sábado, 21 de julho de 2012

Opinião: "O Espetacular Homem-Aranha"

Avaliação:

Título original: The Amazing Spider-Man
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2012
Direção: Marc Webb
Elenco: Andrew Garfield
            Emma Stone
            Rhys Ifans
            Sally Field
            Martin Sheen

      Já se passaram dez anos desde que o primeiro filme do herói aracnídeo foi lançado. Desde então, foram feitas mais duas continuações dirigidas por Sam Raimi: o ótimo "Homem-Aranha 2" e o mediano "Homem-Aranha 3". Por causa de divergências criativas com a produtora, o diretor decidiu abandonar o projeto de uma nova continuação, mas a Sony não desistiu do filme e escalou Marc Webb para dar um recomeço na saga do herói dez anos após o lançamento do original. O diretor, que só havia dirigido um longa, "(500) Dias com Ela", aceitou a proposta e nos apresentou uma nova origem do Homem-Aranha nos cinemas.
      Antes de assistir a "O Espetacular Homem-Aranha" deixe de lado os filmes anteriores, pois só assim será possível ter uma experiência satisfatória, livre de comparações ou preferências. Na trama, Peter Parker, com quatro anos, passa a morar com seus tios May (Sally Field) e Ben Parker (Martin Sheen) após seus pais o deixarem por motivos obscuros. Anos mais tarde, Peter (Andrew Garfield) vê sua vida mudar após ser picado por uma aranha geneticamente modificada. Ele desenvolve habilidades como escalar paredes, força descomunal, agilidade fora do comum e um sexto sentido aguçado, chamado nos quadrinhos de "sentido-aranha". Após ver a morte de um ente querido, ele passa a combater o crime em Nova York disfarçado como o Homem-Aranha.
      Peter descobre uma ligação entre o doutor Curt Connors (o ótimo Rhys Ifans) e seu pai. Sabendo disso, ele decide se aproximar do cientista para tentar descobrir mais sobre os projetos de seu pai, e acaba resolvendo a equação de uma fórmula que poderia curar pessoas amputadas. Tendo como principal lema a visão de que os seres humanos com deficiência acabam de certa forma excluídos da sociedade, Connors quer ajudá-los a recuperar membros perdidos a fim de criar um mundo mais justo e humano. Mas o soro não sai como o esperado, e Connors, obrigado a testá-lo em si mesmo antes de ver o resultado em cobaias, acaba desenvolvendo uma aparência monstruosa, tornando-se o Lagarto.
      "O Espetacular Homem-Aranha" é, de certa forma, mais fiel aos quadrinhos. Aqui o Homem-Aranha está mais tagarela, usando de piadas e sarcasmo para desconcertar seus oponentes. Também usa teias sintéticas, embora as teias orgânicas dos filmes de Raimi soem mais interessantes e verossímeis. O romance com Gwen Stacy (Emma Stone), a primeira namorada de Peter nas hqs, também foi mantida aqui, esquecendo por completo Mary Jane, o par romântico do herói nos filmes anteriores.
      O desenvolvimento de seus poderes é bastante interessante. Peter sofre muito no começo, principalmente com a aderência descontrolada de suas mãos aos objetos, criando momentos engraçados. Controlando esse poder, Peter decide se vingar de Flash Thompson, desafiando-o no basquete e criando uma vingança sonhada por muitos garotos vítimas de bullying para com seus agressores. Mas a cena mais interessante nesse quesito acontece em um galpão abandonado, onde ele treina skate e salta por correntes, simulando o uso de teias que viria a seguir. É uma cena empolgante, que cria um ar de liberdade e descoberta.
      O filme retrata satisfatoriamente a criação do uniforme, sendo competamente plausível a ideia da máscara e a escolha e o preparo do material do disfarce. Por outro lado, sentimos a dificuldade do herói de lidar com suas habilidades recém-adquiridas. Por várias vezes o vemos atrapalhado, seja ao cair no meio da rua ou bater com a cabeça ao saltar entre espaços pequenos entre os prédios. Peter sai bem machucado de suas aventuras, o que humaniza o herói, mostrando sua vulnerabilidade.
      A química entre Peter Parker e Gwen Stacy é impressionante. O romance dos dois é completamente admissível, não se tornando forçado em momento algum. Durante algumas cenas sentimos total empatia pelo casal, como quando Peter convida Gwen para sair pela primeira vez, completamente sem jeito. Típica paixão adolescente, da mais pura, da qual todos nós já sentimos algum dia. E a decisão de Peter por contar um segredo importante a ela só reforça a ideia de que para se ter um relacionamento sério e verdadeiro, devemos confiar em quem está ao nosso lado.
      O vilão do filme é um personagem complexo. O doutor Curt Connors quer realmente o bem da humanidade ao tentar usar seu conhecimento para ajudar os necessitados, mas acaba por se tornar insandecido ao usar a fórmula, adquirindo a personalidade agressiva do réptil. Os conflitos do doutor são aceitáveis, uma vez que ele é agradável e generoso em sua forma humana, mas que não consegue controlar sua personalidade má ao injetar o soro.
      O roteiro traça um perfil diferente e interessante do protagonista, não o tratando novamente como um nerd tímido, mas como um aluno inteligente que tem sim seus problemas e defeitos. A história gasta bastante tempo do filme no desenvolvimento dos dilemas dos personagens, criando seres tridimensionais e humanos. O sofrimento de Peter pela falta dos pais é bem retratado, apesar de a morte de um parente no início ser praticamente esquecida a partir do meio do filme.
      A direção de Marc Webb é interessante. A condução das cenas ocorre de forma natural. Alguns planos são inspiradíssimos, como o dos carros pendurados na ponte ou o do herói saltando em meio a helicópteros no por-do-sol. Webb acerta também em mostrar o Homem-Aranha como um ser vulnerável, apesar de seus poderes impressionantes. Ele não hesita em mostrá-lo machucado devido à escolha de ser o herói, levando uma surra do Lagarto, ou tendo o peito rasgado pelas suas garras.
      As cenas de ação também merecem muito destaque. Desde as lutas com os criminosos comuns, até suas batalhas com o Lagarto, culminando no enfrentamento final impressionante, tudo é muito bem filmado, tendo uma montagem empolgante, mas nos permitindo acompanhar cada detalhe das cenas.
      A parte técnica de "O Espetacular Homem-Aranha" é ótima. Os efeitos especiais são primorosos. Desde as cenas em que o herói salta entre os prédios, até a luta no alto do prédio da Oscorp, tudo funciona magnificamente, nos permitindo acreditar e imergir ainda mais na trama. Cada detalhe do Lagarto está muito bem feito, demonstrando o cuidado da equipe de animação na criação do vilão.
      Tendo 137 minutos, mais longo que o comum para filmes de super-herói, o longa diverte muito, sem se tornar maçante ou arrastado. Terminando sem dar o desfecho necessário a certos pontos, como o mistério envolvendo os pais de Peter ou o assaltante com uma estrela tatuada que é perseguido pelo Homem-Aranha, o longa claramente cria um gancho para continuações, salientando isso na cena pós-créditos. É um filme tido por muitos como desnecessário, tendo em vista que a trilogia original terminou há apenas cinco anos. Mas levando-se em consideração apenas o filme, sem compará-lo com seus predecessores, "O Espetacular Homem-Aranha" é espetacular sim, criando muito bem uma nova origem para o herói e abrindo espaço para mais uma promissora trilogia.


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