sábado, 31 de agosto de 2013

Opinião: "Superbad - É Hoje"

Avaliação:




Título original: Superbad
Gênero: Comédia
Ano de lançamento: 2007
Direção: Greg Mottola
Elenco: Jonah Hill
            Michael Cera
            Cristopher Mintz-Plasse
            Emma Stone
            Seth Rogen

      Ah, o Ensino Médio... Quando vivemos essa fase importante da vida, aguardamos  ansiosamente o fim dos estudos para fazermos uma faculdade, conquistar a independência financeira, sair da casa dos pais, etc.  Criamos amizades, verdadeiros vínculos para uma vida toda. Vivemos amores e/ou desilusões que ficam marcadas para sempre. Passamos por aventuras, com nossos amigos, das quais nunca esqueceremos. É uma fase de autoconhecimento, amadurecimento, experiências novas, enfim, uma das melhores fases da vida.
      É nesse clima que se desenvolve "Superbad - É Hoje", longa de 2010 dirigido por Greg Mottola e produzido por Judd Apatow, responsável pelas marcantes comédias "O Virgem de 40 Anos", "Ligeiramente Grávidos" e "O Âncora". O roteiro é escrito por Evan Goldberg e Seth Rogen, que também atua no longa. Rogen, aliás, é responsável pelos roteiros de algumas outras comédias notáveis, como "Segurando as Pontas" e "O Besouro Verde", este último também protagonizado por ele. Ou seja, é um dos multifunções mais atuantes de Hollywood atualmente.
      Vamos à história: Seth (Jonah Hill) e Evan (Michael Cera) são dois amigos inseparáveis. Todos de nós temos um, ou já tivemos. É aquele amigo que não sai da sua casa, te xinga o tempo todo, faz piada de você na frente dos outros, mas mesmo assim está sempre ao seu lado te escutando e te apoiando. Enfim, os dois estão no último ano do colegial, equivalente ao ensino médio no Brasil, e são convidados a uma festa de despedida na casa da bela Jules (Emma Stone), com a condição de conseguirem levar as bebidas. Para isso, contam com a ajuda do "nerd-master" Fogell (Christopher Mintz-Plasse), um tímido garoto que descola uma identidade falsa com o nome de McLovin afim de comprar bebidas se passando por maior de idade.
      O problema começa com Fogell/McLovin sendo assaltado na loja de bebidas. A partir daí, ele parte em uma jornada pela noite da cidade com os dois policiais que atenderam à ocorrência, Michaels (Seth Rogen) e Slater (Bill Hader), enquanto seus amigos supõem que ele foi preso e tentam conseguir bebidas à sua própria maneira, se metendo em mais confusões a cada cena.
      O filme traz um novo fôlego ao gênero, com piadas rápidas e inteligentes. E embora traga um número de palavrões e conversas de cunho sexual acima do comum, esses nunca são gratuitos, já que trata da realidade de conversas masculinas adolescentes. Por esse motivo, o longa tende a agradar mais aos garotos do que às garotas.
      A energia de "Superbad - É Hoje" está na alma adolescente de seus personagens. Michael Cera interpreta o típico nerd desajeitado, tipo que voltaria a fazer no mesmo ano no razoável "Juno" e anos mais tarde no maravilhoso "Scott Pilgrim Contra o Mundo". Jonah Hill, como Seth, vive um sujeito mais descolado, menos tímido que seu amigo, mas ainda sim um nerd perseguido pelos valentões da escola. Já Cristopher Mintz-Plasse, como o impagável McLovin, é uma das melhores coisas do longa, como o maior dos nerds tímidos (com direito a figurino incomum aos adolescentes e óculos) tentando se passar por adulto ao lado dos dois policiais que só querem aproveitar a noite ao lado de seu mais novo amigo.
      Além de fazer rir, "Superbad" traz à tona um saudosismo, uma certa nostalgia de tempos outrora vividos. E, se escrevi "outrora" na frase anterior, significa que o adolescente que fui evoluiu e criou um vocabulário mais extenso. No entanto, se escrevi em um tom mais informal nos primeiros parágrafos, e se senti saudades dos bons tempos da adolescência e me identifiquei com a amizade entre os personagens, é porque esse adolescente que fui ainda está em mim, e espero que não vá embora. E é isso, essa capacidade de nos fazer rir e ao mesmo tempo de emocionar, que faz desse um belo e inesquecível filme.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Opinião: "Salt"

Avaliação:

Título original: Salt
Gênero: Ação
Ano de lançamento: 2010
Direção: Philip Noyce
Elenco: Angelina Jolie
           Liev Schreiber
           Chiwetel Ejiofor
           Daniel Olbrynchski

       "Salt" poderia até ser considerado um filme com temática atual se fosse lançado durante a década de 1980, no auge da Guerra Fria. A tensão entre russos e americanos naquela época era infinitamente maior do que a "amizade" dos dias de hoje. Mesmo conhecendo isso, o diretor Philip Noyce, talvez saudoso daqueles tempos, resolve criar em pleno século XXI um filme baseado em um assunto datado, já desgastado com inúmeras produções de temática semelhante.
      O longa começa com Evelyn Salt (Angelina Jolie), agente da CIA que é prisioneira na Coreia do Norte (talvez sim um assunto atual) negando veementemente ser uma espiã americana, ambiguidade que permeará toda a trama. Algum tempo após sua libertação, Salt é convocada para interrogar um desertor russo, Orlov (Daniel Olbrychski). No meio do interrogatório, Orlov conta que a agente americana é na verdade uma espiã russa que teria a missão de matar o presidente americano. Após negar o fato, a bela agente foge da CIA e inicia uma busca pelo seu marido desaparecido e a tentativa de esclarecer a "verdade"
      A direção de Philip Noyce é interessante, segurando a tensão na dúvida pela origem de Salt por boa parte da projeção. Algumas cenas de ação são boas, bem coreografadas e filmadas, mas não todas. Em alguns momentos vemos Salt pular de um caminhão para o outro sem sofrer qualquer arranhão ou até mesmo sentir dor com o impacto, isso se desconsiderarmos ainda a inércia, que a teria derrubado no primeiro salto. Há ainda certos excessos, como agentes não hesitarem em atirar em Salt mesmo vendo que ela está sobre um caminhão carregado de combustível. Temos também a câmera tremida, que impede que acompanhemos cem por cento das cenas mais movimentadas.
      O roteiro, escrito por Kurt Wimmer, que também roteirizou "Esfera", "Equilibrium" e "Ultravioleta", estabelece Salt como um Schwarzenegger de saias. O exército de um homem só é substituído competentemente pelo exército de uma mulher só. A protagonista enfrenta tiros, explosões e lutas corporais sem sequer desarrumar os cabelos, demonstrando uma segurança convincente. Mas o que compromete o roteiro é mesmo a visão unidimensional que muitos americanos têm dos russos, vendo-os como boêmios bêbados e sujos. Sempre que os vemos estão com barba por fazer, consumindo bebidas e em lugares abandonados, como o navio que serve como base de Orlov, vilão que por sua vez é retratado como um líder cruel que não hesita em matar certo personagem apenas para testar a fidelidade de Salt, algo forçado demais,inverossímil.
      A atuação de Jolie é convincente. Sua segurança e seu carisma em cena nos induzem a acreditar que ela seria mesmo capaz de tais proezas. O resto do elenco é correto, o básico para um filme de ação, com destaque para Liev Schreiber como um agente da CIA que guarda um importante segredo. Mesmo com o roteiro um pouco datado e com alguns excessos, "Salt" diverte principalmente devido à tensão e a ambiguidade dos personagens e pela força de Angelina Jolie, que assim como Tom Cruise, faz com que certas cenas de ação pareçam fáceis de fazer.


terça-feira, 19 de março de 2013

Opinião: "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei"

Avaliação:

Título original: The Lord of The Rings: The Return of The King
Gênero: Aventura
Ano de lançamento: 2003
Direção: Peter Jackson
Elenco: Elijah Wood
             Ian McKellen
             Viggo Mortensen
             Sean Astin
             Liv Tyler
             Orlando Bloom

    Poucas são as trilogias que conseguem manter um nível de excelência em todos os seus filmes. Geralmente algo se perde no último capítulo, como na trilogia "Homem-Aranha", ou o início é insatisfatório, como na segunda trilogia de "Star Wars". Mas "O Senhor dos Anéis" é uma bela exceção. Foram três filmes, de três horas cada, absolutamente perfeitos de todos os pontos de vista.
       O terceiro longa começa mostrando a trágica história de Smeagle (Andy Serkis), ainda humano, encontrando o Um Anel e roubando-o de seu amigo. Passados alguns anos, vivenciamos a transformação dele de um humano comum na criatura que conhecemos nos longas anteriores. Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin) continuam em sua tenebrosa jornada para a destruição do anel. Gollum os leva por um caminho tortuoso, que serve para cansar ainda mais os viajantes e aumentar a tensão entre eles. A criatura consegue afastar de vez os dois hobbits, chegando a fazer com que Frodo expulse Sam de sua presença após um incidente com os alimentos do grupo. À medida que o tempo passa, Frodo fica mais irritadiço e estressado, devido à presença do Um Anel. Seu pescoço chega a ficar ferido pela corrente que segura o artefato, evidenciando assim o peso desse fardo. Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd) são encontrados por Gandalf (Ian McKellen), e levados à Rohan.
      Traído por Gollum, Frodo é levado à toca da Laracna, aranha gigante que vive na fronteira de Mordor. É uma das cenas mais apavorantes de toda a trilogia, principalmente para mim, que tenho certa aversão a esses aracnídeos. Longe dali, a espada pertencente a Isildur, antigo rei dos humanos, é restaurada e entregue a Aragorn, para que ele lidere um exército de fantasmas amaldiçoados na luta contra as forças de Sauron.
      Mesmo com todo esse enredo, "O Retorno do Rei" não é em momento algum chato ou arrastado. Muito pelo contrário. A sensação é de que faltou tempo para tanta história, devido à velocidade que sentimos tudo passar. A direção de Peter Jackson é mais uma vez magnífica, dando atenção aos mínimos detalhes. Apesar de ter várias narrativas diferentes ocorrendo ao mesmo tempo, Jackson confere personalidade e importância a cada uma delas, sem jamais deixar uma de lado para favorecer a outra. Todos os lados da história são mostrados com a mesma intensidade. Os planos filmados pelo diretor tornam tudo ainda mais épico, desde a linda tomada aérea da cidade de Minas Tirith até o planos abertos da impressionante batalha de Pellenor, uma das melhores batalhas de todos os tempos. A montagem é magnífica, o que permite que acompanhemos o desenrolar de tudo sem perder nenhum detalhe.
     O elenco formidável dá alma à história. Elijah Wood compõe Frodo com ainda mais emoção e carga dramática, fazendo-nos sentir junto com ele o peso do Um Anel. Sean Astin interpreta Sam de forma emocionante, mostrando preocupação real com o destino que assola seu companheiro hobbit. Ian McKellen nos mostra Gandalf ainda mais imponente e senhor da situação, chegando até mesmo a burlar as regras de um líder para que a Terra-Média seja salva. E se o trio composto por Aragorn, Legolas e Gimli convence muito como os braços fortes por trás da batalha, é de um boneco digital que vem a "atuação" mais impressionante: novamente com a voz do ótimo Andy Serkis, Gollum/Smeagle é o melhor personagem de toda a série, usando de artifícios como a falsa amizade para se aproximar de Frodo e roubar-lhe o anel. É uma criatura perturbada, dependente do artefato, e brilhantemente construída durante esses três longas.
      Tudo isso sem esquecer o importante elenco secundário, que confere ainda mais riqueza à narrativa. Temos Denethor (John Noble), o regente de Gondor, como um líder louco que não pretende entregar o trono a Aragorn enquanto estiver vivo. Éowyn (Miranda Otto), sobrinha do rei Théoden, demonstra sua força de vontade desde o início, mas principalmente na batalha, onde se disfarça de homem e derrota "aquele que nenhum homem poderia derrotar". Faramir, interpretado por David Wenham, sofre por não ser amado por seu pai, e obedece sua loucura apenas para conquistar seu respeito. Não posso deixar de citar o lindo trabalho de Liv Tyler como Arwen, que toma uma dolorosa e importante escolha.
      Mais uma vez, a parte técnica de "O Senhor dos Anéis" é magnífica. Gollum está ainda mais real. Os efeitos especiais da batalha são de deixar qualquer um boquiaberto, principalmente a composição dos olifantes e do exército dos mortos. Sem deixar de comentar, claro, a terrível Laracna, apavorantemente real e assustadora. A maquiagem premiada está outra vez primorosa, compondo personagens perfeitos do ponto de vista técnico, incluindo aí hobbits, orcs, elfos, guerreiros, etc.
      A fotografia, também premiada, é mais uma vez épica. Desde o tom branco de Minas Tirith, passando pelo cinza de Osgiliath e chegando à escuridão que aumenta à medida que chegamos mais perto da Montanha da Perdição, a equipe de Jackson nos entrega um trabalho fabuloso. A mesma fotografia capaz de nos deixar tensos à caminho da destruição do Anel também nos alivia ao chegarmos ao Condado, quando avistamos as cores vibrantes, a linda grama impecavelmente verde e o céu claríssimo. Ao chegar ali, imaginamos que os habitantes do Condado nem chegaram a imaginar o que houve longe dali, dada a paz vivida por eles após todos os acontecimentos.
      Vencedor de 11 Oscars, "O Retorno do Rei" encerra a trilogia de "O Senhor dos Anéis" de forma perfeita. Impossível não viver a aventura junto com os pequeninos hobbits, ou as batalhas enfrentadas por Gandalf, Aragorn, Legolas e Gimli. Impossível não se apaixonar pelos personagens criados por J. R. R. Tolkien e trazidos fielmente à tela grande por Peter Jackson, que conseguiu transformar o antes infilmável em uma obra digna de figurar entre as melhores da História do Cinema. Como eu disse na crítica de "A Sociedade do Anel", como é bom voltar à Terra-Média. Sempre que possível, faça o mesmo. É algo revigorante, que compensa e muito nosso amor ao Cinema.


domingo, 3 de março de 2013

Opinião: "As Aventuras de Agamenon, o Repórter"

Avaliação:

Título original: As Aventuras de Agamenon, o Repórter
Gênero: Comédia
Ano de lançamento:2012
Direção:  Victor Lopes
Elenco: Hubert
            Luana Piovani
            Marcelo Adnet
            Marcelo Madureira

      "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" é, com toda a certeza, o pior filme brasileiro que já assisti. Sei que não começo meus comentários assim, direto ao ponto, mas não tive ainda a honra de assistir algo pior feito em nosso país. O filme conta a história de Agamenon Mendes Pedreira, repórter do jornal "O Globo" que... Bem... Qual é o roteiro? Deixa eu ver se consigo extrair alguma coisa daqui... Agamenon, inicialmente interpretado por Marcelo Adnet é repórter, vai à guerra e sofre graves deformações, passando a ser interpretado por Hubert, do Casseta & Planeta. Depois disso, e antes também, é uma sucessão de piadas infames e situações vergonhosas. E é isso. Sem início convincente, sem rumo, sem um caminho a seguir.
      O filme utiliza de uma narrativa em forma de falso documentário para dar um ar de realismo. Algumas cenas são gravadas como em "Forrest Gump", onde o protagonista participa de importantes momentos na História. O documentário é apresentado por Pedro Bial em uma de suas participações mais vergonhosas em frente às câmeras (sim, superou Big Brother). A "história" do protagonista é narrada por uma das maiores atrizes nacionais de todos os tempos: Fernanda Montenegro, emprestando sua importante voz a esse projeto infame.
      No desenrolar da "história", há personagens importantes da história brasileira fazendo declarações sobre Agamenon. Mais inacreditáveis do que os dois artistas citados acima são as participações especiais de, acreditem, Fernando Henrique Cardoso e Paulo Coelho. Difícil acreditar que tais pessoas tenham lido o "roteiro" e aceitado participar desse desastre. Por mais que o cachê fosse bom, não valeria à pena manchar a sua reputação com um projeto tão infame.
      Há um sem-número de piadas sem graça, tiradas escatológicas ridículas, nomes de personagens com duplo sentido e trocadilhos vindos da década de 1990, quando o Casseta & Planeta era uma novidade. O público consumidor de humor no Brasil mudou, ficou mais exigente, e o programa de Marcelo Madureira e cia. não acompanhou essa evolução. Deveriam se espelhar na ótima turma do "Porta Dos Fundos", que faz vídeos realmente engraçados sem utilizar piadas batidas do século passado ou nomes de pessoas como Jacinto Leite Aquino Rego...
      Além das piadas sem graça, há ainda a falta de bom senso. O filme é capaz de fazer piada com a morte da princesa Diana, com os atentados de 11 de setembro de 2001 e com o terrível tsunami que assolou a Indonésia no final de 2004. Tudo isso sem um pingo de remorso ou consideração com quem sofreu tais tragédias. Sei que há o humor negro, mas esse humor utilizado no filme passa muito longe disso. Isso sem citar as importantes figuras históricas já falecidas que têm suas imagens vinculadas ao filme de maneira vergonhosa, como Albert Einstein, Sigmund Freud, Mahatma Gandhi e Orson Welles. Demonstram tanto conhecimento de cinema que mostram esse último personagem dizendo apenas uma palavra várias vezes: Rosebud, a palavra-chave de "Cidadão Kane", como se fosse a única coisa memorável dessa obra magnífica.
      Por fim, "Agamenon" é uma terrível perda de tempo. Sua curtíssima duração passa como se fossem quatro horas de filme, tamanha sua ridicularia. É extremamente cansativo. Se você está procurando uma comédia engraçada, não é aqui que vai encontrar. Não faço uso de bebidas alcoólicas, mas tenho ressaca, sim, no dia seguinte à assistir uma temeridade dessas.



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Opinião: O Senhor dos Anéis: As Duas Torres

Avaliação:

Título Original: The Lord of The Rings: The Two Towers
Gênero: Aventura 
Ano de lançamento: 2002
Direção: Peter Jackson
Elenco: Elijah Wood
             Ian McKellen
             Viggo Mortensen
             Sean Astin
             Liv Tyler
             Orlando Bloom
 
       No começo de "As Duas Torres", é explicado o que houve com Gandalf (Ian McKellen) em sua luta com o temido Balrog. Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin) continuam sua jornada em busca da Montanha da Perdição, onde destruirão o Um Anel. Aragorn (Viggo Mortensen), Legolas (Orlando Bloom) e Gimli (John Rhys-Davies) partem para resgatar Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd), sequestrados pelos uruk-hai.
      Frodo e Sam percebem estar sendo perseguidos por Gollum, e o aprisionam. A criatura se oferece a levá-los ao seu destino, em troca de ser solto da corda élfica que o machucava. Frodo aceita, e até se compadece da situação de Smeagle, nome de Gollum antes de ser modificado pelo Anel. Mas Sam não tem pena da criatura, contrariando-a sempre que possível. Frodo começa a demonstrar indícios de que também está sendo afetado pelo Anel, tornando-se mais agressivo e impaciente com Sam.
      Longe dali, Merry e Pippin aproveitam um combate entre os orcs e os uruk-hai para fugirem para a floresta, habitada por árvores gigantes e sábias conhecidas como ents. Eles tentam convencer os ents a ajudarem os humanos em sua batalha contra as forças de Sauron e Saruman, mas os sábios mostram-se relutantes. (Alerta de spoiler: não leia a partir daqui se ainda não tiver visto o filme) Seguindo o rastro dos hobbits, Aragorn e seus companheiros entram na floresta e são surpreendidos pelo mago branco: Gandalf, que havia derrotado seu inimigo e se tornado mais poderoso do que já era. Eles partem juntos para o reino de Rohan, onde o rei Théoden está preso em um  feitiço de Sauron. (Fim dos spoilers)
      "As Duas Torres" tem um desenrolar mais lento que seu predecessor. Os diálogos são bem mais trabalhados, deixando um pouco a ação de lado. Os personagens estão mais ricos, ambíguos, com dúvidas. Frodo chega até a puxar a espada para lutar com Sam, seu melhor amigo. Faramir (David Wenham), irmão de Boromir, demonstra indecisão ao sequestrar os pequenos hobbits, querendo tomar o Anel para si mas ao mesmo tempo sentindo pena dos pequeninos em uma jornada tão difícil. Mas ninguém demonstra tanta ambiguidade quanto Gollum/Smeagle. Inicialmente disposto a roubar o Anel que passou tanto tempo com ele, a criatura passa a mostrar um lado mais dócil. E é aí que surge o ótimo combate psicológico entre sua parte boa (Smeagle) e sua parte má (Gollum). A persona gentil se sobressai, chegando até a caçar para os hobbits e despertando uma amizade com Frodo, a quem chama de mestre. É sem dúvida o melhor personagem de toda a série.
      Peter Jackson faz um ótimo trabalho de direção, ainda mais seguro. Além de uma abordagem mais intimista dos personagens, o diretor sente tanta segurança a ponto de modificar um pouco a história original. Mesmo que tenha acendido um ódio dos leitores mais radicais da obra de J. R. R. Tolkien, Jackson se saiu muito bem, tornando a história mais ágil e empolgante. Os fãs de obras literárias e até alguns críticos devem se abster das reclamações, pois devemos sempre avaliar livro e filme separadamente. Muitas vezes ouço, ou leio: "Ah, o livro é bem melhor", ou "Como estragaram a obra que eu tanto gostava". Mas nada foi estragado, nada foi "modificado". Foi, sim, criada uma nova obra baseada em um livro. Se essa adaptação for ruim ou não estraga o livro, torna-se apenas um filme ruim. Longe de dizer que "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres" seja ruim, muito pelo contrário.
      Os planos abertos, assim como em "A Sociedade do Anel", são um espetáculo à parte. As cenas de ação são filmadas com maestria, tendo destaque a incrível batalha no Abismo de Helm. Humanos, elfos e um anão protegendo uma fortaleza cercada por cerca de dez mil inimigos, entre orcs e uruk-hai. O enfrentamento é muito bem filmado, mesmo sendo à noite e debaixo de muita chuva. Peter Jackson conseguiu recriar uma das maiores batalhas da literatura mundial em forma de filme, tornando-se assim uma das melhores cenas de batalha da história do cinema.
      Novamente somos presenteados com uma técnica primorosa. Desde a fotografia épica até a direção de arte construindo lindos cenários internos, ricos em detalhes, passando pelo figurino, tudo segue o padrão Peter Jackson de qualidade. Mas o que se sobressai são os efeitos visuais, vencedores do Oscar. O diretor e sua equipe trazem para a tela de modo perfeito a criação de Tolkien, antes considerada infilmável, seja pelos hobbits menores que humanos, seja por árvores que andam e falam, mas principalmente por Gollum. Nunca antes tivemos um personagem criado por animação computadorizada tão real. Andy Serkis emprestou seus movimentos e sua voz para o personagem, sendo assim responsável pela ótima "atuação". O ator contracenava com Elijah Wood e Sean Astin, para que depois fosse substituído pelo boneco digital, tornando a atuação de seus parceiros mais fácil e real.
      "As Duas Torres" se encerra com a ótima frase proferida por um importante personagem: "A batalha por Helm terminou, mas a batalha pela Terra Média está apenas começando". O ótimo longa tem personalidade própria, gerou polêmicas entre os fãs dos livros, mas prepara muito bem o terreno para o desenrolar da história: a grande batalha contra as forças de Saruman e a árdua jornada para a destruição do Um Anel.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Opinião: "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel"

Avaliação:

Título original: The Lord of The Rings: The Fellowship of The Ring
Gênero: Aventura
Ano de lançamento: 2001
Direção: Peter Jackson
Elenco: Elijah Wood
             Ian McKellen
             Viggo Mortensen
             Sean Astin
             Liv Tyler
             Orlando Bloom

       Foi em 2001 que conheci a Terra Média, uma terra mágica habitada por hobbits, magos, anões, elfos e também por orcs, nazgûl, trolls e uruk-hai. Eu tinha apenas 13 anos, não tinha acesso aos livros de J. R. R. Tolkien, e quando descobri esse mundo mágico, fiquei maravilhado. Não por ser uma história fantasiosa cheia de efeitos especiais mirabolantes ou cenas de ação espetaculares, como a maioria das crianças/pré-adolescentes avalia um filme. Me encantei com a saga por causa de seu ritmo ágil, por realmente ter uma história empolgante a se contar. Diferentemente dos guilty pleasures da nossa infância (aqueles filmes que gostávamos, ou gostamos até hoje, mas que com o passar do tempo percebemos os furos imensos), "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" é aquele tipo de filme que se torna melhor a cada revisita.
      O longa começa com a narração em off de Galadriel (Cate Blanchett), contando a história do "Um Anel" forjado por Sauron para conquistar os reinos da Terra Média. O rei dos humanos, Elendil, é morto por Sauron. Seu filho, Isildur, toma a espada do pai e decepa o dedo de Sauron, que portava o Anel. O inimigo é enfim derrotado, e Isildur, quando recomendado a destruir o Anel, é seduzido por ele, e toma-o para si. O novo rei dos humanos torna-se arrogante sob efeito da jóia, mas logo a perde. O tempo passa, o Anel está nas mãos de Bilbo (Ian Holm), um hobbit de 111 anos, mas que não aparenta mais de 60. O mago cinzento Gandalf (o ótimo Ian McKellen, que também interpreta brilhantemente Magneto na trilogia "X-Men") percebe que seu amigo está demorando mais do que devia para envelhecer, e se dá conta que o hobbit porta o Anel. O mago então convence Bilbo a deixar o Condado, e o Anel é entregue a Frodo (Elijah Wood), um jovem hobbit sobrinho de Bilbo, para que esse o leve para o vilarejo de Bree, onde eles decidiriam o que fazer.
      Frodo parte, acompanhado de seu melhor amigo, Sam (Sean Astin), mas não sem antes encontrar mais dois dos seus: Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd), dois hobbits ávidos por aventuras e criadores de confusão. Eles conhecem Aragorn (Viggo Mortensen) herdeiro direto do trono de Gondor, que lhes oferece proteção até eles encontrarem novamente Gandalf. Mas nem tudo sai como o esperado, e eles são atacados por Nazgûl, espectros protetores do Anel, almas dos antigos reis da Terra Média que foram corrompidos pelos anéis criados por Sauron, que agora estava juntando forças para retornar à vida. Frodo é gravemente ferido, e é levado às pressas para Valfenda, território dos elfos. Lá, instaura-se uma reunião que decide que o Anel precisa ser destruído, e apenas uma pessoa pura, inocente e corajosa poderia levá-lo. Frodo se oferece a portar o objeto até à Montanha da Perdição, em Mordor, território de Sauron. Alguns se prontificam a acompanhá-lo: seus amigos hobbits; Aragorn; o elfo Legolas (Orlando Bloom); o anão Gimli (John Rhys-Davies); Gandalf; e Boromir (Sean Bean), filho do regente de Gondor. Assim forma-se A Sociedade do Anel.
      O Anel, com toda a maldade de Sauron, influencia seu portador. Somente alguém de coração puro como Frodo poderia portá-lo sem ser corrompido. O sábio Galdalf usaria o Anel sem pretender mal algum, mas temia que a jóia o usasse com objetivos escusos, o que o tornaria mais letal por ser um mago. Já Boromir pretendia tomar o Anel, pois pensava que assim seria invencível diante dos inimigos. A ambiguidade do personagem é algo que torna o filme ainda mais rico. Não são todos os personagens completamente bonzinhos, assim como nós humanos não somos completamente bonzinhos. Temos defeitos, falhas, ganância, somos corruptíveis, e isso é bem ilustrado em toda a história, onde mais tarde há brigas, desentendimentos, intrigas.
      O ritmo imprimido pelo diretor Peter Jackson é ágil. A história não fica parada, a cada momento somos surpreendidos com novos fatos, batalhas, perseguições, o que torna agradável a experiência de mais de três horas. Os planos criados por Jackson são belíssimos, usando locações naturais em paisagens espetaculares na Nova Zelândia. As cenas de ação são perfeitamente coreografadas e filmadas. A montagem é ótima, sem cortes abruptos, permitindo que acompanhemos o que acontece nas cenas mais movimentadas.
      A parte técnica é impecável, tendo sido premiada com quatro Oscars: melhor maquiagem, melhores efeitos visuais, melhor fotografia e melhor trilha sonora. Essa última é responsável por dar ainda mais um tom épico à narrativa. Já a fotografia é muito bem executada. Temos o incrível contraste de muitas cores no Condado com o tom quase monocromático de Isengard e Mordor, territórios malignos onde predominantemente temos tempo escuro ou com chuva, passando ainda pelo dourado dominante em Valfenda. Tudo isso sem criar diferenças gritantes entre os ambientes, permitindo ao espectador perceber cada isso como parte de um todo, tornando tudo orgânico.
      Temos ainda os espetaculares efeitos visuais. Seja na batalha inicial na derrota de Sauron, nas aparições dos sombrios espectros, na batalha de Gandalf com o Balrog, ou simplesmente por transformar homens normais em anões ou hobbits, somos agraciados com efeitos de primeira, que acrescentam um ar de naturalidade à narrativa, ajudando na imersão do espectador à história. Ainda merecem ser citadas a maquiagem e a direção de arte. A primeira é responsável pela incrível caracterização dos orcs e dos Uruk-hai, assim como o tom de pele perfeito dos elfos e suas orelhas pontudas. A direção de arte cria lindos cenários e ambientes com um detalhismo impressionante. Isso sem citar o figurino, que mesmo sendo para uma história de magos, elfos e hobbits, torna tudo bonito e natural sem ser brega.
      Talvez a maior virtude de "O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel" e suas duas sequências seja contar uma história fantasiosa sem se tornar infantil, e isso graças a Peter Jackson. O brilhantismo do filme reside na capacidade do diretor de tornar um livro de 468 páginas cheias de cânticos em uma história épica e forte, sem descuidar da parte técnica e das características próprias de cada personagem. Como é bom voltar à Terra Média. Sempre que possível, faça o mesmo!


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Opinião: "Se Beber, Não Case - Parte II"

Avaliação:

Título original: The Hangover Part II
Gênero: Comédia
Ano de lançamento: 2011
Direção: Todd Phillips
Elenco: Bradley Cooper
             Ed Helms
             Zach Galifianakis
             Nick Cassavetes

       Quando assisti a "Se Beber, Não Case", de 2009, experimentei uma comédia completamente nova, empolgante do ponto de vista narrativo. É um filme ágil, com uma piada por cima da outra, superando e muito a maioria dos longas do gênero. É uma pena perceber, portanto, que sua continuação acabe de certa forma decepcionando, caindo nas armadilhas comuns e deixando a inventividade de lado para apostar em repetições e exageros.
      Novamente, o longa gira em torno de uma despedida de solteiro mal sucedida. Dessa vez, o casamento é de Stu (Ed Helms), na Tailândia. Alan (Zach Galifianakis) não gosta da ideia de ter um intruso no bando: Teddy (Mason Lee), o irmão da noiva. Stu, Alan e Phil (Bradley Cooper), acordam desesperados em um hotel de quinta categoria sem lembrar de nada o que acontecera na noite passada. Alan está com a cabeça raspada, e Stu tem uma tatuagem no rosto idêntica à do Mike Tyson. Em vez de um bebê, dessa vez o intruso é um macaco fumante e pervertido, enquanto que o desaparecido da vez não é Doug (Justin Bartha), e sim Teddy. E assim começa tudo de novo: o trio desmemoriado anda perdido em Bangkok em busca do paradeiro de Teddy.
      Com todos esses ingredientes, nada melhor do que a mesma equipe de sempre para não deixar o ritmo lento tomar conta de toda a projeção. Alan continua sendo o mais sem noção do trio, dono de uma infantilidade e uma ingenuidade hilárias. Phil, mesmo com ar de garotão, demonstra ser o centro da razão do trio, além do mais, ele é um pai de família, e tem que ter alguma responsabilidade.  Já Stu é o mais certinho quando sóbrio, mas comete as maiores loucuras quando está bêbado. Ainda temos a volta do impagável Chow (Ken Jeong), que surge no primeiro filme como "vilão" e nesse está mais inspirado ainda, mas ajudando o trio central.
      Uma coisa que não falta para "Se Beber, Não Case - Parte II" é coragem. São raras as comédias norte-americanas a fazer uso de nudez e de piadas escatológicas com tamanha naturalidade e eficiência. Logo na cena do hotel, somos apresentados ao "membro" de Chow. Algum tempo depois, vemos toda a perversão do pequeno macaco traficante. E mais adiante, naquela que é sem dúvida a cena mais hilária de todo o longa, uma, digamos, prostituta, faz revelações surpreendentes sobre a noite de amor que teve com Stu, deixando a todos perplexos. Impagável. Talvez uma das cenas mais engraçadas que já assisti.
      O problema do filme está no seu ritmo. Até a cena citada acima, o filme demora a engrenar. O primeiro ato, principalmente, é totalmente lento, algo não recomendado para comédias. São poucas as cenas realmente inspiradas, sem que a graça tenha sido forçada pelos gritos histéricos de Stu ou por qualquer tentativa de humor físico. O bom senso é por vezees deixado de lado, principalmente na cena em que um personagem descobre estar sem um dedo e nem se estressa. Algo corriqueiro, certo? Afinal, o que é um dedo pra quem nasceu com 20? Isso sem citar a cena da "entrada triunfal" no casamento, que parecer sido tirada de qualquer comédia da Sessão da Tarde.
      Mas com todos os percalços, "Se Beber, Não Case - Parte II" é uma diversão agradável. Sem o mesmo vigor e ritmo que fizeram a fama de seu predecessor, mas ainda assim um filme bom de assistir despretensiosamente, o que é o básico de qualquer comédia.