terça-feira, 13 de novembro de 2012

Opinião: "Tubarão"


Avaliação:

Título original: Jaws 
Gênero: Terror, suspense
Ano de lançamento: 1975
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Rob Scheider
             Robert Shaw
             Richard Dreyfuss
             Murray Hamilton

      "Contatos Imediatos de Terceiro Grau"; "E.T., o Extraterrestre"; "Indiana Jones"; "Jurassic Park"; "A Lista de Schindler"; "Amistad"; "O Resgate do Soldado Ryan"; "A.I. - Inteligência Artificial"; "Minority Report"; "Guerra dos Mundos". O que esses filmes de grande sucesso de público e crítica têm em comum? Todos eles foram dirigidos por uma das mentes mais brilhantes de Hollywood: Steven Spielberg, o diretor que tem mais filmes entre os 100 maiores sucessos de bilheteria da história. Mas talvez nenhuma das obras citadas acima teria existido se não fosse a primeira obra de sucesso de Spielberg: "Tubarão", de 1978, o longa responsável por abrir de vez as portas de Hollywood para um até então diretor desconhecido de apenas 27 anos, dono de uma mente cheia de ideias geniais.
      "Tubarão" não foi o filme de estreia de Spielberg, mas foi seu primeiro grande sucesso comercial, e é considerado o pai dos blockbusters, filmes arrasa-quarteirões que faturam milhões de dólares nas bilheterias. No filme, a cidade de Amity vive basicamente do turismo, por ser situada no litoral. O problema começa quando o corpo de uma garota é encontrado na praia com sinais de ataque de tubarão. O prefeito Larry Vaugh (Murray Hamilton) decide então omitir o caso da população para não afastar turistas e prejudicar o comércio, para desespero do chefe de polícia Martin Brody (Rob Scheider), que pretende bloquear as praias e alertar a população sobre o perigo iminente até que o tubarão seja capturado. Ele tem o apoio de Matt Hooper (Richard Dreyfuss), um competente oceanógrafo empenhado na mesma causa do xerife.
      Martin então decide ir à praia, não para se divertir, mas para tentar proteger de alguma maneira os turistas e sua própria família. Até que ocorre um novo ataque de tubarão, dessa vez à vista de todos, causando pânico na população. O prefeito se vê então na obrigação de caçar o predador, oferecendo uma recompensa para quem consiga capturá-lo. É aí que surge Quint (Robert Shaw), um bruto caçador de tubarões que pede uma quantia exorbitante para executar a tarefa. Inicialmente contrariado, o prefeito Larry aceita a proposta de Quint, que parte acompanhado de Martin e Matt na caçada.
      O primeiro ato serve para conhecermos Amity, sua dependência do turismo, seu ar de cidade interiorana. No segundo ato passamos a conhecer o vilão da história, sua força, a feracidade de seus atos. A atmosfera de tensão é construída gradativamente, prendendo o espectador cada vez mais na história. O que contribui com isso é o fato de o tubarão em si simplesmente não aparecer nas primeiras cenas, sendo apenas a sugestão de sua presença o suficiente para causar medo e apreensão. Azar que virou sorte, já que nas primeiras cenas o tubarão mecânico usado pela produção não funcionava corretamente, o que fez com que o diretor só fosse capaz de nos apresentar a ele a partir da metade do segundo ato.
      Spielberg conduz o filme magistralmente. Impecável nas cenas mais impactantes, o diretor cria um clima assustador, mesmo que a maioria das cenas se passe com dias ensolarados. É a sugestividade de um inimigo até certo ponto invisível, mas terrivelmente fatal. Ele cria planos interessantes, como nas cenas em que vemos como se estivéssemos no lugar do tubarão, acompanhando de baixo o balançar das pernas de uma criança na água. À medida que o predador chega mais próximo de sua vítima, a trilha sonora de John Williams dá um show à parte, aumentando a tensão. Difícil não lembrar da música-tema dos ataques do tubarão, muito parodiada nos anos seguintes e até os dias de hoje.
            Marcando época, o longa faturou três Oscars: trilha sonora, melhor montagem e melhor som. Indicado na categoria de melhor filme, perdeu para "Um Estranho no Ninho". Curiosamente não foi indicado na categoria de melhores efeitos visuais que, para o ano de 1975, são impecáveis. O tubarão mecânico, por exemplo, é perfeito, passando a sensação de realidade, o que torna tudo mais assustador. Uma pena perceber que efeitos mecânicos são cada vez mais raros em Hollywood, já que é muito mais fácil e prático criar uma cena artificial em computador do que criar algo original e mais crível, como faz brilhantemente Christopher Nolan em seus filmes, seja na trilogia "Batman" ou em "A Origem". Se "Tubarão" fosse feito na época atual, por outro diretor, certamente teríamos um animal feito em computador, artificial. Poderia até ser fantástico, muito bem feito, mas dificilmente alcançaria o nível de perfeição de Spielberg.





quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Opinião: "Jogando com Prazer"

Avaliação:

Título original: Spread
Gênero: Comédia, romance
Ano de lançamento: 2009
Direção: David MacKenzie
Elenco: Ashton Kutcher
             Anne Heche
             Margarita Levieva

       Ashton Kutcher é reconhecido geralmente por fazer caras e bocas em seus filmes e mais recentemente na série "Two And a Half Men", a qual passou a protagonizar após a saída de Charlie Sheen. Mas em sua participação em "Jogando com Prazer", fraquíssimo filme de 2009 dirigido por David MacKenzie, ele não se esforça nem para fazer isso. O roteiro conta a história de Nikki (Kutcher), um bon vivant que leva uma vida de luxo concedendo prazer a mulheres ricas de meia-idade em troca de um lugar confortável para morar. Sua vítima da vez é Samantha (Anne Heche), uma rica e solitária advogada. Até que ele conhece Heather (Margarita Levieva), uma bela garçonete que logo se mostra jogar o mesmo jogo de sedução que ele.
      Sem tentar se esforçar em fazer algo diferente do habitual, o diretor David MacKenzie opta por uma condução segura, trilhando por caminhos já percorridos em inúmeras comédias românticas comuns. Mas o diferencial de "Jogando com Prazer" é que, ao contrário da maioria dos filmes do gênero, esse não tem uma história no mínimo envolvente ou engraçada, personagens carismáticos ou um romance plausível. A comédia inicialmente prometida é praticamente esquecida, aparecendo somente em uma cena inspirada, onde Nikki finge estar falando ao telefone quando ele subitamente toca. As cenas de sexo, incomuns para o gênero, após um certo tempo tornam-se cansativas, como se os personagens vivessem apenas para isso.
      A trama é chata, absurdamente lenta. Os 98 minutos de duração parecem uma eternidade. Após um certo período, o filme não tem mais para onde ir, principalmente após o terceiro ato. A personagem de Anne Heche, importante no início, simplesmente some. O fraco roteiro torna os personagens vazios, o que contribui para enfraquecer ainda mais as atuações. Kutcher, como já mencionado, não faz nem suas habituais gracinhas, atuando no piloto automático.
      Pode-se considerar "Jogando com Prazer" um mais um filme descartável na carreira de Ashton Kutcher, com a exceção de que esse não serviu nem para encher ainda mais seus cofres, já que teve uma fraca recepção. Se você tiver tido estômago para assistir ao longa até o final, certamente perderá o apetite após ver o que a última cena o reserva. É algo que encerra com chave de ouro (ou não) essa perda de tempo cinematográfica.



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Opinião: "Resident Evil 4: O Recomeço"

Avaliação:


Título original: Resident Evil: Afterlife
Gênero: Ação, ficção científica
Ano de lançamento: 2010
Direção: Paul W. S. Anderson
Elenco: Milla Jovovich
            Ali Larter
            Boris Kodjoe
            Shawn Roberts


      A franquia "Resident Evil" é livremente adaptada dos games. O primeiro longa da série foi divertido, trazendo perseguições realmente tensas e uma história razoavelmente envolvente. Nos filmes seguintes, no entanto, a qualidade decaiu gradativamente, chegando ao seu pior momento com "Resident Evil 4: O Recomeço".
      Dirigido novamente por Paul W. S. Anderson, o filme começa com os clones de Alice invadindo a sede da Umbrella Corp. em Tóquio. O líder da base, Albert Wesker, escapa, mas não sem antes injetar um soro em Alice, tornando-a uma humana comum novamente. Alice parte então em busca de Arcadia, lugar no Alasca onde estariam os humanos livres da infecção do T-Virus. Ao chegar lá, ela se depara com um lugar abandonado, e parte novamente em busca de sobreviventes, encontrando novos aliados e inimigos pelo caminho.
      O roteiro mais uma vez é um mero pretexto para as cenas de ação. Nenhum personagem é satisfatoriamente desenvolvido. Nem mesmo o reencontro entre dois irmãos carrega alguma emoção. As atuações são nulas, completamente vazias, com os personagens limitando-se a fazer caras feias nas cenas de tiroteio, que por sinal são bastante exaustivas. Em nenhum momento tememos pela vida de qualquer protagonista, já que não chegamos a sentir empatia por nenhum personagem. Isso sem contar a unidimensionalidade do vilão, que simplesmente mata um subordinado ao ser desobedecido.
      A direção de P. W. S. Anderson é problemática, limitada. O diretor contenta-se em criar um novo "Matrix", criando incontáveis cenas em slow motion, o já desgastado bullet time e as roupas pretas da protagonista. Até mesmo a cena em que Trinity pula de uma janela atirando é recriada, mostrando a total falta de criatividade do diretor.
      As cenas de ação são extremamente burocráticas, até cansativas pela repetição. Até mesmo os zumbis, que deveriam ser os principais antagonistas, são deixados de lado, aparecendo pouquíssimas vezes sem criar qualquer ameaça mais consistente. O final aberto deixa espaço para uma nova continuação, lançada em 2012, mas a decepção maior parte do fato que a franquia de jogos é muito mais tensa e interessante do que os filmes de "Resident Evil". A série mais famosa de jogos de terror merecia pelo menos um filme à altura.



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Opinião: "Passe Livre"

Avaliação:

Título original: Hall Pass
Gênero: Comédia
Ano de lançamento: 2011
Direção: Peter Farrelly, Bobby Farrelly
Elenco: Owen Wilson
             Jason Sudeikis
             Jenna Fischer
             Christina Applegate
             Richard Jenkins
      Os irmãos Peter e Bobby Farrelly alcançaram o sucesso dirigindo filmes como "Débi & Lóide" e "Quem Vai Ficar Com Mary". Após um tempo fazendo filmes medianos, os dois voltam à sua melhor forma com a ótima comédia "Passe Livre".
      No filme, Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis) são dois homens de meia-idade, casados, mas que não conseguem conter seus instintos adolescentes de olhar para belas mulheres. Os dois imaginam que se fossem solteiros fariam de tudo, e conseguiriam a mulher que quisessem. Indignadas com as atitudes adolescentes de seus maridos, Maggie (Jenna Fischer) e Grace (Christina Applegate) decidem dar a eles um passe livre, que consiste em uma semana de folga do casamento, sem compromisso algum, para que ambos façam o que quiserem sem nenhum tipo de remorso.
       Assim como em "Débi & Lóide", os diretores apostam no constrangimento de seus protagonistas para fazer rir, como na cena da masturbação de Fred no carro, ou naquela que considero a melhor cena do filme, quando Rick e Fred zombam dos donos da casa que visitavam e de seus convidados sem ao menos imaginar que estavam sendo vistos e ouvidos. Mas se no filme estrelado por Jim Carrey os personagens principais divertiam por serem absolutamente retardados, aqui temos uma dupla mais experiente, com trabalhos fixos e um lar para sustentar, mas igualmente estúpida e hilariante.
       O longa é absurdamente engraçado, provocando gargalhadas do início ao fim. Fred mostra-se completamente sem noção (no bom sentido) ao chegar de carro a um bar e carregar consigo um capacete de motociclista, dizendo que "as gatas adoram motos". Os dois quarentões saem na noite em busca de mulheres, mas o esforço deles é frustrado pela sua total incapacidade de chegar em uma garota, usando de cantadas enferrujadas que parecem ter sido retiradas do programa do Rodrigo Faro, "O Melhor do Brasil", gerando mais momentos hilários.
      Talvez a maior força do filme esteja em usar algumas piadas várias vezes sem parecer forçado, fazendo com que elas tornem-se mais engraçadas a cada vez que são usadas, como as "fotos mentais" tiradas por Fred no início e por Rick perto do fim do filme. Ou quando Fred revela o "truque do sexo oral" em uma mulher para usá-lo mais tarde e causar uma briga na última cena. Outras cenas também merecem destaque, como por exemplo quando os protagonistas, acompanhados de alguns amigos, experimentam brownies preparados com maconha. Mas realmente inesquecíveis são as piadas escatológicas, como quando um personagem diz que tem que ir ao banheiro de casa porque sabe que depois tem que tomar banho, ou quando uma coadjuvante senta-se na banheira fazendo força para vomitar e acaba sujando toda a parede do banheiro após alguns "gases não controlados".
      O que torna os protagonistas tão frustrados e engraçados é o fato de não conseguirem ficar com mulher nenhuma mas mesmo assim sentirem remorso, ao passo que suas esposas curtem a semana de folga sem qualquer arrependimento, o que era a verdadeira premissa do "Passe Livre". Com um elenco inspirado e diretores mais inspirados ainda, o filme é a prova de que Peter e Bobby Farrelly não perderam o jeito das suas melhores comédias.


domingo, 16 de setembro de 2012

Opinião: "Cidadão Kane"

Avaliação:

Título original: Citizen Kane
Gênero: Drama, suspense
Ano de lançamento: 1941
Direção: Orson Welles
Elenco: Orson Welles
             Joseph Cotten
             Dorothy Comingore
             Agnes Moorehead

     É inegável a influência de "Cidadão Kane" no modo como se faz cinema atualmente. Pioneiro em vários aspectos, o longa de 1941 é uma marco na história cinematográfica, sendo considerado pelo American Film Institute como o melhor filme de todos os tempos. Mas o que torna esse filme tão aclamado? Quais os motivos para considerá-lo o melhor de todos?
      O filme começa com o já decrépito Charles Foster Kane (Orson Welles, impecável), dizendo sua última palavra antes de morrer: Rosebud. Em seguida, somos apresentados à vida de Kane em uma reportagem que falava de sua morte e de suas conquistas em vida, como a compra de vários jornais, sua entrada na política, seus dois casamentos frustrados e sua mansão megalomaníaca Xanadu, onde ele tinha um zoológico particular e uma coleção infindável de itens raros de todas as partes do mundo.
      Após essa introdução, tem início uma investigação minuciosa para tentar desvendar o que significava a última palavra proferida por Kane. Personagens importantes na vida de Kane são entrevistados, relatando sua vida, suas vitórias e seus fracassos. Rosebud acaba tornando-se apenas um pretexto para descrever com riqueza de detalhes a vida do magnata precursor da imprensa sensacionalista.
      A grandiosidade de "Cidadão Kane" está em seu principal personagem. Não é Charles Foster Kane, mas sim o ator que o interpreta: Orson Welles, então com 26 anos, que aqui acumula também as funções de roteirista e diretor, executando com maestria todas as três funções. Seu roteiro primoroso foi agraciado com o Oscar de Melhor Roteiro Original. Sua atuação é grandiosa, conferindo veracidade e peso a um personagem tão marcante. É interessante notar as mudanças na personalidade de Kane,que no início é um jovem cheio de energia e planos, mas com o passar do tempo torna-se amargo e distante, algo retratado com maestria por Welles.
      Mas Orson Welles consegue ser mais brilhante ainda na direção do longa. Mostrou estar à frente de seu tempo, influenciando os filmes até hoje. Para se ter uma ideia, "Cidadão Kane" foi o primeiro filme a usar flashbacks para contar sua história. E se comentei que em "A Conquista da Honra" os flashbacks enfraqueciam a narrativa, aqui eles são parte da história, sendo essenciais para o desenvolvimento da trama. Foi também o primeiro filme a ter uma narrativa não-linear, quando o filme começa do final e vai se desenvolvendo com saltos no tempo. Tecnicamente, Orson Welles também foi pioneiro. Seu filme usou planos de filmagem e movimentos de câmera inéditos para a época, influenciando produções até os dias atuais. A maquiagem de Welles é impressionante para a época, retratando com fidelidade cada fase de sua vida e tornando-o irreconhecível com o passar do tempo.
      É uma pena, portanto, que após esse filme tão maravilhoso, Welles não tenha conseguido emplacar nenhum outro sucesso. Tudo isso graças à influência negativa de William Randolph Hearst, magnata das comunicações da época que teria inspirado a história de "Cidadão Kane" e a composição do personagem principal. Vários pontos da vida de Hearst foram trazidos para a tela, como sua mansão megalomaníaca, seu modo sensacionalista de vender notícias, sua influência na política americana e outros detalhes que fazem do filme uma verdadeira biografia não-autorizada do empresário.
      Hearst fez com que várias portas se fechassem a Welles, obrigando o jovem diretor a se ocupar de produções menores. "Cidadão Kane" foi esquecido por muito tempo, até que foi redescoberto há algumas décadas e estudado com cuidado. Suas críticas à imprensa marrom e à influência dos poderosos são temas atemporais, fazendo com que o filme não envelheça. Hearst pode até ter feito com que Welles não tivesse tanto sucesso, mas certamente seu nome só é lembrado por sua associação com o gênio que foi Orson Welles. Se "Cidadão Kane" é o melhor filme de todos os tempos não cabe a mim decidir, graças a Deus, mas é inegavelmente um clássico que deve ser assistido por todos aqueles que amam a Sétima Arte.




sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Opinião: "A Conquista da Honra"

Avaliação:

Título original: Flags of Our Fathers
Gênero: Guerra
Ano de lançamento: 2006
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Ryan Phillippe
            Adam Beach
            Jesse Bradford
            Neal McDonough

       Filmes de guerra dificilmente dão a mesma atenção aos dois lados do combate. Geralmente os americanos são os protagonistas, os heróis responsáveis por livrar o mundo de alguma ameaça, seja ela na Segunda Guerra Mundial, no Vietnã, ou no Afeganistão. Os inimigos são sempre mostrados como genocidas cruéis, ao passo que os soldados dos Estados Unidos são certinhos, incorruptíveis, sempre prezando pela honra e justiça. Clint Eastwood resolveu fazer diferente ao mostrar os dois lados de uma mesma história: a batalha na ilha de Iwo Jima, no Japão, na Segunda Guerra. Mas em vez de fazer um filme ele criou dois, sendo um visto pela ótica dos americanos, "A Conquista da Honra", e outro apreciando o lado japonês da história, "Cartas de Iwo Jima".
      "A Conquista da Honra" é um longa baseado no livro "Flags of Our Fathers", que conta a história de soldados americanos alçados ao posto de heróis nacionais ao terem hasteado a bandeira americana no alto de um monte na ilha de Iwo Jima, dando assim a falsa ideia de que a batalha havia sido vencida. Três dos soldados são trazidos de volta aos Estados Unidos para serem usados na campanha de arrecadação para o fundo de guerra americano. O filme se baseia mais na campanha e nos conflitos internos dos personagens do que nas batalhas propriamente ditas. Mostra o jogo sujo do governo para manipular os verdadeiros fatos, maquiando a verdade para parecer mais bonita aos olhos do público e assim arrecadar mais.
      Os três soldados viajam pelos Estados Unidos como heróis de guerra, pedindo apoio público para o financiamento da guerra. Mas eles sabiam que não haviam feito nada de mais. A bandeira foi hasteada no quinto dia de batalha, sendo que ali ficaram combatendo por mais trinta e cinco dias após o ocorrido. E a bandeira da famosa foto tirada por Joe Rosenthal era a segunda a ser hasteada, já que a primeira havia sido retirada minutos antes. E ambos sabiam também que não eram heróis. Um era mensageiro, o outro era enfermeiro, e o último era apenas um soldado comum, não tendo eles feito nada de mais honroso para merecer tal título.
      O longa traça bem o retrato norte-americano da época na composição do soldado Ira Hayes, vivido por Adam Beach. Ira é descendente direto de indígenas, sendo recriminado por onde passa. A sociedade americana da época tratava os índios como inferiores, não os permitindo sequer entrar em um bar. Adam Beach interpreta Ira competentemente, compondo o personagem mais rico e tridimensional do filme.
      Clint Eastwood demonstra competência na direção do filme. Os planos abertos que trazem os navios perfilados no mar são de tirar o fôlego. As cenas de batalha, ainda que escassas para um filme do gênero, são maravilhosas; são filmadas com o céu nublado, o que confere um ar mais tenso às cenas. O diretor também acerta ao mostrar pouco os soldados japoneses, sendo que os americanos são atingidos sem que vejamos de onde partiu o tiro ou quem o disparou. Eastwood é competente ao preferir mostrar os dramas de cada soldado com o fardo que é obrigado a carregar para o resto da vida em vez das incessantes e sangrentas batalhas.
      Eastwood também não deixa a desejar na técnica do filme. A belíssima fotografia retrata a crueza da guerra, sendo dessaturada, quase sem cor. Os efeitos especiais são extremamente competentes, dando realidade às batalhas.
      É uma pena, portanto, que a narrativa não-linear acabe por comprometer o resultado final. As idas e vindas da história nos permitem descobrir, por exemplo, quem vai morrer e quem não vai, tirando assim o impacto das cenas. Os flashbacks constantes tornam-se cansativos a partir da metade do longa, cortando a ação e o ritmo nos momentos mais frenéticos. O longa também pesa a mão no forçado tom documental da parte final, tentando amarrar o longa inteiro em alguns minutos de explicação.
      Pode-se assim dizer que Clint Eastwood criou um belo filme sobre de guerra e seus efeitos na vida dos que a ela sobreviveram. Mas deve-se ressaltar que ele foi muito mais feliz ao contar o lado japonês da batalha em seu "Cartas de Iwo Jima", mostrando assim que mesmo que se dê atenção aos dois lados da história, um sempre será melhor conduzido do que o outro.



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Opinião: "Amor e Outras Drogas"

 Avaliação:

Título original: Love and Other Drugs
Gênero: Comédia, romance
Ano de lançamento: 2010
Direção: Edward Zwick
Elenco: Jake Gillenhaal
            Anne Hathaway
            Josh Gad
            Oliver Platt
            Hank Azaria

“Amor e Outras Drogas” é uma comédia romântica transformada em drama. O filme de 2010 é dirigido por Edward Zwick, que também assina o roteiro com mais duas pessoas.
      O longa conta a história de Jamie Randall (Jake Gillenhaal), um vendedor de uma loja de eletrônicos com um talento nato para conquistar mulheres. Demitido da loja após ter um caso com a namorada do chefe, Jamie começa a trabalhar como representante de uma gigante indústria farmacêutica, e logo é designado a trabalhar em uma cidade interiorana. Com seu talento para vendas, ele logo passa a acompanhar o trabalho do doutor Knight (Hank Azaria) na tentativa de empurrar seus antidepressivos aos pacientes do médico. A única consulta que acompanhamos com Jamie é a de Maggie (a bela Anne Hathaway), uma jovem com acometida precocemente com o mal de Alzheimer.
      Jamie e Maggie começam a se relacionar, mas a garota não quer nada sério, preferindo limitar-se a encontros sexuais. Ela preferia viver sozinha, sem compromisso, para que ninguém se prendesse a ela devido a sua doença. Jamie inicialmente aceita, mas passado algum tempo ele passa a buscar algo mais duradouro, mesmo que isso signifique deixar de lado a carreira promissora e se dedicar integralmente à namorada.
      O romance entre os dois protagonistas é bem construído, sem soar artificial ou forçado. Há uma química inegável entre os dois. Anne Hathaway emociona nas cenas mais dramáticas, em uma de suas melhores atuações, sendo a melhor coisa do filme. Já Jake Gillenhaal é bastante competente como Jamie, o conquistador inveterado que se apaixona, exceto na cena em que ele diz “Eu te amo” pela primeira vez, completamente forçado. Mesmo assim, o casal foi indicado ao Globo de Ouro daquele ano, reconhecendo assim o trabalho competente de ambos.
      O grande problema de “Amor e Outras Drogas” reside na troca constante de tom da narrativa. No início temos o humor escrachado, carregado de palavrões e nudez exagerada e gratuita. Em seguida acompanhamos o desenrolar do romance, onde se situam os melhores momentos do longa. E ao final há a transição para o drama, quando Maggie passa a ter sintomas mais fortes de sua doença e Jamie parte em busca de tratamentos para a amada. Talvez o diretor tivesse tentado criar uma comédia diferente dos clichês do gênero, mas acabou forçando a mão. Mesmo nas cenas de drama, durante uma separação do casal, o diretor insere o humor exagerado, completamente fora de hora, tirando o impacto e a emoção da narrativa.
      O roteiro é interessante, mas tem suas falhas. É difícil aceitar, por exemplo, que médicos, pacientes e enfermeiras estejam tão maravilhados com o Viagra vendido por Jamie que cheguem a cercá-lo para receberem suas amostras, numa das cenas mais sem sentido. Ficamos sem entender como Maggie se sustenta, sendo que mora sozinha e aparentemente não trabalha, mas é perfeitamente capaz de andar com um maço de notas ao ir a uma consulta com o médico. E parece também que os sintomas da doença são causados pela presença constante de Jamie, já que afloram ainda mais à medida que o relacionamento avança, e simplesmente some ao final, quando Maggie já passou algum tempo longe do namorado.  E como engolir o irmão de Jamie, que mesmo sendo mais rico que seu irmão mais velho, vai morar com ele, sendo um peso desnecessário na narrativa?
      Em contraponto aos defeitos, o drama vivido pela personagem de Hathaway é bem explorado e tocante. Observe por exemplo seu apartamento bagunçado, que denota a instabilidade e inconstância da protagonista, que vive um dia após o outro tendo a arte como ponto de fuga para seus problemas. É emocionante, também, quando Jamie é confrontado com a possibilidade de passar o resto dos dias com Maggie, cuidando de suas necessidades fisiológicas à medida que a doença progride. É comovente perceber o empenho de Jamie na busca por um tratamento, viajando para diferentes hospitais em busca de algo que torne mais suportável a existência de sua companheira.
      Balanceando erros e acertos, “Amor e Outras drogas” é um passatempo interessante, que seria infinitamente melhor se o diretor deixasse de lado as picardias adolescentes e focasse mais tempo no teor emocional de seus personagens.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Opinião: "A Noiva-Cadáver"

Avaliação:

Título Original: Corpse Bride
Gênero: Animação
Ano de lançamento: 2005
Direção: Tim Burton
Elenco (vozes): Johnny Depp 
                        Helena Bonham-Carter
                        Emily Watson
                        Albert Finney
                        Christopher Lee

      Tim Burton é um diretor famoso por explorar o gótico e o estranho em suas obras. São dele os fascinantes "Edward Mãos-de-Tesoura", "O Estranho Mundo de Jack" e "Os Fantasmas se Divertem", só para citar alguns de sua era mais bem-sucedida. E é nesse perfil sombrio mas divertido que se encaixa "A Noiva-Cadáver", ótima animação de 2005 filmada em stop-motion (técnica que utiliza bonecos de "massinha" em vez da computação gráfica).
      Baseado em um conto russo do século XIX, o roteiro conta a história de Victor Van Dort (voz de Johnny Depp), obrigado por seus pais a casar-se com Victoria Everglot (Emily Watson), proveniente de uma família falida a qual só restou o nome. Victor se apaixona por Victoria, mas não consegue declarar seus votos durante o ensaio do casamento. Envergonhado, ele sai pela floresta ensaiando os tais votos, até que põe a aliança em um galho seco que logo se revela ser a mão de Emily, uma Noiva-Cadáver (Helena Bonham-Carter). Agora casado com Emily, Victor é levado ao mundo dos mortos, onde ainda planeja retornar à sua noiva viva.
      Desenvolvendo-se com um ritmo empolgante, devido aos seus poucos 77 minutos de duração, o filme mantém o espectador inserido naquele fantasioso mundo de caveiras, cadáveres, aranhas falantes e minhocas que moram no cérebro. Burton nos apresenta um universo rico em detalhes e formas. Cada personagem tem fica marcado por sua característica física distinta, algo bastante evidenciado pelo contraste entre os pais de Victoria: enquanto sua mãe é alta e esguia, seu pai é baixo e arredondado. Já a Noiva-Cadáver é talvez a personagem mais rica visualmente. Mesmo com o corpo em decomposição, ela consegue ser bela e meiga, o que é realçado pelas suas feições brilhantemente construídas. Sempre é possível perceber quando ela está irritada, ou triste, ou feliz, graças às suas expressões cuidadosamente desenhadas. Ponto para a técnica de stop-motion empregada pelo diretor, que de tão fluida e bem feita, em alguns momentos pensamos estar assistindo a uma animação feita por computador.
      Victor tem sua constituição física bem parecida com a de seu dublador, Johnny Depp. Esguio, pálido, de cabelos negros e olhos profundos, é mais um personagem feito sob medida para o ator, algo não muito raro de acontecer. Depp já protagonizou dezenas de filmes de Burton, assim como a esposa do diretor, Helena Bonham-Carter, que aqui interpreta a Noiva-Cadáver. Após esse, a parceria Depp-Burton-Helena já rendeu "Sweeney-Todd",  "Alice no País das Maravilhas" e mais recentemente "Sombras da Noite".
      O filme é visualmente belíssimo, algo recorrente na filmografia do diretor. O mundo real e o mundo dos mortos são perfeitamente divididos por seu visual. Enquanto o preto-e-branco predomina no mundo dos vivos, trazendo uma atmosfera fria e sem vida, o mundo dos mortos traz uma energia e uma riqueza de cores impressionante, sendo justamente o que dá personalidade ao longa. As cenas que se passam no mundo real são apáticas, indiferentes, acentuando ainda mais o contraste entre os dois mundos.
      Apresentando uma surpresa após a outra no que tange à inventividade dos personagens do mundo dos mortos, a cada momento somos apresentados a sacadas brilhantes, como a empolgante banda de esqueletos, os cadáveres decompostos tomando drinques ou até mesmo um anão que tem uma espada atravessada em seu corpo, sendo esse último utilizado por Victor para se defender num dos momentos mais inspirados do longa. Todo o humor presente é bem amarrado à história, criando cenas hilárias desde o começo, quando o protagonista tenta por várias vezes acender a vela que segurava.
      Mas apesar de toda a estética impressionante e a personalidade já citadas, "A Noiva-Cadáver" padece de um mal cada vez mais comum: o final politicamente correto. (Só leia a partir daqui se já tiver assistido ao filme, para não estragar nenhuma surpresa) Mesmo tendo Victor passado mais tempo de projeção com Emily, e o longa tendo nos feito nos afeiçoar mais à personagem da Noiva-Cadáver, o diretor decide por manter Victor preso ao mundo dos vivos, ficando assim com Victoria e vendo Emily se desfazer em centenas de borboletas, após ter sido "liberta". Uma bela cena, mas que só serve para confundir a narrativa e diminuí-la em seu principal momento.
      Mas esses pequenos detalhes não estragam esse belo filme. Por todo o conjunto, "A Noiva-Cadáver" merece créditos pela coragem de mostrar personagens visualmente assustadores em uma animação. Por sua estética impecável e pela trama bem construída e conduzida, além do bom humor presente do início ao fim, o longa é uma agradável e emocionante história de amor.




segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Opinião: "O Curioso Caso de Benjamin Button"

Avaliação:

Título original: The Curious Case of Benjamin Button
Gênero: Drama, romance
Ano de lançamento: 2008
Direção: David Fincher
Elenco: Brad Pitt
            Kate Blanchett
            Taraji P. Henson
            Julia Ormond

       Como seria sua vida se, em vez de nascer jovem, crescer, se desenvolver, e morrer velho, você fizesse o caminho inverso? Se por acaso você nascesse com corpo de um idoso de 80 anos, e com o passar do tempo, fosse ficando mais jovem? Como seriam seus relacionamentos, seus amores, seus temores? São essas perguntas que movem o belíssimo "O Curioso caso de Benjamin Button", dirigido por David Fincher. O roteiro, escrito por Eric Roth, é uma adaptação livre de um conto de F. Scott Fitzgerald de 1921.
      Benjamin Button nasce em 1918, ao final da Primeira Guerra Mundial, em Nova Orleans, Estados Unidos. Sua mãe morre no parto, e seu pai, imaginando que o bebê fosse um monstro, abandona-o em frente a um asilo. Na verdade, seu problema é ter nascido com aparência de um idoso de 80 anos, juntamente com diversas enfermidades senis, sendo avaliado pelo médico como tendo pouco tempo de vida. Ele é criado por Queenie (Taraji P. Henson), e, ao contrário do que todos esperavam, ele cresce e rejuvenesce a cada ano que passa, intrigando quem convive com ele. Depois de algum tempo, ele conhece Daisy Fuller, que, na versão adulta interpretada por Kate Blanchett, viria a se tornar o grande amor de sua vida.
      Partindo de um conto fantasioso, que poderia gerar um filme vazio, ou até mesmo estranho, o longa torna-se interessante pela reflexão que faz da vida. Button, interpretado por Brad Pitt, é um personagem triste, que ao avaliar sua condição, se dá conta de que verá todos aqueles que ama partirem enquanto ele fica cada vez mais jovem e belo. Isso torna-se um problema ainda maior quando ele avalia seus relacionamentos amorosos, já que para sua companheira o tempo passaria normalmente e ela se tornaria uma mulher de meia-idade e em seguida uma idosa, mas para ele seria peculiarmente doloroso ser um homem de meia-idade e depois um adolescente, para em seguida ser criança.
      Benjamin torna-se marujo de um rebocador, e viaja pelo mundo com seus companheiros, mas sempre enviando cartões postais para Daisy. Nessas viagens ele conhece Elizabeth Abbott (Tilda Swinton), que viria a ser sua primeira grande paixão. Voltando para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, ele fica sabendo que Thomas Button (Jason Flemyng) é seu pai, que, arrependido por tê-lo abandonado, decide deixar toda sua fortuna para Benjamin.
      Os aspectos técnicos do filme são espetaculares, tendo sido agraciados com três Oscars. Os efeitos especiais são impressionantes, com destaque para a composição de um Brad Pitt senil com pouco mais de um metro de altura. A maquiagem é belíssima, criando cuidadosamente a aparência de Benjamin no começo do longa e de Daisy no final, além da mesma na cama do hospital, tornando Kate Blanchett irreconhecível. Outro ponto de destaque é a fotografia, escurecida na infância/velhice de Benjamin e dourada no seu auge físico.
      David Fincher consegue criar um filme belíssimo do ponto de vista técnico sem esquecer de dar a devida atenção à história. O diretor divide bem as fases da vida de Benjamin, sendo um visual escuro no começo, quando ele está debilitado e passa a maior parte do tempo dentro de casa. Até o dia surge escurecido, quase sempre nublado. Assim que ele cresce e sai de casa, percebemos o sol raiar, dando indícios da fase dourada. O mar, onde o personagem vive um bom tempo de sua vida, nunca é ensolarado, surgindo sempre entre nevoeiros, ou neve, ou tempestades. Mas é só no auge do seu vigor físico que vemos longos períodos ensolarados.
      Mas "O Curioso Caso de Benjamin Button" não vive só dos premiados aspectos técnicos. A composição dos personagens também é brilhante. Kate Blanchett cria uma Daisy determinada, apaixonada por balé, com personalidades diferentes a cada fase da vida. Se quando jovem ela é intensa, tagarela, sonhadora, ao chegar a certa idade ela já está mais madura, séria, devido aos desencontros proporcionados pela vida. Brad Pitt encarna o personagem título com segurança. Demonstra felicidade a cada nova descoberta na infância, mas também tristeza e dor a cada perda.
      O que move o longa é o amor entre Benjamin e Daisy. Apaixonados desde cedo, nunca puderam se entregar um ao outro completamente, seja por "diferença" de idade, seja por momentos diferentes da vida. É uma história marcada por desencontros até a metade do filme, quando os dois, no auge de suas vidas, decidem viver juntos o amor guardado por anos. E é por amor a Daisy e à filha que Benjamin decide deixá-las, já que em suas condições de rejuvenescimento não poderia ser um pai que a garota precisava. E é a partir desse instante que a trama até então melancólica torna-se triste. As cartas lidas por Caroline ilustram bem o amor do pai que teve que se afastar da filha, mas que nunca a esqueceu.
      Mesmo que nenhum de nós viva como Benjamin Button, somos capazes de sentir empatia, devido à emoção que a trama nos passa. A história nos prende, sem se tornar cansativa em momento algum, mesmo durando mais de duas horas e meia. Somos envolvidos na história de tal maneira que saímos da sessão cansados, como se tivéssemos vivido anos a fio com cada personagem. Mas o que realmente marca o filme é a mensagem que ele passa e a reflexão que causa no espectador. Somos levados a refletir sobre nossa vida, nossas escolhas, nossos relacionamentos. Somos confrontados várias vezes com a morte, e levados a pensar se damos a devida atenção às pessoas que nos cercam. Tanto que, numa cena no começo, certo personagem diz: "Nós temos que perder as pessoas que amamos. De qual forma mais saberíamos o quão importantes elas são para nós?" Uma perda é sempre um golpe, mas devemos aprender a lidar com elas.
      Também é um filme sobre a beleza da vida, e do quanto é importante ela ser vivida. Assistir ao filme nos faz lembrar de que precisamos ser felizes, precisamos viver. Encerro com outra bela citação do filme, que mesmo dita por um personagem idoso, se encaixaria perfeitamente se imaginássemos nossos defeitos no lugar dos problemas desse senhor: "Sou cego de um olho, não ouço muito bem.. tenho espasmos musculares e tremores continuos, às vezes perco a linha do pensamento... Mas sabe de uma coisa? Deus tem me lembrado sempre da sorte que tenho por estar vivo". E isso basta para tornar "O Curioso Caso de Benjamin Button" inesquecível.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Opinião: "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge"




Avaliação:


Título original: The Dark Knight Rises
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2012
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale
            Tom Hardy
            Michael Cane
            Morgan Freeman
            Anne Hathaway
            Gary Oldman
            Marion Cottilard
            Joseph Gordon-Levitt

      Com "Batman Begins", de 2005, Christopher Nolan conseguiu reerguer uma franquia quase destruída por um patético "Batman & Robin" de 1997. Com "Batman - O Cavaleiro das Trevas", de 2008, o diretor alçou voos mais altos, criando um filme que respeita a inteligência do espectador e elevando o nível das produções de super-herói. Criou-se assim uma nova aura para o Homem-Morcego, elevando a patamares gigantescos a expectativa pelo fim da trilogia. E "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" não decepciona, mostrando-se um filme empolgante, mas ao mesmo tempo maduro e realista, como seus predecessores.
      Oito anos se passaram desde a morte de Harvey Dent e a última aparição de Batman. O herói assumiu a culpa pela morte do promotor público para que o povo de Gotham não perdesse as esperanças naquele que era o símbolo da honestidade da cidade. Bruce Wayne vive agora isolado na ala leste da mansão, sem fazer aparições públicas há anos. Até que ele se depara com um novo mal na cidade: Bane (Tom Hardy), um mercenário perigoso ex-membro da Liga das Sombras que planeja destruir Gotham. Batman então tem que voltar à ativa, mesmo fora de forma, para enfrentar um vilão frio e meticuloso, o completo oposto do seu último inimigo.
      Somos apresentados ainda a novos personagens, responsáveis por dar novo fôlego e uma nova visão à história: Selina Kyle, interpretada por Anne Hathaway, a ladra conhecida nos quadrinhos como a Mulher-Gato; John Blake (Joseph Gordon-Levitt), um esquentadinho membro da polícia, que desempenhará um papel importante na trama; Miranda Tate (Marion Cotillard), a bilionária que planeja investir no projeto de fusão nuclear das empresas Wayne. Ainda temos o brilhante time de veteranos, composto por Alfred (Michael Cane), Gordon (Gary Oldman) e Lucius Fox (Morgan Freeman), que se não têm muito tempo de tela, são responsáveis por momentos marcantes. Principalmente Alfred, que nos entrega as cenas mais emocionantes do longa.
      O roteiro mais uma vez é intrincado, cheio de reviravoltas, bem ao estilo de Nolan, que o escreveu junto com seu irmão, Jonathan. Bruce Wayne está debilitado, com problemas de saúde. Sua empresa chega à falência após o golpe aplicado por Bane, e fica somente com sua casa. Após ser traído por Selina, o limitado Batman cai nas mãos de Bane e tem seu arsenal roubado. Após uma luta crua, sem trilha sonora, o que ressalta a violência e a crueldade do vilão, o Homem-Morcego é abandonado em uma prisão distante, de onde apenas uma pessoa havia conseguido fugir.
      A estética do novo Batman é irretocável. Os cenários e figurinos são compostos o mais sobriamente possíveis, com o mínimo de cor, conferindo verossimilhança ao longa. A fotografia é responsável por mostrar uma Gotham sombria, nublada, quase monocromática, principalmente durante a ausência do herói. Os efeitos especiais são ótimos, ainda mais se considerarmos que o diretor preferiu efeitos mecânicos, fazendo o mínimo possível por meio digital,tornando tudo ainda mais real e impressionante. A cena inicial, com pessoas penduradas em um avião em queda livre, foram filmadas daquela maneira mesmo, sem o uso de computadores ou bonecos digitais. Ponto para o jeito mais correto e bonito de se fazer cinema. Outro destaque é para a trilha sonora brilhante de Hans Zimmer, pontuando acertadamente cada cena e tornando tudo ainda mais épico e emocionante.
      Tom Hardy está ameaçador como Bane. Se nos quadrinhos ele era apenas um ser enlouquecido que usava na máscara um soro para torná-lo mais forte, aqui Nolan o traz para sua abordagem realista, tornando-o um ser que precisa da máscara para injetá-lo morfina constantemente, sendo que do contrário sentiria dores extremas. Se o Coringa era esquizofrênico, ameaçador pelo simples fato de não seguir planos predeterminados, Bane exige uma meticulosidade incrível,seguindo à risca seu projeto de destruição e terror, tomando as rédeas da situação como um ditador tirano e cruel. O diretor acerta ao filmá-lo de baixo para cima, tornando-o ainda mais ameaçador. O trabalho de Tom Hardy como o vilão é simplesmente fantástico. Mesmo não sendo capazes de percebermos suas expressões com a boca, somos impressionados com seu olhar temível e principalmente as inflexões de sua voz, particularmente amedrontadora. Sentimos ali sua dor e principalmente sua raiva, apenas ouvindo sua voz. Quem optar por assistir à versão dublada perderá todo o brilhantismo de seu trabalho, construído por meses.
      Christian Bale mais uma vez está imponente como Batman/Bruce, reforçando o caráter de intérprete definitivo do personagem, ainda que este seja seu último filme. Sua entrega é marcante, demonstrada principalmente no esforço do herói para retomar a vida dupla após anos de inatividade. A emoção demonstrada por ele ao lembrar da amada Rachel é tocante, conferindo mais humanidade a uma pessoa reclusa e isolada como ele. A diferença da voz empregada para Bruce e Batman novamente merece destaque, conferindo personalidades distintas a personas interpretadas pelo mesmo ator.
      Mais uma vez, Christopher Nolan é magnífico na direção. Ainda que não alcance o nível de brilhantismo do longa anterior, o novo filme tem sua própria personalidade. Os diálogos são fortes, profundos. O que não falta ao longa é ritmo e tensão, desde os momentos iniciais até o desfecho emocionante. Ficamos com um nó na garganta a cada reviravolta, e mesmo que não seja tão tenso quanto o anterior, ainda exige demais do psicológico do espectador. O ritmo é quebrado algumas vezes por cenas necessárias, para o público digerir o que acabou de ver e tome fôlego para o que virá a seguir. Mas as cenas mais lentas não são menos importantes, já que sempre acrescentam uma nova nuance ao vilão e aumentam ainda mais a tensão para o confronto final.
      Nolan consegue novamente mostrar o máximo de seu brilhantismo como novo mestre dos blockbusters. Suas cenas de ação são novamente empolgantes, como em todos seus filmes. Mesmo assim a história não é deixada de lado em momento algum, usando a ação como consequência, e não como motivo de tudo. Os planos gerais que mostram Gotham sendo atacada por vários lados são esplêndidos, ressaltando a capacidade do diretor de conceber cenas belas e empolgantes. Mas o melhor é deixado para o final, quando somos apresentados ao verdadeiro propósito de alguns personagens e aos destinos inimagináveis de outros.
      Depois de todo o sucesso alcançado por Christopher Nolan, elevando Batman ao patamar máximo dos super-heróis e dos filmes de ação com conteúdo, certamente a Warner não demorará a anunciar um reboot. Espera-se que o novo diretor respeite a obra intocável do gênio responsável por três filmes brilhantes e insuperáveis.


sábado, 4 de agosto de 2012

Opinião: "Titanic"

Avaliação:

Título original: Titanic
Gênero: Drama, romance
Ano de lançamento: 1997
Direção: James Cameron
Elenco: Leonardo DiCaprio
            Kate Winslet
            Billy Zane
            Kathy Bates
            Bill Paxton 

      Filmes são feitos para serem apreciados. Há filmes que vêm e, se não são esquecidos de imediato, são deixados de lado logo que algo novo é lançado. Ontem se falava de "Transformers"; hoje se fala de "Os Vingadores". Se o sucesso do mês é "O Espetacular Homem-Aranha", no final do mesmo mês ele será jogado para escanteio pelo lançamento de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge". Um filme comum pode até ser agradável, e te entreter por algumas horas, mas somente os clássicos ficam guardados no seu coração. Somente os clássicos são revisitados e emocionam a cada nova visualização. Somente os clássicos têm a capacidade de se tornarem ainda maiores, melhores com o passar do tempo. Não desmerecendo os filmes bons lançados todo ano, mas somente os clássicos podem figurar na lista dos melhores da história. E "Titanic" já nasceu clássico. Épico. Emocionante.
      Quando James Cameron apresentou o projeto de um filme sobre o Titanic, navio naufragado em 1912, os executivos da Fox torceram o nariz. Não acreditavam que um filme com mais de três horas de duração custando mais de duzentos milhões de dólares (mais caro do que a construção do verdadeiro navio) pudesse pelo menos pagar seus custos de produção. O elenco não era estelar, ainda, mas a megalomania do diretor o impelia a construir um navio idêntico ao original, obrigando o estúdio a construir um novo set de filmagens com um tanque gigantesco para abrigá-lo. Vendo os custos de produção aumentarem assustadoramente e temendo o fracasso iminente, os diretores queriam cortar o filme de Cameron para pouco mais de duas horas, para que tivesse mais exibições e não desse prejuízo. Graças à teimosia do diretor e à sua competência, tivemos a honra de conhecer um filme que marcou toda uma geração. Haviam sido feitos cinco filmes sobre o naufrágio, mas nenhum marcou tanto quanto o de James Cameron.
      Durante uma expedição aos destroços do Titanic, a equipe do caçador de tesouros Brock Lovett (Bill Paxton) descobre um cofre com o desenho de uma mulher nua datado de 14 de abril de 1912, o mesmo dia do naufrágio do navio. Uma senhora liga para o capitão dizendo ser Rose Dawson, a moça do desenho, e é convidada a ir ao navio contar sua história. E que história. Logo no começo, Brock pergunta a Rose se ela está pronta para voltar ao Titanic. Essa pergunta deveria ser feita a cada pessoa que decide assistir ao filme. Quem decide por assistí-lo não é apenas um espectador, mas se torna um verdadeiro sobrevivente ao final da projeção. O longa é tão marcante que é difícil não se emocionar com a história de amor durante o naufrágio do maior navio do mundo.
      O RMS Titanic foi construído em Liverpool ao longo de três anos. Foi fabricado para ser inafundável, o maior navio do mundo, o navio que nem Deus poderia afundar, como viria a dizer Cal Hockley (Billy Zane) antes da fatídica viagem inaugural. Ali estava Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet), a moça rica de dezessete anos prometida ao herdeiro de uma fortuna de aço. Ali estava Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), um jovem sonhador e nômade, artista talentoso, que ganhou sua passagem para a viagem com uma mão sortuda no pôquer. Sortuda pelo pôquer, fatídica pelo destino, mas sortuda, sim, pelo amor encontrado ali.
      Rose é uma jovem de família rica, que está noiva de Cal Hockley. O casamento foi arranjado por sua mãe, Ruth (Frances Fischer), para manter o status da família, mas a jovem não quer casar-se, e trata seu noivo com desprezo. Farta dos acontecimentos, e já vislumbrando seu futuro de aparências ao lado de Cal, ela decide tirar sua vida jogando-se do navio. É ali que ela conhece Jack Dawson, o pobre artista feliz que salva sua vida. A salva de uma queda numa água congelante, e a salva de um casamento frustrado e uma vida infeliz. Creio que não devo me prolongar muito no resumo do filme, sendo que possivelmente todo mundo já o tenha assistido pelo menos uma vez.
      James Cameron criou um filme estupendo, de todos os pontos de vista possíveis. A direção de arte do longa é primorosa. Os figurinos são perfeitos, denotando o cuidado da equipe em recriar os trajes da época. A ambientação da época, seja pelos figurinos, objetos de cena ou até mesmo o bar do início do filme, tudo é meticulosamente criado, dando-nos a clara sensação de estarmos realmente em 1912. O mesmo pode se dizer de todos os cenários, onde a riqueza dos detalhes é imensa. Seja no restaurante da primeira classe, ou na escadaria do hall, ou no belíssimo convés, nada foi colocado por acaso no cenário, construído cuidadosamente para dar mais veracidade e capacidade de imersão à trama.
      A fotografia, como todos os outros aspectos técnicos, merece destaque. Destaca bem a diferença entre as classes, tão gritante na época. Se na primeira classe temos um tom dourado, brilhante, ressaltando a riqueza e o requinte do local, na terceira classe o tom fosco, branco, quase monocromático, dita a vida pobre e sem luxos dos passageiros. A noite fria também não passa desapercebida, realçando as baixas temperaturas com tons azulados. A sala de máquinas também é um ponto interessante, evidenciando o calor e o abafamento sofridos pelos trabalhadores.
      O que dizer dos efeitos especiais de "Titanic"? Basta dizer que são espetaculares, inacreditáveis, fantásticos? Não. Os efeitos especiais, sejam visuais ou sonoros, são um espetáculo à parte. Como já dito anteriormente, o navio não foi construído digitalmente, mas sim feita uma réplica em tamanho real. Os detalhes da destruição do transatlântico são de deixar qualquer um boquiaberto. Desde o choque com o iceberg, passando pelas inundações causadas pela entrada da água, até o naufrágio em si, tudo é espetacularmente real, imergindo o espectador ainda mais na história. Mesmo tendo se passado tantos anos, os efeitos visuais não se tornaram ultrapassados, engrandecendo ainda mais a obra.
      Mas "Titanic" não teria sido o sucesso que foi se não fosse sua história. Arriscando em criar uma história de amor fictícia em um acontecimento real, James Cameron acerta ao focar no amor proibido entre Rose e Jack, usando o naufrágio como plano de fundo. Em vez de criar um filme tragédia como tantos que existem, ele preferiu filmar uma espécie de "Romeu e Julieta" durante o naufrágio mais famoso de todos os tempos.Cameron cria uma narrativa envolvente, e por mais que o longa tenha mais de três horas de duração, nunca torna-se cansativo. A história nos envolve surpreendentemente, não por ter sido real, mas pela maneira profunda e intensa que nos é apresentada.
      As atuações são emocionantes. Kate Winslet está maravilhosa como Rose, decidida a enfrentar seu noivo e sua mãe para viver o romance com Jack, tendo sido indicada ao Oscar pelo papel. Leonardo DiCaprio nos entrega um Jack seguro, desempenhando bem o papel do jovem sonhador sem destino. É de Jack uma das frases mais tocantes de Titanic, sobre como viver sem ter destino: "Eu tenho tudo que preciso aqui comigo. Eu tenho ar em meus pulmões, algumas folhas de papel em branco. Quero dizer, eu adoro acordar de manhã sem saber o que vai acontecer ou, quem eu vou conhecer, onde eu vou acabar."
      Ao final, não tem como não se emocionar com "Titanic". Imaginar que a vida de milhares de inocentes foi ceifada por uma tragédia evitável é horrível. Se nem Deus poderia afundar o navio, os homens que o construíram conseguiram isso sozinhos, levando consigo pessoas importantes e pessoas humildes. A divisão de classe não existe mais, uma vez que na luta pela sobrevivência todos são igualmente humanos.
      James Cameron conseguiu. Pagou os custos de produção, e tornou seu "Titanic" a maior bilheteria de todos os tempos, que só seria superada doze anos depois, por ele mesmo com "Avatar". James Cameron conseguiu. Criou um romance emocionante onde só havia tragédia e dor, por mais que o desenrolar da história não tenha sido tão diferente. James Cameron conseguiu. Emocionou o mundo com seu clássico. Mesmo quinze anos depois, com o lançamento em 3D, ainda houve quem chorasse copiosamente ao final da exibição. Então, ao pensar em assistir novamente a esse filme histórico, faça a si mesmo a seguinte pergunta: Você está pronto para voltar ao Titanic?



segunda-feira, 30 de julho de 2012

Opinião: "Conan, o Bárbaro"

Avaliação:

Título original: Conan the Barbarian
Gênero: Ação, aventura
Ano de lançamento: 2011
Direção: Marcus Nispel
Elenco: Jason Momoa
            Rose McGowan
            Rachel Nichols
            Stephen Lang
            Ron Perlman

      Baseado na obra literária de Robert E. Howard, o personagem Conan foi adaptado ao cinema em 1982, com um filme estrelado por um até então desconhecido Arnold Schwarzenegger. O longa teve um relativo sucesso, arrecadando o triplo de seus custos de produção e gerando uma continuação no ano seguinte. Depois disso, nunca mais se ouviu falar no bárbaro cimério sem camisa que destruía meio mundo com uma espada. Até 2011, quando foi lançado o remake "Conan, o Bárbaro", estrelado por Jason Momoa.
      O longa já começa em uma batalha. Ali nasce Conan, com o parto sendo feito por seu pai Corin (Ron Perlman), e sua mãe morrendo logo em seguida. O garoto é criado pelo pai, líder da aldeia e mentor de seus treinamentos para se tornar um guerreiro. É aí que aparece Khalar Zym (Stephen Lang), que quer juntar peças de uma máscara que pode lhe dar poder absoluto para que ele possa ressuscitar sua esposa. Corin, que detém uma das peças, resiste a entregá-la a Khalar Zym, sendo assassinado após uma terrível tortura. Conan foge e passa a viver como um guerreiro solitário, em busca de vingança contra o assassino de seu pai.
      Marcus Nispel é "especialista" em refilmagens. São dele os remakes de "O Massacre da Serra Elétrica" (2003) e "Sexta-Feira 13" (2009). Em "Conan", Nispel entrega uma obra irregular, com violência gratuita e uma roteiro nulo, quase inexistente. O fiapo de história é um pretexto para batalhas intermináveis que permeiam toda a duração do filme, o que torna a experiência cansativa. Os diálogos fraquíssimos entregam a fragilidade da película, anulando qualquer possibilidade de conflito psicológico ou o mínimo que seja de tridimensionalidade dos personagens. Tudo é muito estereotipado: temos o guerreiro incansável, a mocinha indefesa, o vilão que quer dominar o mundo.
      A direção de Marcus Nispel é confusa. Tenta criar uma atmosfera épica, nunca convencendo como tal. O começo é até promissor, quando somos apresentados ao jovem Conan em seu treinamento na neve, mas em seguida se perde ao adotar um tom genérico de ação. As cenas são mal filmadas, variando do absurdo ao bizarro. Desde o parto no meio da guerra até as intermináveis lutas do imbatível personagem-título, tudo é muito exagerado, tornando-se cansativo do meio do filme em diante. É absurdo como Conan consegue fazer jorrar sangue de praticamente todos seus inimigos, até mesmo daqueles que usam pesadas armaduras ou que caem de costas em uma pedra.
      A condução da história também é decepcionante. A falta de ritmo é gritante, comprometendo a condução da história. "Conan" não consegue se salvar nem mesmo no básico, suas cenas de ação, que são fracas e confusas. Dificilmente o herói é realmente ameaçado por seus adversários, por mais que estejam em maioria ou utilizem mais armas que ele. O romance entre Conan e Tamara é completamente descartável, podendo ser excluído da trama sem comprometê-la mais ainda. Mas o que mais decepciona é a condução dos personagens. Nunca tememos pelo destino deles, já que não conseguem nos passar emoção, surgindo completamente unidimensionais.
      Tecnicamente falando, pouco se salva do novo Conan. Adotando uma estética suja, a fotografia cria um tom com poucas cores. Alguns cenários são bem compostos, exceto os que denunciam o uso de tela verde, soando completamente artificiais. Os efeitos especiais são ruins, assim como a direção de arte. Tudo parece ter sido tirado das séries de Hércules e Xena. A trilha sonora é chata, tornando-se esquecível momentos após a projeção.
      As atuações são outro ponto negativo do longa. Jason Momoa não convence como o guerreiro cimério, criando trejeitos difíceis de engolir, como o olhar de baixo para cima e a voz forçadamente rouca. Stephen Lang pouco faz como Khalar Zym, praticamente repetindo suas várias atuações como vilão, sem conseguir soar no mínimo ameaçador ao herói. Rachel Nichols surge praticamente dispensável como o interesse romântico de Conan, entregando uma atuação razoável, praticamente no piloto automático. Já Rose McGowan cria Marique, a filha bruxa de Khalar Zym, como uma personagem exagerada, com maneirismos absurdos e inverossímeis.
      Aliando (d)efeitos especiais fracos e direção confusa, "Conan, o Bárbaro" não convence como filme de ação, muito menos como filme épico. Poderia muito bem ter sido lançado diretamente em dvd, poupando os espectadores de pagarem mais caro perderem seu tempo assistindo no cinema. Mais um pro hall dos esquecíveis.