quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Opinião: "A Noiva-Cadáver"

Avaliação:

Título Original: Corpse Bride
Gênero: Animação
Ano de lançamento: 2005
Direção: Tim Burton
Elenco (vozes): Johnny Depp 
                        Helena Bonham-Carter
                        Emily Watson
                        Albert Finney
                        Christopher Lee

      Tim Burton é um diretor famoso por explorar o gótico e o estranho em suas obras. São dele os fascinantes "Edward Mãos-de-Tesoura", "O Estranho Mundo de Jack" e "Os Fantasmas se Divertem", só para citar alguns de sua era mais bem-sucedida. E é nesse perfil sombrio mas divertido que se encaixa "A Noiva-Cadáver", ótima animação de 2005 filmada em stop-motion (técnica que utiliza bonecos de "massinha" em vez da computação gráfica).
      Baseado em um conto russo do século XIX, o roteiro conta a história de Victor Van Dort (voz de Johnny Depp), obrigado por seus pais a casar-se com Victoria Everglot (Emily Watson), proveniente de uma família falida a qual só restou o nome. Victor se apaixona por Victoria, mas não consegue declarar seus votos durante o ensaio do casamento. Envergonhado, ele sai pela floresta ensaiando os tais votos, até que põe a aliança em um galho seco que logo se revela ser a mão de Emily, uma Noiva-Cadáver (Helena Bonham-Carter). Agora casado com Emily, Victor é levado ao mundo dos mortos, onde ainda planeja retornar à sua noiva viva.
      Desenvolvendo-se com um ritmo empolgante, devido aos seus poucos 77 minutos de duração, o filme mantém o espectador inserido naquele fantasioso mundo de caveiras, cadáveres, aranhas falantes e minhocas que moram no cérebro. Burton nos apresenta um universo rico em detalhes e formas. Cada personagem tem fica marcado por sua característica física distinta, algo bastante evidenciado pelo contraste entre os pais de Victoria: enquanto sua mãe é alta e esguia, seu pai é baixo e arredondado. Já a Noiva-Cadáver é talvez a personagem mais rica visualmente. Mesmo com o corpo em decomposição, ela consegue ser bela e meiga, o que é realçado pelas suas feições brilhantemente construídas. Sempre é possível perceber quando ela está irritada, ou triste, ou feliz, graças às suas expressões cuidadosamente desenhadas. Ponto para a técnica de stop-motion empregada pelo diretor, que de tão fluida e bem feita, em alguns momentos pensamos estar assistindo a uma animação feita por computador.
      Victor tem sua constituição física bem parecida com a de seu dublador, Johnny Depp. Esguio, pálido, de cabelos negros e olhos profundos, é mais um personagem feito sob medida para o ator, algo não muito raro de acontecer. Depp já protagonizou dezenas de filmes de Burton, assim como a esposa do diretor, Helena Bonham-Carter, que aqui interpreta a Noiva-Cadáver. Após esse, a parceria Depp-Burton-Helena já rendeu "Sweeney-Todd",  "Alice no País das Maravilhas" e mais recentemente "Sombras da Noite".
      O filme é visualmente belíssimo, algo recorrente na filmografia do diretor. O mundo real e o mundo dos mortos são perfeitamente divididos por seu visual. Enquanto o preto-e-branco predomina no mundo dos vivos, trazendo uma atmosfera fria e sem vida, o mundo dos mortos traz uma energia e uma riqueza de cores impressionante, sendo justamente o que dá personalidade ao longa. As cenas que se passam no mundo real são apáticas, indiferentes, acentuando ainda mais o contraste entre os dois mundos.
      Apresentando uma surpresa após a outra no que tange à inventividade dos personagens do mundo dos mortos, a cada momento somos apresentados a sacadas brilhantes, como a empolgante banda de esqueletos, os cadáveres decompostos tomando drinques ou até mesmo um anão que tem uma espada atravessada em seu corpo, sendo esse último utilizado por Victor para se defender num dos momentos mais inspirados do longa. Todo o humor presente é bem amarrado à história, criando cenas hilárias desde o começo, quando o protagonista tenta por várias vezes acender a vela que segurava.
      Mas apesar de toda a estética impressionante e a personalidade já citadas, "A Noiva-Cadáver" padece de um mal cada vez mais comum: o final politicamente correto. (Só leia a partir daqui se já tiver assistido ao filme, para não estragar nenhuma surpresa) Mesmo tendo Victor passado mais tempo de projeção com Emily, e o longa tendo nos feito nos afeiçoar mais à personagem da Noiva-Cadáver, o diretor decide por manter Victor preso ao mundo dos vivos, ficando assim com Victoria e vendo Emily se desfazer em centenas de borboletas, após ter sido "liberta". Uma bela cena, mas que só serve para confundir a narrativa e diminuí-la em seu principal momento.
      Mas esses pequenos detalhes não estragam esse belo filme. Por todo o conjunto, "A Noiva-Cadáver" merece créditos pela coragem de mostrar personagens visualmente assustadores em uma animação. Por sua estética impecável e pela trama bem construída e conduzida, além do bom humor presente do início ao fim, o longa é uma agradável e emocionante história de amor.




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