Avaliação:
Título original: Titanic
Gênero: Drama, romance
Ano de lançamento: 1997
Direção: James Cameron
Elenco: Leonardo DiCaprio
Kate Winslet
Billy Zane
Kathy Bates
Bill Paxton
Filmes são feitos para serem apreciados. Há filmes que vêm e, se não são esquecidos de imediato, são deixados de lado logo que algo novo é lançado. Ontem se falava de "Transformers"; hoje se fala de "Os Vingadores". Se o sucesso do mês é "O Espetacular Homem-Aranha", no final do mesmo mês ele será jogado para escanteio pelo lançamento de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge". Um filme comum pode até ser agradável, e te entreter por algumas horas, mas somente os clássicos ficam guardados no seu coração. Somente os clássicos são revisitados e emocionam a cada nova visualização. Somente os clássicos têm a capacidade de se tornarem ainda maiores, melhores com o passar do tempo. Não desmerecendo os filmes bons lançados todo ano, mas somente os clássicos podem figurar na lista dos melhores da história. E "Titanic" já nasceu clássico. Épico. Emocionante.
Quando James Cameron apresentou o projeto de um filme sobre o Titanic, navio naufragado em 1912, os executivos da Fox torceram o nariz. Não acreditavam que um filme com mais de três horas de duração custando mais de duzentos milhões de dólares (mais caro do que a construção do verdadeiro navio) pudesse pelo menos pagar seus custos de produção. O elenco não era estelar, ainda, mas a megalomania do diretor o impelia a construir um navio idêntico ao original, obrigando o estúdio a construir um novo set de filmagens com um tanque gigantesco para abrigá-lo. Vendo os custos de produção aumentarem assustadoramente e temendo o fracasso iminente, os diretores queriam cortar o filme de Cameron para pouco mais de duas horas, para que tivesse mais exibições e não desse prejuízo. Graças à teimosia do diretor e à sua competência, tivemos a honra de conhecer um filme que marcou toda uma geração. Haviam sido feitos cinco filmes sobre o naufrágio, mas nenhum marcou tanto quanto o de James Cameron.
Durante uma expedição aos destroços do Titanic, a equipe do caçador de tesouros Brock Lovett (Bill Paxton) descobre um cofre com o desenho de uma mulher nua datado de 14 de abril de 1912, o mesmo dia do naufrágio do navio. Uma senhora liga para o capitão dizendo ser Rose Dawson, a moça do desenho, e é convidada a ir ao navio contar sua história. E que história. Logo no começo, Brock pergunta a Rose se ela está pronta para voltar ao Titanic. Essa pergunta deveria ser feita a cada pessoa que decide assistir ao filme. Quem decide por assistí-lo não é apenas um espectador, mas se torna um verdadeiro sobrevivente ao final da projeção. O longa é tão marcante que é difícil não se emocionar com a história de amor durante o naufrágio do maior navio do mundo.
O RMS Titanic foi construído em Liverpool ao longo de três anos. Foi fabricado para ser inafundável, o maior navio do mundo, o navio que nem Deus poderia afundar, como viria a dizer Cal Hockley (Billy Zane) antes da fatídica viagem inaugural. Ali estava Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet), a moça rica de dezessete anos prometida ao herdeiro de uma fortuna de aço. Ali estava Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), um jovem sonhador e nômade, artista talentoso, que ganhou sua passagem para a viagem com uma mão sortuda no pôquer. Sortuda pelo pôquer, fatídica pelo destino, mas sortuda, sim, pelo amor encontrado ali.
Rose é uma jovem de família rica, que está noiva de Cal Hockley. O casamento foi arranjado por sua mãe, Ruth (Frances Fischer), para manter o status da família, mas a jovem não quer casar-se, e trata seu noivo com desprezo. Farta dos acontecimentos, e já vislumbrando seu futuro de aparências ao lado de Cal, ela decide tirar sua vida jogando-se do navio. É ali que ela conhece Jack Dawson, o pobre artista feliz que salva sua vida. A salva de uma queda numa água congelante, e a salva de um casamento frustrado e uma vida infeliz. Creio que não devo me prolongar muito no resumo do filme, sendo que possivelmente todo mundo já o tenha assistido pelo menos uma vez.
James Cameron criou um filme estupendo, de todos os pontos de vista possíveis. A direção de arte do longa é primorosa. Os figurinos são perfeitos, denotando o cuidado da equipe em recriar os trajes da época. A ambientação da época, seja pelos figurinos, objetos de cena ou até mesmo o bar do início do filme, tudo é meticulosamente criado, dando-nos a clara sensação de estarmos realmente em 1912. O mesmo pode se dizer de todos os cenários, onde a riqueza dos detalhes é imensa. Seja no restaurante da primeira classe, ou na escadaria do hall, ou no belíssimo convés, nada foi colocado por acaso no cenário, construído cuidadosamente para dar mais veracidade e capacidade de imersão à trama.
A fotografia, como todos os outros aspectos técnicos, merece destaque. Destaca bem a diferença entre as classes, tão gritante na época. Se na primeira classe temos um tom dourado, brilhante, ressaltando a riqueza e o requinte do local, na terceira classe o tom fosco, branco, quase monocromático, dita a vida pobre e sem luxos dos passageiros. A noite fria também não passa desapercebida, realçando as baixas temperaturas com tons azulados. A sala de máquinas também é um ponto interessante, evidenciando o calor e o abafamento sofridos pelos trabalhadores.
O que dizer dos efeitos especiais de "Titanic"? Basta dizer que são espetaculares, inacreditáveis, fantásticos? Não. Os efeitos especiais, sejam visuais ou sonoros, são um espetáculo à parte. Como já dito anteriormente, o navio não foi construído digitalmente, mas sim feita uma réplica em tamanho real. Os detalhes da destruição do transatlântico são de deixar qualquer um boquiaberto. Desde o choque com o iceberg, passando pelas inundações causadas pela entrada da água, até o naufrágio em si, tudo é espetacularmente real, imergindo o espectador ainda mais na história. Mesmo tendo se passado tantos anos, os efeitos visuais não se tornaram ultrapassados, engrandecendo ainda mais a obra.
Mas "Titanic" não teria sido o sucesso que foi se não fosse sua história. Arriscando em criar uma história de amor fictícia em um acontecimento real, James Cameron acerta ao focar no amor proibido entre Rose e Jack, usando o naufrágio como plano de fundo. Em vez de criar um filme tragédia como tantos que existem, ele preferiu filmar uma espécie de "Romeu e Julieta" durante o naufrágio mais famoso de todos os tempos.Cameron cria uma narrativa envolvente, e por mais que o longa tenha mais de três horas de duração, nunca torna-se cansativo. A história nos envolve surpreendentemente, não por ter sido real, mas pela maneira profunda e intensa que nos é apresentada.
As atuações são emocionantes. Kate Winslet está maravilhosa como Rose, decidida a enfrentar seu noivo e sua mãe para viver o romance com Jack, tendo sido indicada ao Oscar pelo papel. Leonardo DiCaprio nos entrega um Jack seguro, desempenhando bem o papel do jovem sonhador sem destino. É de Jack uma das frases mais tocantes de Titanic, sobre como viver sem ter destino: "Eu tenho tudo que preciso aqui comigo. Eu tenho ar em meus pulmões, algumas folhas de papel em branco. Quero dizer, eu adoro acordar de manhã sem saber o que vai acontecer ou, quem eu vou conhecer, onde eu vou acabar."
Ao final, não tem como não se emocionar com "Titanic". Imaginar que a vida de milhares de inocentes foi ceifada por uma tragédia evitável é horrível. Se nem Deus poderia afundar o navio, os homens que o construíram conseguiram isso sozinhos, levando consigo pessoas importantes e pessoas humildes. A divisão de classe não existe mais, uma vez que na luta pela sobrevivência todos são igualmente humanos.
James Cameron conseguiu. Pagou os custos de produção, e tornou seu "Titanic" a maior bilheteria de todos os tempos, que só seria superada doze anos depois, por ele mesmo com "Avatar". James Cameron conseguiu. Criou um romance emocionante onde só havia tragédia e dor, por mais que o desenrolar da história não tenha sido tão diferente. James Cameron conseguiu. Emocionou o mundo com seu clássico. Mesmo quinze anos depois, com o lançamento em 3D, ainda houve quem chorasse copiosamente ao final da exibição. Então, ao pensar em assistir novamente a esse filme histórico, faça a si mesmo a seguinte pergunta: Você está pronto para voltar ao Titanic?
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