domingo, 17 de fevereiro de 2013

Opinião: O Senhor dos Anéis: As Duas Torres

Avaliação:

Título Original: The Lord of The Rings: The Two Towers
Gênero: Aventura 
Ano de lançamento: 2002
Direção: Peter Jackson
Elenco: Elijah Wood
             Ian McKellen
             Viggo Mortensen
             Sean Astin
             Liv Tyler
             Orlando Bloom
 
       No começo de "As Duas Torres", é explicado o que houve com Gandalf (Ian McKellen) em sua luta com o temido Balrog. Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin) continuam sua jornada em busca da Montanha da Perdição, onde destruirão o Um Anel. Aragorn (Viggo Mortensen), Legolas (Orlando Bloom) e Gimli (John Rhys-Davies) partem para resgatar Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd), sequestrados pelos uruk-hai.
      Frodo e Sam percebem estar sendo perseguidos por Gollum, e o aprisionam. A criatura se oferece a levá-los ao seu destino, em troca de ser solto da corda élfica que o machucava. Frodo aceita, e até se compadece da situação de Smeagle, nome de Gollum antes de ser modificado pelo Anel. Mas Sam não tem pena da criatura, contrariando-a sempre que possível. Frodo começa a demonstrar indícios de que também está sendo afetado pelo Anel, tornando-se mais agressivo e impaciente com Sam.
      Longe dali, Merry e Pippin aproveitam um combate entre os orcs e os uruk-hai para fugirem para a floresta, habitada por árvores gigantes e sábias conhecidas como ents. Eles tentam convencer os ents a ajudarem os humanos em sua batalha contra as forças de Sauron e Saruman, mas os sábios mostram-se relutantes. (Alerta de spoiler: não leia a partir daqui se ainda não tiver visto o filme) Seguindo o rastro dos hobbits, Aragorn e seus companheiros entram na floresta e são surpreendidos pelo mago branco: Gandalf, que havia derrotado seu inimigo e se tornado mais poderoso do que já era. Eles partem juntos para o reino de Rohan, onde o rei Théoden está preso em um  feitiço de Sauron. (Fim dos spoilers)
      "As Duas Torres" tem um desenrolar mais lento que seu predecessor. Os diálogos são bem mais trabalhados, deixando um pouco a ação de lado. Os personagens estão mais ricos, ambíguos, com dúvidas. Frodo chega até a puxar a espada para lutar com Sam, seu melhor amigo. Faramir (David Wenham), irmão de Boromir, demonstra indecisão ao sequestrar os pequenos hobbits, querendo tomar o Anel para si mas ao mesmo tempo sentindo pena dos pequeninos em uma jornada tão difícil. Mas ninguém demonstra tanta ambiguidade quanto Gollum/Smeagle. Inicialmente disposto a roubar o Anel que passou tanto tempo com ele, a criatura passa a mostrar um lado mais dócil. E é aí que surge o ótimo combate psicológico entre sua parte boa (Smeagle) e sua parte má (Gollum). A persona gentil se sobressai, chegando até a caçar para os hobbits e despertando uma amizade com Frodo, a quem chama de mestre. É sem dúvida o melhor personagem de toda a série.
      Peter Jackson faz um ótimo trabalho de direção, ainda mais seguro. Além de uma abordagem mais intimista dos personagens, o diretor sente tanta segurança a ponto de modificar um pouco a história original. Mesmo que tenha acendido um ódio dos leitores mais radicais da obra de J. R. R. Tolkien, Jackson se saiu muito bem, tornando a história mais ágil e empolgante. Os fãs de obras literárias e até alguns críticos devem se abster das reclamações, pois devemos sempre avaliar livro e filme separadamente. Muitas vezes ouço, ou leio: "Ah, o livro é bem melhor", ou "Como estragaram a obra que eu tanto gostava". Mas nada foi estragado, nada foi "modificado". Foi, sim, criada uma nova obra baseada em um livro. Se essa adaptação for ruim ou não estraga o livro, torna-se apenas um filme ruim. Longe de dizer que "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres" seja ruim, muito pelo contrário.
      Os planos abertos, assim como em "A Sociedade do Anel", são um espetáculo à parte. As cenas de ação são filmadas com maestria, tendo destaque a incrível batalha no Abismo de Helm. Humanos, elfos e um anão protegendo uma fortaleza cercada por cerca de dez mil inimigos, entre orcs e uruk-hai. O enfrentamento é muito bem filmado, mesmo sendo à noite e debaixo de muita chuva. Peter Jackson conseguiu recriar uma das maiores batalhas da literatura mundial em forma de filme, tornando-se assim uma das melhores cenas de batalha da história do cinema.
      Novamente somos presenteados com uma técnica primorosa. Desde a fotografia épica até a direção de arte construindo lindos cenários internos, ricos em detalhes, passando pelo figurino, tudo segue o padrão Peter Jackson de qualidade. Mas o que se sobressai são os efeitos visuais, vencedores do Oscar. O diretor e sua equipe trazem para a tela de modo perfeito a criação de Tolkien, antes considerada infilmável, seja pelos hobbits menores que humanos, seja por árvores que andam e falam, mas principalmente por Gollum. Nunca antes tivemos um personagem criado por animação computadorizada tão real. Andy Serkis emprestou seus movimentos e sua voz para o personagem, sendo assim responsável pela ótima "atuação". O ator contracenava com Elijah Wood e Sean Astin, para que depois fosse substituído pelo boneco digital, tornando a atuação de seus parceiros mais fácil e real.
      "As Duas Torres" se encerra com a ótima frase proferida por um importante personagem: "A batalha por Helm terminou, mas a batalha pela Terra Média está apenas começando". O ótimo longa tem personalidade própria, gerou polêmicas entre os fãs dos livros, mas prepara muito bem o terreno para o desenrolar da história: a grande batalha contra as forças de Saruman e a árdua jornada para a destruição do Um Anel.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Opinião: "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel"

Avaliação:

Título original: The Lord of The Rings: The Fellowship of The Ring
Gênero: Aventura
Ano de lançamento: 2001
Direção: Peter Jackson
Elenco: Elijah Wood
             Ian McKellen
             Viggo Mortensen
             Sean Astin
             Liv Tyler
             Orlando Bloom

       Foi em 2001 que conheci a Terra Média, uma terra mágica habitada por hobbits, magos, anões, elfos e também por orcs, nazgûl, trolls e uruk-hai. Eu tinha apenas 13 anos, não tinha acesso aos livros de J. R. R. Tolkien, e quando descobri esse mundo mágico, fiquei maravilhado. Não por ser uma história fantasiosa cheia de efeitos especiais mirabolantes ou cenas de ação espetaculares, como a maioria das crianças/pré-adolescentes avalia um filme. Me encantei com a saga por causa de seu ritmo ágil, por realmente ter uma história empolgante a se contar. Diferentemente dos guilty pleasures da nossa infância (aqueles filmes que gostávamos, ou gostamos até hoje, mas que com o passar do tempo percebemos os furos imensos), "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" é aquele tipo de filme que se torna melhor a cada revisita.
      O longa começa com a narração em off de Galadriel (Cate Blanchett), contando a história do "Um Anel" forjado por Sauron para conquistar os reinos da Terra Média. O rei dos humanos, Elendil, é morto por Sauron. Seu filho, Isildur, toma a espada do pai e decepa o dedo de Sauron, que portava o Anel. O inimigo é enfim derrotado, e Isildur, quando recomendado a destruir o Anel, é seduzido por ele, e toma-o para si. O novo rei dos humanos torna-se arrogante sob efeito da jóia, mas logo a perde. O tempo passa, o Anel está nas mãos de Bilbo (Ian Holm), um hobbit de 111 anos, mas que não aparenta mais de 60. O mago cinzento Gandalf (o ótimo Ian McKellen, que também interpreta brilhantemente Magneto na trilogia "X-Men") percebe que seu amigo está demorando mais do que devia para envelhecer, e se dá conta que o hobbit porta o Anel. O mago então convence Bilbo a deixar o Condado, e o Anel é entregue a Frodo (Elijah Wood), um jovem hobbit sobrinho de Bilbo, para que esse o leve para o vilarejo de Bree, onde eles decidiriam o que fazer.
      Frodo parte, acompanhado de seu melhor amigo, Sam (Sean Astin), mas não sem antes encontrar mais dois dos seus: Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd), dois hobbits ávidos por aventuras e criadores de confusão. Eles conhecem Aragorn (Viggo Mortensen) herdeiro direto do trono de Gondor, que lhes oferece proteção até eles encontrarem novamente Gandalf. Mas nem tudo sai como o esperado, e eles são atacados por Nazgûl, espectros protetores do Anel, almas dos antigos reis da Terra Média que foram corrompidos pelos anéis criados por Sauron, que agora estava juntando forças para retornar à vida. Frodo é gravemente ferido, e é levado às pressas para Valfenda, território dos elfos. Lá, instaura-se uma reunião que decide que o Anel precisa ser destruído, e apenas uma pessoa pura, inocente e corajosa poderia levá-lo. Frodo se oferece a portar o objeto até à Montanha da Perdição, em Mordor, território de Sauron. Alguns se prontificam a acompanhá-lo: seus amigos hobbits; Aragorn; o elfo Legolas (Orlando Bloom); o anão Gimli (John Rhys-Davies); Gandalf; e Boromir (Sean Bean), filho do regente de Gondor. Assim forma-se A Sociedade do Anel.
      O Anel, com toda a maldade de Sauron, influencia seu portador. Somente alguém de coração puro como Frodo poderia portá-lo sem ser corrompido. O sábio Galdalf usaria o Anel sem pretender mal algum, mas temia que a jóia o usasse com objetivos escusos, o que o tornaria mais letal por ser um mago. Já Boromir pretendia tomar o Anel, pois pensava que assim seria invencível diante dos inimigos. A ambiguidade do personagem é algo que torna o filme ainda mais rico. Não são todos os personagens completamente bonzinhos, assim como nós humanos não somos completamente bonzinhos. Temos defeitos, falhas, ganância, somos corruptíveis, e isso é bem ilustrado em toda a história, onde mais tarde há brigas, desentendimentos, intrigas.
      O ritmo imprimido pelo diretor Peter Jackson é ágil. A história não fica parada, a cada momento somos surpreendidos com novos fatos, batalhas, perseguições, o que torna agradável a experiência de mais de três horas. Os planos criados por Jackson são belíssimos, usando locações naturais em paisagens espetaculares na Nova Zelândia. As cenas de ação são perfeitamente coreografadas e filmadas. A montagem é ótima, sem cortes abruptos, permitindo que acompanhemos o que acontece nas cenas mais movimentadas.
      A parte técnica é impecável, tendo sido premiada com quatro Oscars: melhor maquiagem, melhores efeitos visuais, melhor fotografia e melhor trilha sonora. Essa última é responsável por dar ainda mais um tom épico à narrativa. Já a fotografia é muito bem executada. Temos o incrível contraste de muitas cores no Condado com o tom quase monocromático de Isengard e Mordor, territórios malignos onde predominantemente temos tempo escuro ou com chuva, passando ainda pelo dourado dominante em Valfenda. Tudo isso sem criar diferenças gritantes entre os ambientes, permitindo ao espectador perceber cada isso como parte de um todo, tornando tudo orgânico.
      Temos ainda os espetaculares efeitos visuais. Seja na batalha inicial na derrota de Sauron, nas aparições dos sombrios espectros, na batalha de Gandalf com o Balrog, ou simplesmente por transformar homens normais em anões ou hobbits, somos agraciados com efeitos de primeira, que acrescentam um ar de naturalidade à narrativa, ajudando na imersão do espectador à história. Ainda merecem ser citadas a maquiagem e a direção de arte. A primeira é responsável pela incrível caracterização dos orcs e dos Uruk-hai, assim como o tom de pele perfeito dos elfos e suas orelhas pontudas. A direção de arte cria lindos cenários e ambientes com um detalhismo impressionante. Isso sem citar o figurino, que mesmo sendo para uma história de magos, elfos e hobbits, torna tudo bonito e natural sem ser brega.
      Talvez a maior virtude de "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" e suas duas sequências seja contar uma história fantasiosa sem se tornar infantil, e isso graças a Peter Jackson. O brilhantismo do filme reside na capacidade do diretor de tornar um livro de 468 páginas cheias de cânticos em uma história épica e forte, sem descuidar da parte técnica e das características próprias de cada personagem. Como é bom voltar à Terra Média. Sempre que possível, faça o mesmo!


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Opinião: "Se Beber, Não Case - Parte II"

Avaliação:

Título original: The Hangover Part II
Gênero: Comédia
Ano de lançamento: 2011
Direção: Todd Phillips
Elenco: Bradley Cooper
             Ed Helms
             Zach Galifianakis
             Nick Cassavetes

       Quando assisti a "Se Beber, Não Case", de 2009, experimentei uma comédia completamente nova, empolgante do ponto de vista narrativo. É um filme ágil, com uma piada por cima da outra, superando e muito a maioria dos longas do gênero. É uma pena perceber, portanto, que sua continuação acabe de certa forma decepcionando, caindo nas armadilhas comuns e deixando a inventividade de lado para apostar em repetições e exageros.
      Novamente, o longa gira em torno de uma despedida de solteiro mal sucedida. Dessa vez, o casamento é de Stu (Ed Helms), na Tailândia. Alan (Zach Galifianakis) não gosta da ideia de ter um intruso no bando: Teddy (Mason Lee), o irmão da noiva. Stu, Alan e Phil (Bradley Cooper), acordam desesperados em um hotel de quinta categoria sem lembrar de nada o que acontecera na noite passada. Alan está com a cabeça raspada, e Stu tem uma tatuagem no rosto idêntica à do Mike Tyson. Em vez de um bebê, dessa vez o intruso é um macaco fumante e pervertido, enquanto que o desaparecido da vez não é Doug (Justin Bartha), e sim Teddy. E assim começa tudo de novo: o trio desmemoriado anda perdido em Bangkok em busca do paradeiro de Teddy.
      Com todos esses ingredientes, nada melhor do que a mesma equipe de sempre para não deixar o ritmo lento tomar conta de toda a projeção. Alan continua sendo o mais sem noção do trio, dono de uma infantilidade e uma ingenuidade hilárias. Phil, mesmo com ar de garotão, demonstra ser o centro da razão do trio, além do mais, ele é um pai de família, e tem que ter alguma responsabilidade.  Já Stu é o mais certinho quando sóbrio, mas comete as maiores loucuras quando está bêbado. Ainda temos a volta do impagável Chow (Ken Jeong), que surge no primeiro filme como "vilão" e nesse está mais inspirado ainda, mas ajudando o trio central.
      Uma coisa que não falta para "Se Beber, Não Case - Parte II" é coragem. São raras as comédias norte-americanas a fazer uso de nudez e de piadas escatológicas com tamanha naturalidade e eficiência. Logo na cena do hotel, somos apresentados ao "membro" de Chow. Algum tempo depois, vemos toda a perversão do pequeno macaco traficante. E mais adiante, naquela que é sem dúvida a cena mais hilária de todo o longa, uma, digamos, prostituta, faz revelações surpreendentes sobre a noite de amor que teve com Stu, deixando a todos perplexos. Impagável. Talvez uma das cenas mais engraçadas que já assisti.
      O problema do filme está no seu ritmo. Até a cena citada acima, o filme demora a engrenar. O primeiro ato, principalmente, é totalmente lento, algo não recomendado para comédias. São poucas as cenas realmente inspiradas, sem que a graça tenha sido forçada pelos gritos histéricos de Stu ou por qualquer tentativa de humor físico. O bom senso é por vezees deixado de lado, principalmente na cena em que um personagem descobre estar sem um dedo e nem se estressa. Algo corriqueiro, certo? Afinal, o que é um dedo pra quem nasceu com 20? Isso sem citar a cena da "entrada triunfal" no casamento, que parecer sido tirada de qualquer comédia da Sessão da Tarde.
      Mas com todos os percalços, "Se Beber, Não Case - Parte II" é uma diversão agradável. Sem o mesmo vigor e ritmo que fizeram a fama de seu predecessor, mas ainda assim um filme bom de assistir despretensiosamente, o que é o básico de qualquer comédia.