Avaliação:
Título original: The Curious Case of Benjamin Button
Gênero: Drama, romance
Ano de lançamento: 2008
Direção: David Fincher
Elenco: Brad Pitt
Kate Blanchett
Taraji P. Henson
Julia Ormond
Como seria sua vida se, em vez de nascer jovem, crescer, se desenvolver, e morrer velho, você fizesse o caminho inverso? Se por acaso você nascesse com corpo de um idoso de 80 anos, e com o passar do tempo, fosse ficando mais jovem? Como seriam seus relacionamentos, seus amores, seus temores? São essas perguntas que movem o belíssimo "O Curioso caso de Benjamin Button", dirigido por David Fincher. O roteiro, escrito por Eric Roth, é uma adaptação livre de um conto de F. Scott Fitzgerald de 1921.
Benjamin Button nasce em 1918, ao final da Primeira Guerra Mundial, em Nova Orleans, Estados Unidos. Sua mãe morre no parto, e seu pai, imaginando que o bebê fosse um monstro, abandona-o em frente a um asilo. Na verdade, seu problema é ter nascido com aparência de um idoso de 80 anos, juntamente com diversas enfermidades senis, sendo avaliado pelo médico como tendo pouco tempo de vida. Ele é criado por Queenie (Taraji P. Henson), e, ao contrário do que todos esperavam, ele cresce e rejuvenesce a cada ano que passa, intrigando quem convive com ele. Depois de algum tempo, ele conhece Daisy Fuller, que, na versão adulta interpretada por Kate Blanchett, viria a se tornar o grande amor de sua vida.
Partindo de um conto fantasioso, que poderia gerar um filme vazio, ou até mesmo estranho, o longa torna-se interessante pela reflexão que faz da vida. Button, interpretado por Brad Pitt, é um personagem triste, que ao avaliar sua condição, se dá conta de que verá todos aqueles que ama partirem enquanto ele fica cada vez mais jovem e belo. Isso torna-se um problema ainda maior quando ele avalia seus relacionamentos amorosos, já que para sua companheira o tempo passaria normalmente e ela se tornaria uma mulher de meia-idade e em seguida uma idosa, mas para ele seria peculiarmente doloroso ser um homem de meia-idade e depois um adolescente, para em seguida ser criança.
Benjamin torna-se marujo de um rebocador, e viaja pelo mundo com seus companheiros, mas sempre enviando cartões postais para Daisy. Nessas viagens ele conhece Elizabeth Abbott (Tilda Swinton), que viria a ser sua primeira grande paixão. Voltando para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, ele fica sabendo que Thomas Button (Jason Flemyng) é seu pai, que, arrependido por tê-lo abandonado, decide deixar toda sua fortuna para Benjamin.
Os aspectos técnicos do filme são espetaculares, tendo sido agraciados com três Oscars. Os efeitos especiais são impressionantes, com destaque para a composição de um Brad Pitt senil com pouco mais de um metro de altura. A maquiagem é belíssima, criando cuidadosamente a aparência de Benjamin no começo do longa e de Daisy no final, além da mesma na cama do hospital, tornando Kate Blanchett irreconhecível. Outro ponto de destaque é a fotografia, escurecida na infância/velhice de Benjamin e dourada no seu auge físico.
David Fincher consegue criar um filme belíssimo do ponto de vista
técnico sem esquecer de dar a devida atenção à história. O diretor
divide bem as fases da vida de Benjamin, sendo um visual escuro no
começo, quando ele está debilitado e passa a maior parte do tempo dentro
de casa. Até o dia surge escurecido, quase sempre nublado. Assim que
ele cresce e sai de casa, percebemos o sol raiar, dando indícios da fase
dourada. O mar, onde o personagem vive um bom tempo de sua vida, nunca é
ensolarado, surgindo sempre entre nevoeiros, ou neve, ou tempestades. Mas é só no auge do seu vigor físico que vemos longos períodos ensolarados.
Mas "O Curioso Caso de Benjamin Button" não vive só dos premiados aspectos técnicos. A composição dos personagens também é brilhante. Kate Blanchett cria uma Daisy determinada, apaixonada por balé, com personalidades diferentes a cada fase da vida. Se quando jovem ela é intensa, tagarela, sonhadora, ao chegar a certa idade ela já está mais madura, séria, devido aos desencontros proporcionados pela vida. Brad Pitt encarna o personagem título com segurança. Demonstra felicidade a cada nova descoberta na infância, mas também tristeza e dor a cada perda.
O que move o longa é o amor entre Benjamin e Daisy. Apaixonados desde cedo, nunca puderam se entregar um ao outro completamente, seja por "diferença" de idade, seja por momentos diferentes da vida. É uma história marcada por desencontros até a metade do filme, quando os dois, no auge de suas vidas, decidem viver juntos o amor guardado por anos. E é por amor a Daisy e à filha que Benjamin decide deixá-las, já que em suas condições de rejuvenescimento não poderia ser um pai que a garota precisava. E é a partir desse instante que a trama até então melancólica torna-se triste. As cartas lidas por Caroline ilustram bem o amor do pai que teve que se afastar da filha, mas que nunca a esqueceu.
Mesmo que nenhum de nós viva como Benjamin Button, somos capazes de sentir empatia, devido à emoção que a trama nos passa. A história nos prende, sem se tornar cansativa em momento algum, mesmo durando mais de duas horas e meia. Somos envolvidos na história de tal maneira que saímos da sessão cansados, como se tivéssemos vivido anos a fio com cada personagem. Mas o que realmente marca o filme é a mensagem que ele passa e a reflexão que causa no espectador. Somos levados a refletir sobre nossa vida, nossas escolhas, nossos relacionamentos. Somos confrontados várias vezes com a morte, e levados a pensar se damos a devida atenção às pessoas que nos cercam. Tanto que, numa cena no começo, certo personagem diz: "Nós temos que perder as pessoas que amamos. De qual forma mais saberíamos o quão importantes elas são para nós?" Uma perda é sempre um golpe, mas devemos aprender a lidar com elas.
Também é um filme sobre a beleza da vida, e do quanto é importante ela ser vivida. Assistir ao filme nos faz lembrar de que precisamos ser felizes, precisamos viver. Encerro com outra bela citação do filme, que mesmo dita por um personagem idoso, se encaixaria perfeitamente se imaginássemos nossos defeitos no lugar dos problemas desse senhor: "Sou cego de um olho, não ouço
muito bem.. tenho espasmos musculares e tremores continuos, às vezes
perco a linha do pensamento... Mas sabe de uma coisa? Deus tem me
lembrado sempre da sorte que tenho por estar vivo". E isso basta para tornar "O Curioso Caso de Benjamin Button" inesquecível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário