolescente, da mais pura, da qual todos nós já sentimos algum dia. E a decisão de Peter por contar um segredo importante a ela só reforça a ideia de que para se ter um relacionamento sério e verdadeiro, devemos confiar em quem está ao nosso lado.
      O vilão do filme é um personagem complexo. O doutor Curt Connors quer realmente o bem da humanidade ao tentar usar seu conhecimento para ajudar os necessitados, mas acaba por se tornar insandecido ao usar a fórmula, adquirindo a personalidade agressiva do réptil. Os conflitos do doutor são aceitáveis, uma vez que ele é agradável e generoso em sua forma humana, mas que não consegue controlar sua personalidade má ao injetar o soro.
      O roteiro traça um perfil diferente e interessante do protagonista, não o tratando novamente como um nerd tímido, mas como um aluno inteligente que tem sim seus problemas e defeitos. A história gasta bastante tempo do filme no desenvolvimento dos dilemas dos personagens, criando seres tridimensionais e humanos. O sofrimento de Peter pela falta dos pais é bem retratado, apesar de a morte de um parente no início ser praticamente esquecida a partir do meio do filme.
      A direção de Marc Webb é interessante. A condução das cenas ocorre de forma natural. Alguns planos são inspiradíssimos, como o dos carros pendurados na ponte ou o do herói saltando em meio a helicópteros no por-do-sol. Webb acerta também em mostrar o Homem-Aranha como um ser vulnerável, apesar de seus poderes impressionantes. Ele não hesita em mostrá-lo machucado devido à escolha de ser o herói, levando uma surra do Lagarto, ou tendo o peito rasgado pelas suas garras.
      As cenas de ação também merecem muito destaque. Desde as lutas com os criminosos comuns, até suas batalhas com o Lagarto, culminando no enfrentamento final impressionante, tudo é muito bem filmado, tendo uma montagem empolgante, mas nos permitindo acompanhar cada detalhe das cenas.
      A parte técnica de "O Espetacular Homem-Aranha" é ótima. Os efeitos especiais são primorosos. Desde as cenas em que o herói salta entre os prédios, até a luta no alto do prédio da Oscorp, tudo funciona magnificamente, nos permitindo acreditar e imergir ainda mais na trama. Cada detalhe do Lagarto está muito bem feito, demonstrando o cuidado da equipe de animação na criação do vilão.
      Tendo 137 minutos, mais longo que o comum para filmes de super-herói, o longa diverte muito, sem se tornar maçante ou arrastado. Terminando sem dar o desfecho necessário a certos pontos, como o mistério envolvendo os pais de Peter ou o assaltante com uma estrela tatuada que é perseguido pelo Homem-Aranha, o longa claramente cria um gancho para continuações, salientando isso na cena pós-créditos. É um filme tido por muitos como desnecessário, tendo em vista que a trilogia original terminou há apenas cinco anos. Mas levando-se em consideração apenas o filme, sem compará-lo com seus predecessores, "O Espetacular Homem-Aranha" é espetacular sim, criando muito bem uma nova origem para o herói e abrindo espaço para mais uma promissora trilogia.


terça-feira, 17 de julho de 2012

Opinião: "Hitman - Assassino 47"

Avaliação:

Título original: Hitman
Gênero: Ação
Ano de lançamento: 2007
Direção: Xavier Gens
Elenco: Timothy Olyphant
            Dougray Scott
            Olga Kurylenko
 
      As adaptações de jogos para o cinema começaram em 1993, com o lançamento “Super Mario Bros.”. A partir de então, muitos filmes foram lançados, mas foram poucos os que agradaram o público e a crítica. Desde obras medianas, como “Tomb Raider” e os primeiros "Resident Evil", até bombas como “Street Fighter” (os dois), ”Bloodrayne”, “Doom”, os últimos “Resident Evil”, etc. Falando de bomba, “Hitman” não foge muito disso. Lançado em 2007, é mais um para a extensa lista de filmes ruins provenientes de jogos.
      O longa conta a história de um grupo de assassinos treinados desde criança para serem os melhores no que fazem, sem ter o mínimo de compaixão ou sentimentos. Suas missões lhes são dadas através de um sistema de computador, sem nenhum contato direto com pessoas. É quando somos apresentados ao assassino 47 (Timothy Olyphant), que tem a missão de matar o presidente russo Mikhail Belicoff (Ulrich Thomsen).
      Após cumprir sua missão, o nº 47 se vê perseguido por assassinos como ele por não executar seu trabalho corretamente, já que Belicoff aparece vivo em seguida. Ele entra então em uma trama política internacional, e passa a proteger a prostituta Nika (Olga Kurylenko), também perseguida pelo presidente russo. No encalço de 47 está o agente da Interpol Mike Wittier (Dougray Scott), que o caça por todo o planeta há anos.
      Partindo de uma premissa que lembra a série Bourne, Hitman passa há anos-luz desse. Os créditos iniciais são bons, onde somos apresentados à origem dos assassinos e seu duro treinamento, mas surge preguiçoso, nos fazendo engolir aquilo rapidamente para pular direto para a ação descerebrada do resto do longa. O roteiro é mínimo, se acomodando em apenas fazer seu protagonista fugir o tempo todo, matando quem se atravessa em seu caminho.
      As atuações são rasas. Olyphant convence em alguns momentos como assassino, mas por vezes parece estar segurando o riso, reduzindo o impacto de suas ações. Olga Kurylenko funciona bem como interesse romântico do agente 47, mesmo que eles não troquem um beijo sequer. Por sua vez, Dougray Scott no papel do agente da Interpol faz uma atuação correta, sem altos e baixos. Mas Robert Knepper, que interpreta Yuri Marklov, e Ulrich Thomsen, como o presidente russo, são dispensáveis, agindo como personagens batidos, já vistos inúmeras vezes em filmes do gênero.
      Os vilões são completamente estereotipados, caricatos, como se tivessem saído dos anos 80. O roteiro ainda passa a mensagem dos tempos da Guerra Fria, tratando os soldados russos como totais incompetentes e os líderes como ditadores sanguinários, sendo os americanos os libertadores do mundo.
      O personagem principal passa o filme todo distribuindo tiros por onde passa. Mesmo sendo um assassino frio e sem emoções, rigorosamente treinado, é difícil aceitar que seja capaz de matar tanta gente de uma só vez sem sofrer um arranhão sequer. Durante as cenas de ação, o nº 47 sempre enfrenta seus adversários com a mesma frieza, sem parecer estar em perigo iminente, tirando o impacto das cenas.
      O filme parece, em alguns momentos, que foi feito às pressas. As cenas de ação são comuns para qualquer filme do gênero. Os diálogos são fraquíssimos, servindo apenas como pano de fundo para os tiroteios e perseguições. Sem contar os furos do roteiro. Se o nº 47 recebe as missões pelo sistema de computador por áudio, por que a mesma coisa que está sendo falada aparece escrita no computador? Seria para garantir que o assassino receberia a missão, sendo ele surdo, cego ou analfabeto? E como o protagonista chega à estação de trem com uma gravata vermelha, e depois enfrenta alguns oponentes trajando uma gravata azul? Mas o pior fica por conta do seu diálogo com Nika no carro. Em um determinado momento, ela quase chora pedindo para não morrer; logo em seguida, diz que não vale a pena viver passando tudo que ela passa na vida, e que ele deveria matá-la; mas instantes depois ela volta a ter os olhos marejados e novamente implora por sua vida.
      Mas “Hitman” tem um ponto forte: sua curta duração (89 minutos) nos permitindo sair do filme rapidamente. É uma aventura esquecível, como tantas outras jogadas no cinema todos os anos.


domingo, 15 de julho de 2012

Opinião: "A Última Música"

Avaliação:

Título original: The Last Song
Gênero: Drama, romance
Ano de lançamento: 2010
Direção: Julie Anne Robinson
Elenco: Miley Cyrus
            Greg Kinnear
            Liam Hemsworth
            Bobby Coleman

      Não é de hoje que os livros de Nicholas Sparks, o escritor mais romântico da literatura atual, são adaptados para o cinema. Já comentei isso na crítica que fiz sobre "Querido John". Pois no mesmo ano de lançamento desse filme, em 2010, outro livro de Sparks foi adaptado: "A Última Música", estrelado por Miley Cyrus e dirigido por Julie Anne Robinson.
      O filme conta a história de Ronnie (Miley Cyrus), uma adolescente rebelde que se vê obrigada a passar as férias de verão junto com seu pai, separado da sua mãe há algum tempo e vivendo em uma cidade litorânea. Ali Ronnie conhece Will (Liam Hemsworth, irmão do "Thor"), um rapaz pelo qual ela nutre um desprezo inicial, mas que logo será muito importante para ela. O que Ronnie não sabia era que seu pai, Steve (Gregg Kinnear), sofre de uma doença grave e está tentando se aproximar da filha para passar os últimos momentos junto dela. Ronnie tem um irmão, Jonah (Bobby Coleman), pelo qual mantém um carinho especial.
      A primeira metade do filme serve bem seu propósito de nos apresentar aos personagens. A rebeldia de Ronnie é bem ilustrada por suas respostas afiadas e sua indiferença com o pai. Steve passa todo o filme tentando conquistar a confiança da filha, mesmo que só receba grosserias em troca. Jonah, o caçula, serve como alívio cômico, sendo o melhor personagem do longa. E a relação entre Ronnie e Will é bem criada, sem ser um romance abrupto, criado do nada. Há química entre o casal de protagonistas, principalmente quando Ronnie decide ser mais gentil. Pena que o primeiro ato seja um pouco arrastado. Mesmo com a construção cuidadosa dos personagens, tudo ocorre de forma muito lenta, com algumas cenas conduzidas lentamente e sem propósito algum.
      O que aborrece um pouco é a atuação de Miley Cyrus. Tentando escapar da marca de Hannah Montana, a atriz acaba criando uma personagem chata, de mal com o mundo, que se irrita com qualquer coisa. Na grande maioria das vezes, a vemos criando caretas desnecessárias e agindo com uma ira desmedida, sem justificativa aparente ou suficiente. Dá vontade de entrar na tela e dar uns tapas nela para ver se acorda para a vida. Sua maldade com seu pai por vezes surge forçada, não nos permitindo acreditar que alguém pudesse ser tão cruel sem motivo com o pai que não vê há tempos.
      Esse é um tema recorrente nas histórias de Sparks, que já se tornou cansativo: o relacionamento conturbado entre pai e filho. É de se imaginar que o autor tenha passado por isso na vida, ou então esteja sem criatividade suficiente para criar coisas diferentes. Por falar em ideias reaproveitadas, até a cidade onde a história se passa é praticamente igual a de "Querido John", nos levando a confundir por certas vezes as cenas que estamos assistindo, como se já tivéssemos visto aquilo antes.
      Mas o filme se salva em sua metade final. Greg Kinnear dá alma a seu Steve Miller, um pai que só quer estar ao lado dos filhos em seus momentos finais. O carinho dado ao filho menor e a busca pelo entendimento com a filha mais velha são tocantes, nos emocionando por certas vezes. E isso acaba tornando o drama familiar o tema mais importante nas cenas finais, praticamente abandonando o romance entre Ronnie e Will para focar na luta de Steve contra a doença. As cenas derradeiras são comoventes, criando lágrimas até nos olhos mais secos. Diga-se de passagem, algo recorrente na bibliografia de Nicholas Sparks.
      Isso é o que define "A Última Música": o romance básico entre Ronnie e Will desenvolvido por toda a trama é deixado de lado, dando mais atenção ao drama de Steve. As separações constantes do casal principal, sobretudo por causa do caráter irritadiço de Ronnie, acaba cansando, o que tira a força do relacionamento.
      Não é um longa completamente chato, mas são esses pequenos detalhes que compromentem a qualidade da narrativa. É, sim, uma história tocante de amor de um pai por seus filhos, e é onde está a verdadeira força do filme.


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Opinião: "Sexta-Feira 13" (1980)

Avaliação:

Título original: Friday the 13th
Gênero: Terror, suspense
Ano de lançamento: 1980
Direção: Sean S. Cunningham
Elenco: Kevin Bacon
            Betsy Palmer
            Adrienne King
            Jeannine Taylor

      Os anos 1980 foram o auge do cinema de terror. São dessa década "O Boneco Assassino", "A Hora do Pesadelo" e "Halloween", alguns exemplares de maior sucesso do gênero trash. Pegando carona nos sucessos da época, em 09 de maio de 1980 foi lançado um verdadeiro símbolo da categoria: "Sexta-Feira 13", dirigido por Sean S. Cunningham. Um dos maiores sucessos proporcionais de bilheteria, o longa custou 500 mil dólares e faturou incríveis 39 milhões, abrindo caminho para incontáveis continuações. Mas bilheteria alta não significa que o filme seja bom. É no mínimo assistível, pelo menos por curiosidade.
      Vamos à história: em 1957, um garoto, Jason Vorhees, morre afogado no acampamento Crystal Lake. Um ano depois, os instrutores que deveriam estar cuidando dele são assassinados misteriosamente. Após esses tristes episódios, o acampamento é fechado e só volta a reabrir anos depois. Um grupo de jovens decide passar um final de semana em Crystal Lake, apesar de serem aconselhados do contrário pela população local. A partir daí os jovens começam a ser assassinados um a um, até que o assassino venha a se revelar para a última vítima.
      Com um orçamento modesto, "Sexta-Feira 13" tem efeitos especiais aceitáveis para a época. As mortes são convincentes, não pelos atores, mas pela maquiagem. As atuações são um ponto fraco do longa. Os atores parecem estar funcionando no piloto automático, sem demonstrar empenho ou veracidade.
      Outro ponto ruim do filme é a trilha sonora. Apesar de criar alguns pontos bem conduzidos, em alguns momentos percebemos a influência de outras trilhas, como de "Tubarão" ou "Psicose". Realmente decepcionante.
      O roteiro é simples, sem reviravoltas. Mas o que realmente incomoda é o desenrolar da trama. Tudo é meio morno, com a história transcorrendo em um ritmo lento. Em momento algum tememos pelo destino dos personagens, o que é um mau indicador em qualquer filme. A trama não consegue que nos importemos com qualquer um deles, nos fazendo assitir àquilo tudo como se fosse um documentário bem chato.
       Salvando um pouco o filme, o terceiro ato consegue se sobressair do resto das cenas. Quando somos apresentados ao assassino e às suas motivações é que o filme realmente parece estar caminhando para algum lugar. A luta da última sobrevivente com o serial killer é a única cena em que sentimos uma leve apreensão.
      Parecendo bem mais longo do que realmente é, "Sexta-Feira 13" não consegue construir uma atmosfera de tensão aceitável, se perdendo em seu ritmo fraco e sem vigor. É inexplicável seu sucesso tão estrondoso com uma trama tão tola e previsível. Mesmo assim, tornou-se um filme cultuado por fãs em todo mundo, principalmente por suas continuações insossas estreladas por um assassino usando uma máscara de hóquei.


Opinião: "2012"

Avaliação:

Título original: "2012"
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2009
Direção: Roland Emmerich
Elenco: John Cusack
            Amanda Peet
            Woody Harrelson
            Danny Glover
            Thandie Newton

      Em "Independence Day", as capitais mais importantes do mundo são destruídas durante um ataque alienígena. Em "O Dia Depois de Amanhã", furacões e uma nova era do gelo assolam o Hemisfério Norte do nosso planeta. E em "2012" o mundo é literalmente destruído após uma catástrofe "anunciada" no calendário maia. O que esses três filmes têm em comum? Ambos têm o mesmo diretor, o alemão Roland Emmerich, que parece fissurado em destruir o mundo onde vive.
      O roteiro de "2012" é escrito pelo próprio Emmerich e por Harald Kloser, compositor das trilhas sonoras de "O Dia Depois de Amanhã", "Alien vs. Predador", entre outros. É uma história simples, que gira em torno de uma família que tem que deixar tudo para trás para escapar da destruição iminente. Na trama, cientistas descobrem, em 2009, que o núcleo da Terra está ficando instável devido às erupções solares, e que a crosta entrará em colapso em pouco tempo. Três anos depois, em dezembro do ano-título, a crosta terrestre começa a se deslocar, causando terremotos, erupções e tsunamis nunca antes imaginados.
      O escritor Jackson Curtis (John Cusack), que ainda não consegue se sustentar completamente com seu hobby e tem que trabalhar também como motorista de limusine, pega seus filhos para passar o final de semana com ele. Ele os leva para o antigo parque Yellowstone, agora estranhamente cercado e sem água. Nas montanhas de Yellowstone, Curtis conhece Charlie Frost (Woody Harrelson), um excêntrico radialista teórico do fim do mundo. Frost explica que o mundo está prestes a ser destruído, mas o governo está criando arcas para salvar os mais ricos e escondendo os fatos para não criar alarde. Incrédulo no começo, Curtis logo é convencido dos fatos por um terremoto arrasador, e volta à Yellowstone para pegar o mapa que Frost guardara sobre o paradeiro das arcas. A partir dali, é uma luta contra o tempo para escapar do caos que toma conta do planeta.
      Se em "O Dia Depois de Amanhã" havia uma mensagem ambientalista, alertando para os riscos do aquecimento global, em "2012" simplesmente não há mensagem nenhuma. O roteiro apenas toma como base o calendário maia, que se tornou uma profecia de fim do mundo, para criar um filme-catástrofe praticamente vazio do ponto de vista narrativo, mas empolgante e arrebatador no que concerne à ação. Devido à sua temática, acabou aumentando ainda mais o temor (inconcebível) de uma catástrofe ao final do ano de 2012. Mas nada que assuste os mais conscientes e inteirados do assunto.
      O roteiro é um pouco fraco. Os personagens são mal desenvolvidos, não nos permitindo temer por seus destinos. A desprezo inicial do filho com o pai é já é um clichê, tendo se tornado recorrente nos filmes atuais. Assim como a relação do homem com sua ex-mulher, com os ambos ainda gostando um do outro. Desde o início é possível perceber quem vai morrer e quem vai sobreviver no final, devido à superficialidade da trama. Mas o que realmente incomoda são os furos graves do roteiro. Logo no começo nos deparamos com um ar de verão, com um dia ensolarado e os personagens usando roupas leves. E nem sinal do Papai Noel. Sendo 21 de dezembro nos Estados Unidos, é início de inverno. Normalmente neve já está presente, e a maioria das casas está decorada com motivos natalinos. Mas o roteiro de Emmerich e seu ajudante compositor simplesmente esquece esse detalhe, que não podia ter passado despercebido. Em outro momento, uma reportagem anuncia a suspensão das Olimpíadas de Londres, devido à destruição da cidade. Os jogos olímpicos de 2012 acontecem realmente em Londres, mas como sempre, entre os meses de julho e agosto, e não em dezembro. Falha deles.
      O que realmente salva o filme são suas cenas de ação. A adrenalina presente nas cenas não nos permite desgrudar os olhos da tela, temendo cada explosão ou fuga no último instante como se estivesse acontecendo com nós mesmos. A destruição das cidades é filmada com planos aéreos impressionantes, que nos permitem visualizar cada detalhe sem cortes abruptos e montagem acelerada. Os efeitos especiais são soberbos na maioria das vezes, marca registrada de filmes-catástrofe. Mas falham em alguns momentos, mostrando-se mais como cenas de video game, nos afastando um pouco da realidade do filme.
      Estendendo-se um pouco mais do que o necessário (158 minutos), "2012" é um belo exemplar dos filmes-catástrofe. Ao final da projeção, há uma certa sensação de exaustão, devido ao bombardeio de adrenalina das cenas, mas nada que se torne cansativo. Mesmo não sendo seu melhor trabalho como roteiro, Roland Emmerich ainda merece créditos por criar cenas de ação grandiosas e espetaculares. Obviamente o mundo não vai acabar em 2012, como dizem os conspiracionistas. Mas Emmerich, se quiser continuar fazendo seus filmes-catástrofe, terá que escolher outro planeta, já que já destruiu a Terra por vezes suficientes.


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Opinião: "Matrix Revolutions"

Avaliação:

Título original: The Matrix Revolutions
Gênero: Ação, ficção científica
Ano de lançamento: 2003
Direção: Andy Wachowski, Lana Wachowski
Elenco: Keanu Reeves
            Hugo Weaving
            Lawrence Fishburne
            Carrie-Anne Moss
            Jada Pinkett-Smith

      Apenas seis meses após o arrasa-quarteirão "Matrix Reloaded", foi lançada a conclusão da saga iniciada em 1999, isso porque o segundo filme e esse "Matrix Revolutions" são, por assim dizer, o mesmo filme cortado bruscamente ao meio. Foram gravados simultaneamente. Sendo assim, tudo que é lançado em "Reloaded" é finalizado em "Revolutions". Bom, quase tudo, já que os irmãos Wachowski sempre deixam propositalmente uma ponta solta no ar.
      Após os acontecimentos do filme anterior, Neo acorda numa estação de trem. Sua mente, desplugada do mundo real e da Matrix, despertou no que seria a "Lixeira" da Matrix. Ele tenta fugir pelos trilhos, mas não consegue. O local é um limbo, o meio do caminho entre a fonte e a Matrix. Ali ficam os programas que aguardam para serem deletados, como o casal de indianos que esperam o trem que selará seu triste fim. Eles serão levados de volta à fonte e deletados, deixando sua filha Sati (o ponto fraco do filme) com o Oráculo (Mary Alice, substituindo Gloria Foster após seu falecimento). Neo tenta escapar enfrentando o Maquinista, mas é impedido de subir no trem.
      Morpheus (Lawrence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss) se conectam à Matrix para procurarem Neo, e negociam sua libertação com Merovíngio, já que esse controlava o Maquinista. Mas não sem antes Trinity ameaçar estourar seus miolos. Essa é a última cena em que vemos o francês e sua esposa, Persephone (Monica Bellucci), já que esses não serão mais aproveitados no decorrer da narrativa.
      Liberto da estação de trem, Neo decide ir sozinho à Cidade das Máquinas negociar a destruição de Smith (Hugo Weaving), que se prolifera rapidamente pela Matrix e ameaça a estabilidade do sistema. Niobe (Jada Pinkett-Smith) entrega sua nave nas mãos do Escolhido, apesar de não acreditar em seus poderes profetizados, e cada um parte para seu lado; Neo e Trinity vão a caminho da Cidade das Máquinas, enquanto Morpheus, Niobe e os outros seguem para Zion, prestes a ser invadida pelas máquinas.
      É em Zion que acompanhamos as cenas mais tensas e empolgantes do filme. Assim que as máquinas perfuradoras invadem a cidade, milhares de sentinelas começam a entrar pelos furos, mas são inicialmente destruídas pelos mechwarriors. Mas após uma certa resistência inicial, as sentinelas conseguem escapar dos tiros e invadem de vez a cidade, em nuvens assustadoras. A filmagem da batalha não deixa nada a desejar aos melhores filmes de guerra, pois somos brindados com planos magníficos e aterradores da destruição iminente de Zion.
      Enquanto isso, Neo tem que enfrentar mais um problema em sua jornada: Bane, com a mente possuída por Smith, sabota a nave e cria um perigo real para ele e Trinity. Dentro da nave, vemos uma batalha crua, livre de qualquer traço de artes marciais; o que é de certa forma interessante, para não enjoarmos de tanto kung fu.
      Na Matrix, Smith se apossa do corpo do Oráculo, criando um ser ainda mais poderoso e letal. Toda a humanidade estava assimilada à ele, e seria questão de tempo até que ele invadisse também o mundo real e colocasse em risco o controle das máquinas sobre a Matrix e sobre si mesmas. Por esse motivo, Neo decide entrar uma última vez na Matrix, visando a destruição de seu maior inimigo e a paz entre as máquinas e Zion. O que vemos dentro do mundo virtual é uma legião de Smiths cercando o mais poderoso, aquele que se assimilou ao Oráculo, enquanto esse enfrenta Neo em uma chuva torrencial. A luta é a mais longa e a melhor de todos os três filmes, com os dois no auge de seu poder. A destruição causada por ambos é bem simbolizada pelos prédios com as vidraças estilhaçadas e a bolha de ar liberada após um forte impacto, que interrompe a queda da chuva. A coreografia é magnífica, criando uma batalha rápida e impactante.
      "Matrix Revolutions", depois do começo monótono na estação de trem, nunca mais perde o foco, mantendo um ritmo equilibrado. As atuações são seguras (exceto pela irritante Sati). Mary Alice convence como a nova Oráculo, nos fazendo acreditar que a Matrix a modificou por causa de suas escolhas. Keanu Reeves está mais uma vez seguro como Neo, nos fazendo acreditar que tudo vai dar certo com ele defendendo o mundo.
      Há críticas sobre a narrativa de "Matrix Revolutions", de que nada de novo foi adicionado à história, mas há de se concordar que os diretores criaram um vasto universo nos dois primeiros filmes, apenas concluindo sua saga nessa derradeira produção. (Spoilers: Não leia a partir daqui  se não tiver visto o filme ainda). Os problemas apresentados, como as dúvidas sobre os poderes de Neo fora da Matrix ou sua morte ou não ao final do filme são pura questão de interpretação. Vejam por esse lado: 
1 - sobre os poderes: quando está na Matrix, Neo tem poderes inimagináveis, mas tudo está também em seu cérebro. Ao desligar as sentinelas no final do segundo filme, Neo está tendo seus poderes aflorados também no mundo real; e ao destruir os inúmeros robôs a caminho da Cidade das Máquinas, ele está mais consciente de suas habilidades também no mundo real.
2 - sobre sua morte: antes de matar Bane, Neo viu Smith envolto em uma luz amarela, como um programa. Ao matá-lo, a luz se desfez, demonstrando que ele estava realmente morto. Ao final de sua luta com Smith, Neo está desacordado na Cidade das Máquinas, e é levado por uma delas (talvez para a fonte). Percebemos, por meio de um plano subjetivo, que a luz amarela, que indica a vida de um programa, está radiante. Consequentemente, Neo está vivo. (Fim dos spoilers).
      É um filme magnífico, que encerra com louvor a saga imaginada pelos Wachowski. "Star Wars" pode ter sua legião incalculável de fãs por todo o mundo, mas não tem a profundidade filosófica e científica de Matrix. Como ficção científica, é muito mais completo que a maioria dos filmes do gênero. Todas essas interpretações, papos filosóficos sobre escolha, destino, predestinação, tudo isso pertence a esse universo riquíssimo. E você, já tomou sua pílula vermelha?



terça-feira, 10 de julho de 2012

Opinião: "Homem-Aranha 3"

Avaliação:

Título original: Spider-Man 3
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2007 
Direção: Sam Raimi
Elenco: Tobey Maguire
            Kirsten Dunst
            James Franco
            Topher Grace
            Thomas Hayden Church
            Rosemary Harris

 
      Sam Raimi tinha uma franquia lucrativa nas mãos. Os dois filmes anteriores do herói aracnídeo tinham obtido um estrondoso sucesso. Agora, a produtora queria um filme do Venom, um dos vilões preferidos dos fãs. O problema é que o diretor já havia declarado diversas vezes que odiava o tal vilão e nunca iria fazer um filme com ele. Mas a pressão foi grande, e o resultado foi esse “Homem-Aranha 3”, lançado em 2007, um filme que está longe de ser uma obra-prima, mas que também não é de todo ruim.
      Assim como em “Homem-Aranha 2”, os eventos dos filmes anteriores são relembrados nos créditos iniciais. O herói (Tobey Maguire) está em sua melhor fase, e é adorado pelos cidadãos de Nova York. Seu relacionamento com Mary Jane (Kirsten Dunst) vai bem, e ele pretende pedi-la em casamento em breve. Mas, como nada é fácil na vida do Homem-Aranha, os problemas logo começam a surgir.
      Vindo do espaço em um meteorito, uma estranha substância pega carona em sua motoneta e o segue até em casa. Logo em seguida, no encaixe mais desnecessário do roteiro, somos apresentados a Flint Marko (Thomas Hayden Church), fugitivo da polícia que matou Ben Parker. Mas não foi aquele sujeito do primeiro filme que matou o tio de Peter? Sim, mas para fazer com que o Homem-Aranha o persiga, os roteiristas mudam o assassino. Marko cai em um tanque durante uma experiência, e torna-se o Homem-Areia.
      Para piorar, Harry Osborn (James Franco), que no final do filme anterior havia descoberto os equipamentos do Duende Verde, agora começa a usá-los para atacar o Homem-Aranha. Sem contar com o estranho simbionte que adere ao seu uniforme, modificando drasticamente sua personalidade.
      Os efeitos visuais são de primeira linha, talvez os melhores da série. O boneco digital do Homem-Aranha está ainda mais convincente, e seus inimigos não ficam para trás. Especialmente a origem do Homem-Areia, por exemplo, é o momento mais bem feito plasticamente, nos permitindo analisar cada detalhe das partículas de areia que formam o corpo do vilão. A cena em que conhecemos Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), quando ela é fotografada enquanto um guindaste fora de controle destrói alguns andares do prédio, também é magnífica, de prender a respiração. Os passeios do herói por Nova York são muito bem filmados, um fato recorrente da série. A única ressalva é que, enquanto salta pelos prédios à noite usando o uniforme negro, perdemos um pouco do foco, já que ele se mistura com a escuridão das ruas.
      Mas narrativamente o filme é falho. Por exemplo, temos uma Gwen mal aproveitada. Ela aparece no começo, beija o Homem-Aranha ao entregar a chave da cidade, e depois simplesmente desaparece, surgindo no final apenas para fazer ciúmes em Mary Jane. Assim como May Parker (Rosemary Harris): tão importante para Peter nos outros filmes, aqui ela aparece poucas vezes, e apenas para dar conselhos breves. Culpa do roteiro apressado, que de tanto inflar o filme de personagens novos e vilões dispensáveis, acaba por criar um filme mais longo que os anteriores (139 minutos), mas que falha principalmente ao tentar juntar todos os núcleos da história.
      Vilões não faltam no filme: além do Homem-Areia e Harry como o “Duende Jr.”, ainda temos Venom, que adere ao corpo de Eddie Brock (Topher Grace). Apesar de ser divulgado como o vilão principal, ele só aparece no terceiro ato, decepcionando quem esperava mais tempo de projeção desse ser tão amado dos quadrinhos. Harry foi outro abandonado pelo roteiro: foi mais importante nos filmes anteriores, e se tornou apenas mais um vilão nesse filme, se sacrificando e tendo um final decepcionante. Uma pena, já que podia ser melhor aproveitado.
      Isso sem considerarmos também as “coincidências” plantadas pelo roteiro: o meteorito que continha o simbionte cai bem atrás de Peter, sem que ele perceba, e cola em sua convenientemente em sua moto; Harry perde a memória “convenientemente” após uma cena importante, que poderia definir o filme logo ali; Flint Marko cai em um tanque a céu aberto bem no momento de uma experiência científica; Eddie Brock, após ser recomendado por Peter a pedir perdão na religião, vai à igreja pedir para que Deus mate Peter, e é tomado pelo simbionte, se tornando o Venom. Isso demonstra mais que tudo o cansaço de Sam Raimi na condução do filme, que fez o filme por pressão da Sony.
      Mas o mais ridículo do filme é o “Emo-Parker”. Sob efeito do simbionte alienígena, ele torna-se um ser não só agressivo, mas também desleixado e engraçadinho, criando momentos de vergonha-alheia total.
      O filme transcorre com um ritmo até aceitável, mas se perde no ato final. Tentando atar as pontas soltas, heróis e vilões se encontram em uma luta final empolgante, mas apressada. Apesar de ser boa, não tem o impacto desejado, por já estarmos cansados depois de duas horas de filme.
      Não é um filme totalmente ruim. Os diálogos são bons, os atores estão esforçados, a parte técnica é perfeita. Mas faltou um pouco mais de cuidado e vontade na direção, o que afetou um pouco a história. Não é ruim, apenas inferior aos anteriores. Encerrou de forma razoável aquela que já pode ser considerada a trilogia clássica do Homem-Aranha, mas sem comprometê-la.


domingo, 8 de julho de 2012

Opinião: "Homem-Aranha 2"

Avaliação:

Título original: Spider-Man 2
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2004
Direção: Sam Raimi
Elenco: Tobey Maguire
            Kirsten Dunst
            Alfred Molina
            James Franco

      Quando o primeiro "Homem-Aranha" foi lançado, em 2002, alcançou um estrondoso sucesso de público e crítica. Quando sua continuação foi anunciada, o público ficou em polvorosa, mas a crítica ficou receosa de que o segundo filme seria apenas para arrecadar dinheiro, deixando de lado a história e partindo para a ação, como muito é feito até hoje. Mas, felizmente, não foi isso que aconteceu. Em 2004, Sam Raimi apresentou ao mundo seu "Homem-Aranha 2", um filme tocante, que conseguiu sim superar seu antecessor.
      Peter Parker (Tobey Maguire) agora mora sozinho, em um quarto alugado em uma pensão. Tem que equilibrar dois empregos, os estudos e o que lhe toma mais tempo: sua carreira como Homem-Aranha. Tanto que não consegue desempenhar bem nenhuma das tarefas, sendo demitido do trabalho de entregador de pizza e tirando notas ruins na escola. Seu amigo Harry (James Franco) tornou-se obcecado pelo Homem-Aranha, imaginando que ele tinha sido o culpado pela morte de seu pai. Mary Jane conseguiu um trabalho como atriz em uma peça de teatro. E sua tia May está com as contas atrasadas, e corre o risco de perder a casa onde mora.
      Peter conhece um de seus ídolos, Otto Octavius (Alfred Molina), cientista que trabalha com financiamento da Oscorp para produzir uma nova fonte de energia. Nesse experimento, Octavius utiliza braços mecânicos guiados por inteligência artificial para manipular o instável trício, elemento raro capaz de criar um verdadeiro sol na Terra. Mas algo dá errado durante a apresentação do trabalho, matando a esposa do cientista e destruindo seu laboratório. Otto é levado desacordado ao hospital para fazer a cirurgia de retirada dos braços mecânicos acoplados ao corpo, mas os braços acordam antes dele e não permitem que os médicos os destruam, causando uma verdadeira chacina na sala de cirurgia. Aqui, como no primeiro filme, percebemos a veia de terror de Raimi, que cria uma cena assustadora e sanguinária. Otto foge para um galpão abandonado à beira do rio, onde é convencido pelos braços mecânicos a roubar um banco e continuar os experimentos.
      Enquanto isso, a vida de Parker piora ainda mais. Surge um novo vilão na cidade, seus estudos vão de mal a pior, sua tia está prestes a ser despejada, e para arrasá-lo ainda mais, Mary Jane aceita se casar com John Jameson, astronauta filho do editor do Clarim Diário. Com toda essa pressão, os poderes do Homem-Aranha começam a falhar, e ele decide-se por abandonar a função árdua de defender a cidade como o herói mascarado. Desenvolvendo um personagem cada vez mais atormentado e desanimado da vida, Tobey Maguire nos brinda com uma atuação convincente, e não é difícil se colocar no lugar dele quando é anunciado o casamento de Mary Jane com John Jameson. Já Alfred Molina cria o dr. Octupus, um vilão completamente tridimensional, assim como tinha sido o Duende Verde no filme anterior. É um personagem atormentado, e não mais um vilão que quer destruir o mundo como em outros filmes do gênero.
      É raro um filme de super-herói que dá mais espaço à história do que à ação. Em "Homem-Aranha 2", somos agraciados com um roteiro primoroso, que cria personagens tridimensionais, humanos. As atuações são bem conduzidas, e o drama presente do início ao fim eleva ainda mais o nível desse filme brilhante.
      Mas não só de drama vive o filme. As cenas de ação são excepcionais, principalmente a cena da luta no trem. Os efeitos especiais, premiados com o Oscar, estão melhores do que no filme original, assim como a criação dos personagens digitais, que soam convincentes. As cenas em que passeamos pela teia do Homem-Aranha são magistrais, já se tornando clássicas e inesquecíveis.
       Por fim, "Homem-Aranha 2" tornou-se um dos melhores filmes de super-herói de todos os tempos, senão o melhor. E provou que, se bem escrita e filmada, uma continuação pode sim ser melhor que o filme original. Pena que isso não aconteceu no terceiro filme, do qual falarei mais adiante.


sábado, 7 de julho de 2012

Opinião: "Homem-Aranha"


Avaliação:

Título original: Spider-Man
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2002
Direção: Sam Raimi
Elenco: Tobey Maguire
            Kirsten Dunst
            Willem Dafoe
            James Franco
      O Homem-Aranha sempre teve um grande sucesso nos quadrinhos e na TV. Nada mais natural que fosse adaptado ao cinema. E foi exatamente o que aconteceu em 2002, quando estreou o primeiro filme de um dos mais queridos heróis dos quadrinhos, abrindo caminho para que outros heróis invadissem as telonas nos anos seguintes. Mas o que tornou esse filme um grande sucesso de público e crítica?
      Para chefiar essa produção grandiosa, a Sony contratou o diretor Sam Raimi, conhecido por dirigir filmes de terror, e que transformou o "Homem-Aranha" em um sucesso colossal, rendendo-lhe mais duas continuações.
      Peter Parker (Tobey Maguire) é um estudante tímido do colegial, vítima de bullying por parecer o mais nerd e indefeso dos garotos. Quem já passou por isso sabe do que estou falando. Ele nutre uma paixão platônica por sua vizinha, Mary Jane (Kirsten Dunst), desde a infância. Na escola, é o aluno exemplar, detentor das melhores notas. Mas na vida pessoal, tem apenas um amigo, Harry Osborn (James Franco), filho do milionário cientista Norman Osborn (Willem Dafoe), que se encanta pela paixão de Parker pela ciência, deixando o filho enciumado. Durante um passeio a um centro de pesquisas, Peter é picado por uma aranha geneticamente modificada e passa a desenvolver habilidades geralmente comuns às aracnídeas.
      Um dia, depois de ver Mary Jane sair de carro com seu namorado, Peter resolve usar suas habilidades para ganhar dinheiro e conseguir comprar um veículo também, para quem sabe assim conquistar a garota dos seus sonhos. Típico sonho adolescente, que todos nós já tivemos um dia. O que ele não esperava é que, ao deixar um ladrão escapar da polícia, estaria contribuindo para a morte de seu tio Ben, sua figura paterna desde que seus pais faleceram.Sentindo-se responsável pela morte de seu tio, Peter resolve usar seus poderes de aranha para deter os criminosos de Nova York.
      Norman Osborn, prestes a perder um importante contrato com o exército, decide experimentar o soro que estava sendo desenvolvido em seu laboratório, a fim de agilizar as pesquisas. Mas com o projeto ainda inconcluso, Osborn tem um efeito colateral grave, desenvolvendo uma segunda personalidade, cruel e desequilibrada. Roubando seu próprio planador desenvolvido na Oscorp, ele decide sabotar os testes da empresa concorrente e matar a diretoria de sua companhia, tornando-se o Duende Verde, uma ameaça mortal para a cidade.
      Não só o Duende Verde persegue o herói aracnídeo, mas também Jonah Jameson, editor-chefe do Clarim Diário. Responsável por manchetes sensacionalistas sempre contra o Homem-Aranha, é também o dono de alguns dos momentos mais inspirados do longa. Há um detalhe no jornal: a secretária que dá o primeiro cheque a Peter pela venda de suas fotos é Betty Brant, personagem que também existe nos quadrinhos e teve um caso com Parker durante algumas revistas.
      Willem Dafoe é brilhante na criação de seu personagem, um cientista até amigável que se torna sombrio e perigoso, mas não de uma hora para outra. Tanto que, após os primeiros acontecimentos, Norman não lembra do que ele próprio cometeu. Sua personalidade instável acentuada pelo experimento faz com que ele tenha momentos de loucura e monólogos com sua persona má em frente ao espelho.
      Mas não é só a atuação de Willem Dafoe que merece crédito. Todos demonstram cuidado e dedicação nas interpretações. Mary Jane não é só a mocinha indefesa, mas sim uma garota determinada, que escapa das bebedeiras e da violência do pai para tentar vencer na cidade, mesmo que comece trabalhando como operadora de caixa em uma lanchonete. Rosemary Harris entrega bons momentos como a tia May, dando o suporte e o carinho necessários que Peter precisa nos momentos de dificuldade. Não esquecendo da ótima conduta de Tobey Maguire como Peter Parker/Homem-Aranha, que realmente nos convence como o garoto inseguro que tem que lutar contra todos os perigos para defender quem ama. 
      A direção de Raimi é sensacional. Equilibra muito bem a ação bem feita com os brilhantes diálogos, criando momentos memoráveis. Até alguns sustos estão presentes, lembrando seus grandes momentos como diretor de terror. Mas ele não deixa de lado a veia cômica, já que o Homem-Aranha é um dos personagens mais engraçados e irônicos dos quadrinhos. Os planos em que a câmera passeia com o herói por entre os prédios são ótimos, nos levando juntos em sua teia.
      Outro ponto forte é o roteiro. Os diálogos bem construídos dão mais fluidez à trama, não sendo apenas a simples historinha do "herói hesitante que precisa salvar a mocinha". Os personagens bem concebidos enriquecem ainda mais a narrativa, tornando o filme algo além de lutas e explosões.
      Mas a parte técnica do filme não fica para trás. Tem efeitos especiais magníficos, tendo concorrido ao Oscar daquele ano, mas perdido para o primeiro "O Senhor dos Anéis". O único ponto negativo é o boneco digital que substitui o herói em alguns momentos, causando um pouco de estranheza e trazendo um pouco de artificialidade ao visual. Mas nada que diminua a grandeza da produção.
      O Homem-Aranha não é apenas um ser poderoso que protege a cidade dos criminosos. É também o Peter Parker, um jovem estudante que precisa arranjar um emprego e não consegue pagar um lanche para a namorada sem contar os centavinhos. É o mais humilde dos heróis, e o mais humano. Impossível não se compadecer ou se identificar com esse personagem tão sofrido, que luta contra os inimigos e contra o fim do salário de freelancer do Clarim Diário. E ver essa história ser tão bem contada na tela grande é algo digno de admiração.