Avaliação:
Título original: Flags of Our Fathers
Gênero: Guerra
Ano de lançamento: 2006
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Ryan Phillippe
Adam Beach
Jesse Bradford
Neal McDonough
Filmes de guerra dificilmente dão a mesma atenção aos dois lados do combate. Geralmente os americanos são os protagonistas, os heróis responsáveis por livrar o mundo de alguma ameaça, seja ela na Segunda Guerra Mundial, no Vietnã, ou no Afeganistão. Os inimigos são sempre mostrados como genocidas cruéis, ao passo que os soldados dos Estados Unidos são certinhos, incorruptíveis, sempre prezando pela honra e justiça. Clint Eastwood resolveu fazer diferente ao mostrar os dois lados de uma mesma história: a batalha na ilha de Iwo Jima, no Japão, na Segunda Guerra. Mas em vez de fazer um filme ele criou dois, sendo um visto pela ótica dos americanos, "A Conquista da Honra", e outro apreciando o lado japonês da história, "Cartas de Iwo Jima".
"A Conquista da Honra" é um longa baseado no livro "Flags of Our Fathers", que conta a história de soldados americanos alçados ao posto de heróis nacionais ao terem hasteado a bandeira americana no alto de um monte na ilha de Iwo Jima, dando assim a falsa ideia de que a batalha havia sido vencida. Três dos soldados são trazidos de volta aos Estados Unidos para serem usados na campanha de arrecadação para o fundo de guerra americano. O filme se baseia mais na campanha e nos conflitos internos dos personagens do que nas batalhas propriamente ditas. Mostra o jogo sujo do governo para manipular os verdadeiros fatos, maquiando a verdade para parecer mais bonita aos olhos do público e assim arrecadar mais.
Os três soldados viajam pelos Estados Unidos como heróis de guerra, pedindo apoio público para o financiamento da guerra. Mas eles sabiam que não haviam feito nada de mais. A bandeira foi hasteada no quinto dia de batalha, sendo que ali ficaram combatendo por mais trinta e cinco dias após o ocorrido. E a bandeira da famosa foto tirada por Joe Rosenthal era a segunda a ser hasteada, já que a primeira havia sido retirada minutos antes. E ambos sabiam também que não eram heróis. Um era mensageiro, o outro era enfermeiro, e o último era apenas um soldado comum, não tendo eles feito nada de mais honroso para merecer tal título.
O longa traça bem o retrato norte-americano da época na composição do soldado Ira Hayes, vivido por Adam Beach. Ira é descendente direto de indígenas, sendo recriminado por onde passa. A sociedade americana da época tratava os índios como inferiores, não os permitindo sequer entrar em um bar. Adam Beach interpreta Ira competentemente, compondo o personagem mais rico e tridimensional do filme.
Clint Eastwood demonstra competência na direção do filme. Os planos abertos que trazem os navios perfilados no mar são de tirar o fôlego. As cenas de batalha, ainda que escassas para um filme do gênero, são maravilhosas; são filmadas com o céu nublado, o que confere um ar mais tenso às cenas. O diretor também acerta ao mostrar pouco os soldados japoneses, sendo que os americanos são atingidos sem que vejamos de onde partiu o tiro ou quem o disparou. Eastwood é competente ao preferir mostrar os dramas de cada soldado com o fardo que é obrigado a carregar para o resto da vida em vez das incessantes e sangrentas batalhas.
Eastwood também não deixa a desejar na técnica do filme. A belíssima fotografia retrata a crueza da guerra, sendo dessaturada, quase sem cor. Os efeitos especiais são extremamente competentes, dando realidade às batalhas.
É uma pena, portanto, que a narrativa não-linear acabe por comprometer o resultado final. As idas e vindas da história nos permitem descobrir, por exemplo, quem vai morrer e quem não vai, tirando assim o impacto das cenas. Os flashbacks constantes tornam-se cansativos a partir da metade do longa, cortando a ação e o ritmo nos momentos mais frenéticos. O longa também pesa a mão no forçado tom documental da parte final, tentando amarrar o longa inteiro em alguns minutos de explicação.
Pode-se assim dizer que Clint Eastwood criou um belo filme sobre de guerra e seus efeitos na vida dos que a ela sobreviveram. Mas deve-se ressaltar que ele foi muito mais feliz ao contar o lado japonês da batalha em seu "Cartas de Iwo Jima", mostrando assim que mesmo que se dê atenção aos dois lados da história, um sempre será melhor conduzido do que o outro.